Qualificação e empoderamento: mulheres em vulnerabilidade social concluem curso de Agente Cultural no IFPR Paranaguá

No início de outubro, um evento especial marcou a vida de 40 mulheres em situação de vulnerabilidade social em Paranaguá: a formatura no curso de Agente Cultural, oferecido pelo Instituto Federal do Paraná (IFPR), campus Paranaguá, por meio do Programa Mulheres Mil. A iniciativa, promovida pelo Governo Federal e coordenada pelo Ministério da Educação (MEC), oferece qualificação profissional e novas perspectivas de vida a mulheres que enfrentam desafios econômicos, sociais e, em muitos casos, violência doméstica.

Além de oferecer educação, o Programa Mulheres Mil também proporciona apoio financeiro às alunas. Durante o curso, as participantes recebem uma bolsa de cerca de R$ 1.000, que cobre despesas essenciais como transporte e alimentação, facilitando a permanência no programa. No campus de Paranaguá, essa ajuda tem ainda mais impacto, considerando que o transporte público na cidade é gratuito e o Restaurante Popular funciona dentro do próprio IFPR, permitindo que a bolsa seja destinada a outras necessidades.

Educação que transforma

Valéria Borges Ribeiro, coordenadora geral do Programa Mulheres Mil no Paraná, destaca o papel transformador da iniciativa. “O programa atende mulheres acima de 16 anos, oferecendo qualificação profissional e uma bolsa de estudos. Esse valor faz uma grande diferença, principalmente em locais como Paranaguá, onde há serviços gratuitos como transporte gratuito e alimentação dentro do campus. Isso aumenta a motivação e reduz a chance de desistência, principalmente para aquelas que têm filhos ou outros compromissos”, explica ao JB Litoral.

Ela ressalta, ainda, o ambiente acolhedor proporcionado às participantes, com brinquedotecas para que as crianças fiquem em segurança enquanto as mães assistem às aulas. “O programa cria um espaço onde essas mulheres se sentem acolhidas e empoderadas“, completa.

Em todo o estado do Paraná, o Mulheres Mil está presente em 25 unidades de ensino distribuídas pelo estado, oferecendo 37 cursos em áreas que variam de acordo com as necessidades e características produtivas de cada região. Em Paranaguá, o curso de Agente Cultural é voltado à história e à cultura do litoral paranaense, com destaque para o bordado à mão livre, no qual as alunas retratam monumentos históricos da região.

Superação e empoderamento

Paloma Virgens Santiago, professora de Letras e coordenadora do Programa Mulheres Mil em Paranaguá, também enaltece o impacto positivo do curso na vida das mulheres. “O curso não só transforma a vida dessas mulheres, mas também a nossa, que trabalhamos com elas. Este ano, tivemos 11 mulheres que já passaram por situações de violência doméstica e abuso, e o curso oferece um acolhimento importante”, afirma.

A professora explica que o curso é um instrumento de empoderamento, mostrando às alunas que é possível reescrever suas histórias. “Para elas, o curso representa dignidade, empoderamento, força e oportunidade. Muitas chegam aqui com uma história de negação, mas ao longo do curso percebem que é possível traçar um novo caminho através da educação e da dignidade“, conclui.

Segundo Paloma, no próximo ano o Programa Mulheres Mil terá continuidade no IFPR Paranaguá com o curso de Agente Cultural, desta vez com ênfase na culinária local, abordando os sabores e tradições gastronômicas da região.

Um caminho de esperança e renovação

A experiência vivida por mulheres como Maria Cristina dos Santos Saldanha, 52 anos, dona de casa e participante do programa, evidencia essa transformação. “Essa formatura é um dia muito feliz. Participar foi ótimo. A gente aprende muita coisa. Este é o sétimo curso que faço aqui. Gostei bastante”, conta. Ela destaca que a bolsa oferecida pelo programa foi um fator decisivo para sua participação, contribuindo financeiramente e ampliando suas oportunidades de aprendizado.

Já para Luiza Santos da Silva, de 19 anos, a experiência no programa foi enriquecedora tanto no aspecto educacional quanto pessoal. “Aprendi muito, várias coisas que eu nem sabia sobre a minha própria região, como sobre Paranaguá. Foi uma experiência muito boa. Aprendi bordado, a me comunicar melhor com as pessoas e também fiz alguns amigos“, comenta a jovem, que também reconhece a importância da bolsa de estudos para sua permanência no curso.

Mudança de vida

Adriana dos Reis Godói, 42 anos, é uma das 40 mulheres que participaram da formatura. Ela, que é dona de casa, conheceu o programa através do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) da Vila Garcia, que divulgou a abertura de vagas no grupo de WhatsApp da comunidade.

“Sempre pensei em ajudar financeiramente no meu lar, e esse curso abriu muitas possibilidades para mim“, compartilha. Além do bordado, ela também teve a oportunidade de aprender noções de direito e conhecer mais sobre a história de Paranaguá. “Havia muitas coisas sobre a cidade que eu não sabia. Como, por exemplo, sobre os Sambaquis. Aprendi no curso e isso me fez perceber como é importante voltar ao passado e fazer novas descobertas“, diz.

A bolsa financeira oferecida pelo programa também teve um papel transformador em sua vida. “A bolsa foi fundamental. Além de facilitar minha permanência, me abriu portas para outros cursos que estou fazendo atualmente. Já participei de cursos de perfumes e aromas e estou em busca de mais aperfeiçoamento“, afirma Adriana, que, apesar de seu interesse por diferentes áreas, tem um carinho especial pelo artesanato.

Adriana é mãe de dois filhos, de 14 e 17 anos, e, com o apoio do programa, está em uma fase de redescobertas e crescimento pessoal. “Agora que meus filhos já estão mais independentes, posso me dedicar mais a mim mesma e buscar novas oportunidades. Este curso e o programa me deram essa chance“, finaliza.

O Programa Mulheres Mil, lançado em 2007 durante o governo Lula, funcionou até 2015 e foi retomado em 2023. Desde sua reativação, ele tem promovido mudanças importantes na vida de mulheres em situação de vulnerabilidade em diversas regiões do país.