1ª colônia italiana no Paraná: Alexandra completa 151 anos de fundação


Por Luiza Rampelotti Publicado 14/02/2022 Atualizado 17/02/2024

Nesta segunda-feira (14) é comemorado o aniversário de 151 anos de fundação do distrito de Alexandra, em Paranaguá. Mais de um século e meio se passaram, porém, ainda hoje, a pacata vila conserva uma característica típica de colônia.

É que Alexandra foi a 1ª colônia italiana do Paraná, colonizada por Sabino Tripoti que assinou, junto ao governo Imperial do Brasil, em 14 de fevereiro de 1872, o contrato de compra da área da terra. A partir daquele dia, a região recebeu o nome de Colônia Alessandra, e somente em 1877 passou a se chamar Colônia Alexandra.

Embora nos últimos anos a população tenha crescido, o clima hospitaleiro se mantém no local, já que todos se conhecem. É o que conta o administrador regional do distrito, Nilson Albini Gonçalves. “O fluxo de moradores cresceu muito nos últimos anos. Hoje, com certeza, temos mais de 100 famílias residindo na região”, diz.

Ele destaca que a localidade é composta por um “povo muito acolhedor, pessoas simples que conhecem umas as outras, que ajudam no que podem”. Nilson está à frente da Administração Regional Municipal de Alexandra há cerca de um ano e destaca a importância de comemorar as datas especiais para a região.

Portal de identificação em Alexandra. Foto: Pedro Cláudio Pereira Albini

É uma data muito importante para nós, um momento para refletirmos sobre o quanto o lugar cresceu e o quanto avançamos em questões sociais. Porém, ainda temos muito o que progredir, especialmente no que diz respeito à infraestrutura e empregos”, afirma.

Bairro afastado de Paranaguá

Nilson também comenta sobre as belezas naturais: “Somos um povo muito acolhedor, o que torna a região muito tranquila para se morar, não deixando nada a desejar se comparado aos centros maiores, por exemplo. Morando aqui, ganhamos qualidade de vida e saúde, devido ao contato com a natureza, com as paisagens belíssimas que temos, isso é recompensador”.

Hoje, Alexandra é tratada como um bairro afastado de Paranaguá, a 16 quilômetros do centro da cidade. Mas, para a maioria dos serviços, os moradores não precisam sair dele.

A região conta com escolas, postos de saúde, mercados, farmácias, entre outros. Tudo se reúne em torno da antiga Estação Ferroviária, cartão postal e tombada pela Coordenadoria do Patrimônio Cultural do Paraná.

Alexandra 151 anos
Estação Ferroviária de Alexandra, em épocas antigas. Foto: Reprodução
Colônia para abrigar ferroviários

A ferrovia de 110 quilômetros da linha Curitiba-Paranaguá, que liga a capital do Estado ao Litoral, inaugurada em 1885, foi construída sob o suor e sangue de trabalhadores ferroviários. O distrito surgiu para abrigar esses operários.

O historiador e pesquisador Kallil Assad conta a história do nascimento do lugar: “O distrito nasceu em virtude da construção da ferrovia Curitiba-Paranaguá, entre 1880 e 1885. Era uma colônia eminentemente de italianos que surgiu pela necessidade da ferrovia, e é considerada a primeira colônia italiana do Paraná. O cemitério, por exemplo, foi muito usado para enterrar aqueles ferroviários que morriam, muitos de malária, de picadas de cobra, até porque estavam desbravando uma mata virgem. O distrito tem uma importância histórica no contexto da construção desta linha ferroviária”, diz. 

Vereador Bisson reside em Alexandra. Foto: Reprodução

Atualmente, as casas de ferroviários ainda existem, algumas ocupadas por ex-ferroviários, outras por pessoas comuns que adquiriram os imóveis após a privatização da Rede Ferroviária Federal. Outras, ainda, tombadas pela União como patrimônio histórico.

O vereador de Paranaguá, Oséias Bisson (Podemos), mora na região e celebra a fundação da localidade. “Alexandra tem muita importância para mim, é o local onde nossa família escolheu para residir. Me orgulho pelas pessoas que vivem no distrito, povo que contribui para o crescimento e desenvolvimento do lugar. Lembrar essa data é uma homenagem àqueles primeiros colonos que trabalharam e acreditaram no melhor dessa terra”, diz.

Ele comenta que tem trabalhado com empenho no Legislativo para buscar melhorias para a localidade. “Estou buscando a pavimentação, restauração da Estação Ferroviária, portal de identificação da 1ª colônia italiana, entre outras melhorias que já vem acontecendo”, conclui.

“Temos que ser mais unidos”, diz morador

O morador Pedro Cláudio Pereira Albini, de 60 anos, pensa diferente do administrador regional, Nilson Gonçalves. Para ele, os moradores precisam ser mais unidos para conquistar melhorias.

Nosso lugar poderia ser muito melhor se não fôssemos desunidos. Para comemorar esses 151 anos, eu peço que os moradores daqui sejam mais unidos e, assim, com certeza, vamos conquistar muito mais para o nosso bairro. Aquela união que existia na época dos primeiros imigrantes, hoje não vemos mais”, lamenta.

Pedro Albini mora em Alexandra desde o seu nascimento, acompanhou a expansão populacional do bairro e, ainda, é um dos poucos moradores a ter um título de propriedade de sua casa. O documento foi recebido pelo seu bisavô, Albino Joseph, das mãos do próprio governador do Paraná, Santos Andrade, em 22 de outubro de 1896.

O bisavô recebeu a Carta de Sesmaria, um título de propriedade passado para os imigrantes que chegaram. São poucas pessoas com esse documento, eram 20 lotes e o nosso foi o 12º”, conta.

Ele também conta que morar no local já foi melhor. “O único lazer aqui é o Meu Campinho, um campo de futebol e um parque que foi inaugurado recentemente. Então os jovens acabaram se entregando às drogas e, com isso, começou a acontecer muitos roubos. Eu mesmo já fui roubado 12 vezes, precisamos de mais segurança, infraestrutura e lazer para a molecada”, conta.