ABPF explica aumento de tarifa da Maria Fumaça


Por Cleverson Teixeira Publicado 19/12/2020 Atualizado 15/02/2024

Depois de dois meses testando a Maria Fumaça Mogul 11 pelos trilhos de Antonina e Morretes, a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária – Regional Sul (ABPF) oficializou, no dia 20 de novembro, a volta da locomotiva no ramal das duas cidades históricas. Batizada de Trem Caiçara e fabricada em 1884, a máquina a vapor mais antiga do Brasil passa a ser mais uma opção de lazer para os moradores do litoral paranaense e um atrativo turístico aos visitantes.

Antes da inauguração, eram realizadas viagens-teste, as quais deram início nos dias 12 e 13 de setembro. Desde então, até a implantação efetiva do trem, a tarifa, que era de R$ 35, passou para R$ 60. Os passageiros que optam pela ida e volta, o valor é de R$110. Há, também, uma outra opção, que é ir de trem e voltar de ônibus, por R$ 75. Esse aumento acabou gerando discussão nas redes sociais, seja por moradores das duas cidades ou por turistas, que questionam o porquê de desembolsarem R$ 25 a mais na compra do bilhete.

Para esclarecer essa questão, o JB Litoral conversou com o diretor administrativo da ABPF – Paraná, Rodrigo Dolenga, o qual também é responsável pelo Trem Caiçara e operações em Santa Catarina. De acordo com ele, esse custo maior já era exposto em encontros com os órgãos competentes das duas regiões. “Desde o início, quando começamos o projeto, em todas as reuniões que fizemos, tanto com o Morretes Convention & Visitors Bureau quanto com as prefeituras de Antonina e Morretes, sempre dissemos que o valor da tarifa ficaria em torno de sessenta reais. Durante as viagens-teste, fizemos abaixo do preço de custo da operação do trem porque todo mundo queria passear. A gente fez com um preço acessível para as pessoas conhecerem, mesmo. E esse valor não pagava a operação”, afirmou.

Dolenga explica, ainda, que para cobrir todos os custos, é feita uma planilha com os critérios de porcentagem, na qual são calculados não só o gasto com pessoal, mas também com a reforma da locomotiva. Segundo o diretor, são analisados a mão de obra e os insumos, além do valor do conserto da Maria Fumaça, que gira em torno de R$ 500 mil. Esse dinheiro, conforme Rodrigo, foi diluído em uma década. “Você rateia o valor da reforma geral da locomotiva pelo número de passeios e passageiros, em um período de dez anos. A reforma dos vagões custou cerca de R$ 250 mil. A gente faz a mesma coisa. Todos os custos de manutenção já estão inseridos. Nós temos um equipamento que faz a manutenção dos trilhos, com isso, fazemos o mesmo cálculo, com o valor da manutenção diluído pelo número de passageiros do período. Assim acontece com o combustível e a lenha”, disse.

Passeios têm início na Estação de Antonina. Foto/Adriano Almeida/JB Litoral

Outros custos para a empresa

Conforme o responsável pela comitiva, apesar de a ABPF trabalhar no sistema de voluntariado, muitas atividades precisam fornecer remuneração aos envolvidos, já que é necessária dedicação exclusiva em algumas delas. Por passeio, os vagões contam com sete colaboradores, sendo eles: maquinista, foguista, auxiliar de foguista, recepcionista, pessoal da bilheteria e funcionários do setor de vendas.

O repasse da quantia aos empregados também faz parte do cálculo para cobrir todos os gastos com a atração turística, assim como os anúncios veiculados na mídia e materiais impressos de divulgação. “Tudo isso está contido no rateio para formar o valor do bilhete. Na questão de divulgação, precisamos imprimir material, que também está incluso, além de um anúncio em algum veículo de comunicação ou a confecção de um banner“, comentou.

Passeio não gera lucro

Rodrigo Dolenga relatou que o funcionamento da Maria Fumaça não gera nenhum tipo de lucro para a instituição ferroviária. O valor que sobra da bilheteria, de acordo com o diretor, é revertido diretamente para a reforma de outros materiais, e todo o dinheiro que a empresa possuía foi investido no trem. Ainda segundo ele, o caixa precisa ser recomposto porque há muitos consertos a serem feitos.

E, sobre a ampliação do passeio, o funcionário da ABPF, sem definir uma data, comentou que existe a previsão da chegada de mais um trem para as regiões serranas. “Há a ideia de trazermos uma outra locomotiva, de reformar uma mais potente. Está programado para vir mais dois vagões para cá, mas por conta da pandemia, talvez a gente segure”, anunciou.

Tarifa diferenciada

A Associação Brasileira de Preservação Ferroviária divulgou, durante a entrevista, que vai colocar em prática o projeto de preço diferenciado para os moradores de Antonina e Morretes. Dolenga explicou que o valor não permaneceu o mesmo para os munícipes, por conta da baixa procura registrada pela entidade. “Como recentemente abrimos os passeios-teste e não tinha muita adesão dos moradores da região, sendo a maioria de fora que participava, achamos melhor parar. Seguramos por um tempo, para fazermos um produto turístico, mas vamos abrir de novo. Temos total interesse nisso. Iremos montar essa situação. Já existe esse projeto, só não colocamos em operação, ainda. Moradores terão uma condição diferenciada, sempre”, completou.

Pandemia afeta movimento

A ABPF estudava a possibilidade de estender as viagens para, pelo menos, mais um dia da semana. Com o aumento do número de casos de coronavírus no litoral, houve a necessidade de deixar de lado o novo projeto. “Na situação que a gente se encontra, na questão da pandemia, não conseguimos definir parâmetros para falar como está sendo este ano. Tínhamos uma estimativa de fazer passeio sexta-feira, sábado e domingo, neste mês de dezembro, janeiro e fevereiro de 2021. Abortamos essa ideia e estamos mantendo nos sábados e domingos, apenas”, explicou.

Rodrigo disse, também, que nada impede de que os passeios realizados aos sábados pela manhã sejam suspensos por conta da falta de passageiros. Nos últimos fins de semana, posteriores à inauguração do Trem Caiçara, várias pessoas entraram em contato para remarcar a viagem por conta da Covid-19. O trajeto, que regularmente é programado para 40 pessoas, tem sido feito com um público reduzido, entre dez e 20 visitantes.

“Mas, conseguindo ter uma adesão bacana nos fins de semana, ou tendo grupos que resolvam fazer a viagem durante a semana, a gente abre. Nós estamos aqui preparados para atender todos os dias, mas desde que haja demanda. Uma grande vantagem, como consta em contrato de operação, é que podemos rodar todos os dias, não há limitação quanto a isso, mas é só ter pessoal”, concluiu.

Exploração Ferroviária

Para a concretização da volta da circulação dos vagões, foi necessária a assinatura de um termo de cooperação entre a prefeitura, ABPF, Rumo Logística e Governo do Estado. Questionado sobre a participação da empresa Serra Verde Express, concessionária dos trens turísticos na ferrovia Paranaguá- Morretes-Curitiba, Dolenga afirmou que a exploração das ferrovias é realizada apenas pela Associação de Preservação das estradas de ferro. “A única empresa que detém os direitos de circulação com passageiros nesse ramal é a ABPF. A Serra Verde é apenas a representante oficial de vendas, fora da região do litoral. Por exemplo, ela tem as operadoras de turismo que conseguem captar turistas fora do Paraná, do Brasil e do mundo. Por isso, fechamos esse acordo”, finaliza o diretor administrativo da ABPF.

Vendas dos bilhetes e pontos de embarque

Os bilhetes podem ser adquiridos na Estação Ferroviária de Antonina e na Bilheteria da Serra Verde Express, em Morretes. Outra opção é comprar pelo site abpfsul.com.br. Na internet, o passageiro poderá parcelar a viagem em até seis vezes no cartão de crédito, além da possibilidade do pagamento em boleto bancário. Conforme Dolenga, outros locais de venda estão sendo abertos. O empresário que tiver interesse em transformar o seu empreendimento em um ponto de comercialização dos bilhetes, basta entrar em contato com a ABPF.

As viagens partem, tanto de Antonina quanto da Estação Ferroviária de Morretes. Elas ocorrem aos sábados e domingos, com saídas às 09h30 e 14h30 da cidade capelista, retornando do município de Morretes às 11h e 16h. Crianças de até cinco anos de idade levadas no colo não pagam a passagem. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (47) 9 9986-0600.