A cidade dos guarás: Guaratuba tem longa história com a ave que quase foi extinta


Por Luiza Rampelotti Publicado 28/04/2020 às 20h27 Atualizado 15/02/2024 às 09h34
Guarás em Guaratuba. Foto: Edgar Fernandez/Instituto Guaju

Nesta quarta-feira (29), Guaratuba completa 249 anos. Apesar de muita gente saber que seu nome é um termo de origem tupi, que significa “ajuntamento de guarás”, vários moradores ainda não sabem, exatamente, o que é o guará. O nome foi concebido pelos nativos que habitavam a região na época do descobrimento do Brasil pelos portugueses, devido à ave de plumagem vermelha que existia em abundância na área.

A ave esteve na lista vermelha do Paraná durante muitos anos, já que a espécie desapareceu do litoral paranaense e quase foi extinta. Para evitar a extinção, surgiu o Instituto Guaju, em 2008, que por meio de projetos de educação socioambiental conseguiu fazer o primeiro registro de um guará, naquele mesmo ano, após oito décadas.

Um dos sócios fundadores da entidade, Fabiano Cecílio da Silva, explica que o instituto é voltado à educação ambiental, ao resgate da cultura local e ao desenvolvimento sustentável. São mais de 40 membros que atuam nos três principais projetos: Projeto Guará, Amigos do Mar e Mutirão de limpeza da baía de Guaratuba.

O Projeto Guará tem o objetivo de monitorar o retorno da ave à região por acompanhamento fotográfico. “O guará tem uma simbologia especial para Guaratuba, pois é a tradução do nome da cidade, mas, de certa forma, a população ainda não tem um sentimento especial pela espécie, devido ao longo espaço de tempo sem termos o pássaro aqui. Várias gerações nunca tiveram noção da importância, porque ele chegou a sumir”, comenta.  

Atualmente, são realizadas incursões quinzenais ao interior da baía no intuito de acompanhar o desenvolvimento das aves na região, bem como seus hábitos, reprodução, alimentação e dispersão. Somente em 2019, foram avistadas mais de 4 mil guarás, além do primeiro de cor branca registrado no litoral. Enquanto o guará tradicional tem a cor avermelhada, o branco, devido a uma mutação genética, tem a cor mais esbranquiçada. “Esse trabalho de monitorar a ave tem dado um resultado muito bacana, pois os guaratubanos estão começando a ver o guará como um símbolo da cidade”, comemora Fabiano.

O primeiro guará branco avistado no litoral, em 2019. Foto: Edgar Fernandez/Instituto Guaju

Amigos do Mar

O Projeto Amigos do Mar é voltado para crianças e adolescentes e, desde o início, já foram atendidos mais de 600. “No começo, o objetivo era somente valorizar a cultura do pescador local, pois percebíamos que as crianças não tinha noção da importância da profissão dos pais”, explica Edgar Fernandez, sócio fundador da entidade.

Mas o projeto foi crescendo e, hoje, além da valorização da pesca, busca promover o desenvolvimento pleno dos infanto-juvenis. “Trabalhamos muito a inteligência emocional, tentando fazer com que eles entendam que, independentemente da profissão que optem por seguir, precisam seguir os passos certos”, diz. Várias atividades são realizadas ao longo da semana, como oficinas de atividades esportivas, culturais e aulas de informática e educação ambiental.

O Instituto Guaju é sediado no Bairro Caieiras e, lá, criou uma agência de turismo comunitário, junto à Associação de Moradores, para desenvolver o ecoturismo local. Uma das atividades realizadas é a “Bird Watching”, isto é, observação de aves, muito conhecida fora do país e com milhares de adeptos. “A gente leva os turistas para conhecer o guará. Tem todo um aparato técnico e condutores capacitados para isso”, afirma Edgar.

A entidade é uma Organização Não Governamental (ONG), ou seja, não tem fins lucrativos. Todos os projetos desenvolvidos são realizados em parceria com instituições privadas e públicas. “A gente gostaria de ter mais parceiros, pois, por exemplo, para manter o Projeto Guará investimos recursos pessoais, desde sempre. É um grande pesar, mas é um trabalho que no futuro as pessoas vão reconhecer ainda mais”, diz.

Mutirão de limpeza da baía

A baía de Guaratuba é um dos ecossistemas mais importantes do sul do Brasil para a manutenção da vida marinha. O maior desafio do Instituto é realizar, anualmente, um grande mutirão de limpeza, que agrega mais de 400 voluntários. Até hoje, já foram retiradas mais de 50 toneladas de resíduos do mar.

O mutirão acontece todo ano, no mês de junho, por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente. Neste ano, devido à pandemia do coronavírus, a data deve ser remarcada.

Queremos continuar sendo parceiros dos gestores municipais, da prefeitura, das instituições privadas e de todos que se envolvem para fazer com que as pessoas entendam que o nosso maior patrimônio é o meio ambiente. Em Guaratuba, temos uma potencialidade gigantesca para desenvolver, que é a riqueza da natureza e a cultura local, mas ainda engatinhamos no sentido de gestão, políticas públicas e conhecimento, pois o povo não tem conhecimento dessa riqueza”, conta Fabiano.

Para os 249 anos da cidade, ele pede que os guaratubanos tenham a sensibilidade de perceber que “o homem pode caminhar muito, mas só conseguirá se encontrar com ele mesmo se tiver uma relação direta com a natureza. Viemos dela e com ela vamos nos encontrar”, conclui.

Fabiano e Edgar são os fundadores do Instituto Guaju