Delator da Carne Fraca dirá que esquema beneficiou todos os deputados federais do PMDB-PR


Por Redação JB Litoral Publicado 14/09/2017 às 13h00 Atualizado 14/02/2024 às 22h16

Rafael Martins/UOL

Em busca de um acordo de delação premiada, o ex-superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná Daniel Gonçalves Filho disse à PGR (Procuradoria-Geral da República) que o esquema de corrupção investigado pela Operação Carne Fraca abasteceu campanhas eleitorais dos deputados federais Osmar Serraglio, Hermes Parcianello, João Arruda e Sergio Souza, todos do PMDB. Eles negam ter cometido alguma irregularidade.

Os quatro assinam um documento, datado de abril de 2015, em que pedem à então ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB-TO), que nomeie Gonçalves Filho para a superintendência.

O pedido foi atendido, e o homem que é apontado pelo juiz federal Marcos Josegrei da Silva, responsável pelos processos da Carne Fraca, como “líder e principal articulador do bando criminoso”, voltou em junho daquele ano ao cargo que já ocupara entre 2007 e 2014.

Serraglio, Parcianello, Arruda e Souza compõem toda a bancada do PMDB paranaense na Câmara. Rodrigo da Rocha Loures, suplente de deputado que herdou um assento quando Serraglio foi ministro da Justiça e hoje cumpre restrições judiciais por conta da delação de executivos da JBS, não é citado na proposta de delação de Gonçalves Filho.

Desencadeada em março, a Operação Carne Fraca foi apresentada pela PF (Polícia Federal) como a maior investigação de sua história. Trata-se de uma investigação de corrupção de fiscais agropecuários que atuam em frigoríficos, atingindo inclusive empresas de grande porte como JBS e BRF.

Na decisão judicial que autorizou a operação, o juiz Marcos Josegrei da Silva cita transcrição de conversa telefônica em que Osmar Serraglio, ex-ministro da Justiça de Temer, chama Gonçalves Filho de “grande chefe” . Para o magistrado –que, na decisão, registrou não haver à época indícios de crime pelo político–, o ex-superintendente, agora candidato a delator, é o “líder e principal articulador do bando criminoso” investigado pela Carne Fraca.

Visitas da PGR

Preso na carceragem da PF em Curitiba desde o início da Carne Fraca, em meados de março, Gonçalves Filho recebe visitas mensais de um procurador enviado de Brasília por Rodrigo Janot para tratar da proposta de colaboração com a Justiça. Isso ocorre porque há políticos com foro privilegiado entre os alvos da delação.

O UOL apurou que Gonçalves Filho entregou à PGR documentos que embasam as acusações que faz contra os quatro deputados federais.

Um ex-deputado, Moacir Micheletto (PMDB-PR), morto num acidente de carro em 2012, também é mencionado na colaboração –e pelo mesmo motivo.

Em comum, Serraglio, Souza e Parcianello –mais conhecido, no Paraná, pelo apelido de “Frangão”, que adotou– têm, além do partido e da origem, o fato de pertencerem à bancada ruralista. Souza, que foi suplente da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, no Senado –assumindo a cadeira quando ela foi ministra de Dilma Rousseff–, é o atual presidente da Comissão de Agricultura da Câmara. Micheletto também era ativo defensor do agronegócio em Brasília. João Arruda, que não tem ligações óbvias com o ruralismo, é sobrinho do senador e ex-governador Roberto Requião.

A proposta de delação de Gonçalves Filho está avançada. O acordo com a PGR deve ser assinado nos próximos dias. Em seguida, será encaminhado ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Lá, o relator da Carne Fraca na corte, o ministro Dias Toffoli, será o responsável por homologá-la. A defesa do ex-superintendente é comandada pelo advogado Adriano Bretas, que também é responsável pela delação do ex-ministro Antonio Palocci.

 

Daniel Gonçalves Filho, do Ministério da Agricultura. Foto: José Gomercindo / AENotícias

Quem é o delator

Daniel Gonçalves Filho foi, por quase dez anos, o homem forte do Ministério da Agricultura no Paraná –e, assim, da fiscalização sanitária federal no Estado que é o maior produtor e exportador brasileiro de frangos e o terceiro de suínos.

Na operação Carne Fraca, o MPF (Ministério Público Federal) o acusa de crimes como organização criminosa, corrupção passiva privilegiada, prevaricação (agir contra sua função para para satisfazer interesse pessoal), concussão (exigir vantagem indevida) e violação de sigilo profissional.

Para o MPF, as investigações mostraram que “o esquema no Paraná era comandado por Daniel Gonçalves Filho e pela chefe do Setor de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sipoa/PR), Maria do Rocio Nascimento, que trabalhavam em Curitiba”. “Outros fiscais agropecuários participavam das irregularidades e mantinham contato direto com a dupla que liderava a quadrilha. Da mesma forma, representantes das empresas envolvidas atuavam de tal forma a manter o funcionamento do esquema criminoso.”

Quando a operação foi deflagrada, veio à tona uma conversa telefônica em que Serraglio chama Gonçalves Filho de “grande chefe”.

 

Fonte: Bem Paraná