Relatório orçamentário de Matinhos aponta “sumiço” de 16% das vacinas no quadrimestre

Por Brayan Valêncio

O relatório do primeiro quadrimestre, da gestão de saúde de Matinhos, apontou dados inconsistentes sobre a vacinação e as doses aplicadas na população, além de somas de outros números que não condizem com o resultado apresentados pela gestão municipal. As informações foram divulgadas durante audiência pública que detalhou as ações da saúde do município nos quatro primeiros meses do ano.

Segundo o documento, foram 9.514 pessoas vacinadas com a primeira dose e 3.819 totalmente vacinadas, resultando em 13.333 doses aplicadas, mas, quando os dados são distribuídos entre os grupos prioritários (idosos, profissionais da saúde e da segurança), que eram as únicas classes atendidas até abril, o total de vacinados é de 7.806 com a primeira dose e 3.286 com ambas as doses aplicadas, chegando à soma de 11.092 vacinas nos braços dos moradores de Matinhos. Com isso, há uma diferença de 2.241 doses que ficam de fora do detalhamento por categoria, resultando no “sumiço”, ou seja, na ausência da informação de 16% das doses recebidas.

Além das informações não baterem, também não foi divulgado, na audiência pública, os lotes, as marcas das fabricantes e a data das chegadas das vacinas. Outro problema foi que os dados haviam sido divulgados em sua totalidade, não detalhando mês a mês, como exigido por lei.

Em relação às informações de atendimento a eventuais casos de Covid-19, os números da prefeitura batem, sendo 785 consultas, 144 coletas de amostras para testagem, 350 visitas domiciliares, 1.073 liberações de isolamento, 2.196 monitoramentos de possíveis casos e 866 atendimentos de positivados, que resultou em um total de 5.414 procedimentos nos relacionados ao novo coronavírus.

A prestação de contas é uma exigência da Lei de Responsabilidade Fiscal (PRF) e serve para fazer uma avaliação do cumprimento das metas previstas na Lei Orçamentária Anual (LOA). Em Matinhos, a audiência pública foi realizada no dia 31 de maio, para apresentar a avaliação do relatório referente aos quatro primeiros meses do ano. Nenhum dos vereadores presentes na sessão questionam tais inconsistências.

Atendimentos médicos também não batem

Outras informações, apresentadas na audiência pública, também tiveram falhas, como a soma de consultas por médicos e enfermeiros, a qual também é inconsistente, já que detalhando as ações por categoria, é possível chegar ao número de 66.790 atendimentos, enquanto o dado da prefeitura calcula 75 consultas a menos do que a informada, não sendo possível definir quais categorias de procedimentos são omitidos dos dados.

Desses 66.790 atendimentos médicos, 738 são da Unidade do Perequê, 3.359 da Unidade do Sertãozinho e 372 da Unidade Vila Nova, dando um total de 4.469 consultas pelas equipes de saúde nas unidades citadas. Outros 62.321 procedimentos não têm detalhamento do local de realização.

Segundo o relatório, a prefeitura acompanha 295 gestantes, que passaram por 3.282 atendimentos, mas, entre consultas e exames, os dados detalhados apontam para 20 procedimentos a mais do que o anunciado pela prefeitura, também não sendo possível definir quais categorias tiveram a subtração de informações no relatório final.

Há, igualmente, dez consultas a mais nos dados do Centro de Especialidade Médica, sendo 8.102 atendimentos no total, mas quando separado entre clínico geral (5.424), pediatra (328), ginecologista (576), psicologia (375), psiquiatria (474), ortopedista (906) e nutricionista (9) atingem o número de 8.092 procedimentos, sendo 10 casos a menos do que o cálculo oficial.

Nos dados de gestantes, outra falha segundo o relatório: o serviço de maternidade realizou um total de 2.462 procedimentos com consultas, mas logo no detalhamento, a ginecologia obstetrícia responde por 3.070 atendimentos. Ou seja, só nessa categoria já passa em 608 do valor que a prefeitura considera como total de consultas

A gestão também calculou errado a taxa de natalidade, já que explicita que foram 70 meninos e 79 meninas que nasceram entre janeiro e abril, então o total é de 149 crianças que vieram ao mundo no município, mas ao considerar os modelos de parto, 82 foram por parto normal e 64 por cesárea, soma que resulta em 3 bebês a menos do que o total divulgado.

A prefeitura de Matinhos foi procurada pela reportagem do JB Litoral para comentar os dados, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem.