Debate em Matinhos é marcado por ataques entre candidatos, tensão e presença da Polícia Militar
Na noite da última terça-feira (10), a Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Campus Litoral foi palco de debate entre candidatos que disputam uma cadeira na Prefeitura de Matinhos. Organizado pela Band Litoral e JB Litoral, com apoio de outros veículos de comunicação locais, o evento reuniu cinco oponentes, sendo o atual prefeito, José Carlos do Espírito Santo (PSDB), o Zé da Ecler, Eduardo Dalmora (PL), Clécio Vidal (PP), Kássia Mulher do Juiz (NOVO) e Rodrigo Gregório (PODE). Smaragda do Litoral (CIDADANIA) não participou devido ao indeferimento de sua candidatura, em primeira instância, como explicou em nota enviada à imprensa. A posição dos concorrentes no estúdio foi definida por sorteio e a mediação ficou a cargo da jornalista Maisy Pires.
O debate foi dividido em três blocos. No primeiro, cada candidato teve um minuto para se apresentar e responder à pergunta inicial: Por que o eleitor de Matinhos merece o seu voto? Zé da Ecler argumentou que a continuidade de seu trabalho traria progresso à cidade. “Votando no Zé da Ecler, vocês vão estar votando na liberdade, no amor e no progresso”.
Já Eduardo Dalmora enfatizou a necessidade de ajuda do Governo Estadual para enfrentar as enchentes frequentes. “Precisamos do Governo do Estado para nos ajudar. E também do voto dos matinhenses”.
Clécio Vidal reforçou sua experiência administrativa, afirmando que se preparou “por três anos para transformar a vida dos matinhenses”. Kássia Mulher do Juiz destacou seu compromisso com uma nova política, que definiu como “livre de vícios, perseguições e favorecimento”. Por fim, Rodrigo Gregório disse estar preparado para assumir a Prefeitura. “Passei oito anos estudando o que é lei, regimento interno e lei orgânica. Estou bem preparado para fazer a transformação nesta cidade”.
Perguntas e respostas
Após as apresentações, foi iniciada a primeira rodada de perguntas e respostas entre os participantes, que seguiu a ordem dos púlpitos. Cada candidato fez uma pergunta e respondeu quando questionado. O formato foi mantido nos dois últimos blocos, com sorteio prévio que determinou quem iniciaria as rodadas.
Cada etapa durou 3 minutos e 30 segundos, divididos da seguinte forma: 30 segundos para a pergunta, 1 minuto e 30 segundos para a resposta, 1 minuto para a réplica e 30 segundos para a tréplica. A contagem do tempo foi de forma regressiva e informada aos candidatos. Além disso – caso se sentissem ofendidos – os oponentes podiam recorrer ao Departamento Jurídico, solicitando direito de resposta de 1 minuto.
Discussão acalorada
Entre os temas discutidos, estavam educação, saúde, transporte, infraestrutura e segurança. Ao longo do debate, as discussões esquentaram, já no início, quando Rodrigo Gregório – que também é vereador – acusou Zé da Ecler de não garantir transporte adequado para os estudantes e de precarizar as escolas. Rodrigo é filho do ex-prefeito de Matinhos, Francisco Carlim dos Santos, o Xiquinho. Isso fez com que o atual prefeito rebatesse duramente a colocação de Gregório, mencionando a gestão de seu pai e alegando que sua administração fez mais pela educação do que a anterior.
“Na verdade, o que gastamos com educação foi bem mais do que o seu pai gastou em 12 anos. Inclusive, ele teve que devolver esse dinheiro. Nós colocamos ônibus gratuitos para todas as pessoas, inclusive para os alunos. Temos merenda de qualidade, coisa que no tempo do seu pai não tinha. Fizemos uniforme de qualidade. Inclusive, o senhor não pode reclamar muito de escola pública, porque nunca estudou em uma. Por falar nisso, nós aumentamos o salário dos professores. Hoje não tem mais educador reclamando ou fazendo greve, porque agora tem salário digno, não salário de fome que o seu pai deixou”, retrucou Zé da Ecler.
Durante a réplica, Gregório destacou o despreparo do atual prefeito de Matinhos. Ele disse, também, que Zé da Ecler foi eleito com a ajuda de sua família. “Peço desculpas pelo despreparo do prefeito. Ele vem ofender a minha família. Estou aqui com o número do meu pai, se você quiser dar uma ligadinha. Na última eleição, o meu pai era bom, agora não é mais. Com o apoio da nossa família, o senhor ganhou a eleição. Olha a vergonha que está o nosso transporte escolar. Ônibus sem janelas e estudantes sem ir para a faculdade porque não tem ônibus. As nossas escolas estão precárias, malcuidadas. Essa é a realidade”, respondeu Rodrigo.
E os estranhamentos não pararam por aí. Durante uma pergunta, desta vez direcionada ao candidato Eduardo Dalmora, Zé da Ecler disse que o seu adversário mentiu ao falar que a sua gestão estaria dando arroz com ovo para as crianças como merenda. Após o seu direito de fala, Dalmora disse que a informação é verdadeira, comparando o atual cenário da educação com os seus antigos mandatos.
“Você mesmo falou que na segunda-feira tem arroz com ovo. Então, veja bem, eu não menti. No meu tempo, na educação, tínhamos o tempo integral e o contraturno escolar. As crianças comiam carne, fruta e verdura. Eles tinham de tudo na educação. O que percebemos hoje é que realmente a nossa educação caiu muito”, afirmou Eduardo Dalmora, que foi chefe do Executivo nas gestões 2009/2012 e 2013/2016.
PM acionada
Embora o debate já tivesse sido marcado por provocações e ataques, o clima de tensão também fez parte do encerramento do evento. Isso porque enquanto Zé da Ecler gravava um vídeo, após a conclusão do evento, a esposa de Clécio Vidal e sua assessoria trocaram farpas com o candidato, fazendo com que um mal-estar fosse instaurado no local.
Porém, antes disso, a Polícia Militar (PM) foi chamada para conter uma ameaça direcionada ao comunicador da Band Litoral e organizador do debate, Samyr Assad. O autor da intimidação foi o ex-vereador de Matinhos, Miltinho Ribeiro, o qual é assessor do candidato Eduardo Dalmora. Conforme Assad, ao chegar ao debate, Miltinho o abordou e iniciou uma discussão.
“Ele não me apontou a arma, mas ficou com ela na mão, e eu pude ver que era uma arma escura, com uma etiqueta dourada no cano. Eu não permiti a entrada dele no debate, porque todo mundo ficou temeroso”, afirmou.
Em contrapartida, o ex-vereador negou as acusações. Segundo ele, a arma a que Samyr se referia era uma garrafa de refrigerante. “Eu não estava armado, precisa de prova, vídeo, foto ou qualquer tipo de lesão. Não ando armado, não preciso disso, sou um homem público, pai de família”, argumentou Miltinho Ribeiro.