Denúncia: pacientes do litoral esperam por horas, dentro de ambulância até serem atendidos no Angelina Caron


Por Flávia Barros Publicado 01/10/2021 às 11h18 Atualizado 16/02/2024 às 14h55

Graves denúncias na forma de desabafo, em rede social, de um trabalhador da saúde, que prefere não ter o seu nome divulgado, chamou a atenção do JB Litoral. Pacientes transferidos de Unidades de Pronto Atendimento (UPA) do litoral ao Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul, passaram horas até serem recebidos e internados naquela unidade de saúde, mesmo tendo passado pelo crivo da Central de Leitos do Estado, responsável por organizar o fluxo de pacientes em vagas do Sistema Único de Saúde.

No dia 11 de setembro, uma paciente de 33 anos, passou 1h40 dentro da ambulância, parada em frente ao hospital da região metropolitana de Curitiba, após ser transportada pelo Samu, de Matinhos ao Hospital Angelina Caron. Segundo a denúncia, ela sofria de plaquetopenia, que é o nível muito abaixo do normal de plaquetas no sangue, o que pode provocar sangramento até a morte.  Ao procurarem saber o motivo da demora, uma vez que, segundo a denúncia, haviam sido orientados a chegar com a paciente às 7h e estavam lá desde poucos minutos antes disso, a equipe do SAMU teve de acionar a Polícia Militar para garantir atendimento à paciente, mesmo após estarem autorizados a levá-la para lá.

No dia 12 de setembro, Luciana Benítez, 70 anos, morreu após 6h de espera. De acordo com a queixa, apesar do estado delicado devido aos problemas cardíacos, ela foi consciente e conversando com a equipe de Matinhos até o Angelina Caron, mas foi piorando com o passar das horas, até que teve uma parada cardíaca e a equipe entrou com a paciente, mesmo sem concluir o protocolo de entrega, devido à gravidade da situação. “Ela tinha muito mais chances de sobreviver se fosse entubada dentro do hospital, não fazia sentido tentarmos fazermos o procedimento dentro da ambulância. Mesmo lutando pela vida da paciente e após a espera absurda, a equipe do hospital ainda questionou se havíamos levado a paciente morta para eles”, desabafou o profissional da saúde.

No dia 13 de setembro, uma senhora de 66 anos, com tumor cerebral, recebida após 4h de espera, transferida do Hospital Municipal de Guaratuba. “Ficamos mais de 4h com a paciente dentro da ambulância até que nos autorizaram a descer com a ela. Se o hospital está sem funcionários suficientes, que contratem mais profissionais ou não aceite tantos pacientes se não tem capacidade para tal”, desabafou a outra profissional.

AMEAÇAS E INTIMIDAÇÕES

Diante das dificuldades e com a ameaça de ter o serviço descontinuado da ambulância de suporte avançado, conhecida como alfa (conta com um médico, além do enfermeiro e condutor socorrista), que presta atendimento aos municípios do litoral, membros da equipe procuraram o deputado estadual Michele Caputo (PSDB), que os recebeu em seu gabinete.

Seguranças nos intimidaram no Hospital Angelina Caron e fomos ameaçados de sermos denunciados aos conselhos de classe por defender os direitos dos pacientes. Estamos tendo muita dificuldade, por isso procuramos o deputado Michele Caputo, para relatar como o SAMU do litoral está sendo tratado. Além das dificuldades em entregarmos os pacientes que atendemos e transportamos, também estamos correndo o risco de ter o serviço descontinuado, com terceirizações que só vão piorar a situação”, disse o funcionário que denunciou a questão ao parlamentar.

RISCO DE FALTAR AMBULÂNCIA

Deputado Michele Caputo recebeu os profissionais do Samu e protocolou pedido de verba emergência ao governo do Estado (Foto: Divulgação Alep)

Em conversa com o JB Litoral, o deputado Michele Caputo afirmou que recebeu “uma preocupação deles, que é justa, sobre a situação da ambulância ‘alfa’ sediada em Matinhos, cujo contrato termina em setembro e os processos para um novo não estão tendo êxito. Pedi à Sesa uma prorrogação, tendo em vista que daqui a pouco teremos o verão”, disse.

Michele Caputo deu entrada a esse requerimento na semana passada, em que propôs a prorrogação emergencial do contrato. “Enquanto uma solução definitiva não acontece, não acho prudente arriscar ficar sem cobertura por conta de procedimentos que até agora não tiveram êxito. Pedi recursos para que o Consórcio Intermunicipal de Saúde do Litoral do Paraná (Cislipa) possa manter o serviço”.

HOSPITAL NEGA DEMORA

Em relação às denúncias de demora em receber os pacientes, o Hospital Angelina Caron negou os fatos e se manifestou por meio de nota.

“A Ouvidoria do Hospital Angelina Caron não recebeu qualquer notificação oficial sobre atraso no atendimento a pacientes transferidos do litoral do Estado entre 11 e 13 de setembro. Registros em câmeras, relatos da equipe e testemunhas atestam que os pacientes foram atendidos cerca de dez minutos após chegarem ao HAC, mesmo sendo na modalidade “vaga zero”, quando não há vagas no Pronto Socorro. O Hospital Angelina Caron já registrou esses fatos em comunicado enviado à Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) no dia 17”, disse a nota.

TODOS REGULADOS

Em contato com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), a pasta confirmou, ao JB Litoral, que as três pacientes em questão estavam devidamente “reguladas”, portanto com suas vagas garantidas no Hospital Angelina Caron, conforme relatou a denúncia.  

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