“Advogados estão comprando voadeira, barco, caminhão e nós estamos aí”, diz Braz


Por Redação JB Litoral Publicado 13/05/2014 Atualizado 14/02/2024

Em julho de 2013, o JB fez uma reportagem da reunião realizada na casa dos pescadores, Braz Miranda Teodoro e Martha Volochen Teodoro, com os advogados Levi de Andrade e Jorge Luiz Mohr e diversos pescadores em Paranaguá.  

Neste encontro os advogados pediram aos pescadores, que receberam ou não suas indenizações, trouxessem documentos para que fosse feita uma nova pesquisa sobre os valores e saber se foi cometido alguma irregularidade pelos seus advogados, diante da demora e do não recebimento de valores pelos pescadores.

No início de agosto do mesmo ano, uma nova reunião com o mesmo objetivo foi realizada, desta vez, na Associação de Moradores da Ponta da Pita, na cidade de Antonina.

Os encontros envolviam a batalha judicial, ocasionada pela catástrofe ambiental ocorrida em 2001, no rompimento do poliduto Olapa, que interligava a refinaria de Araucária da Petrobrás com o litoral, causando vazamento de 145 mil litros de óleo diesel, contaminando quatro rios do litoral e consequentemente a baía de Antonina, além do crime ambiental ocasionado pelo vazamento de nafta do Navio Norma,  ocorrido no mesmo ano  em Paranaguá.  

Em novembro de 2013, a polêmica envolvendo os advogados envolvidos no processo e os dois que realizaram encontros com pescadores, teve um desfecho surpreendente com a Desembargadora Regina Afonso Portes do Tribunal de Justiça do Paraná, concedendo antecipação de tutela para a Federação dos Pescadores do Estado do Paraná, bem como as colônias de pescadores Z1 de Paranaguá, Z2 de Guaraqueçaba e Z8 de Antonina, suspendendo os efeitos dos contratos, procurações questionadas nos processos de indenização dos pescadores em nome dos advogados Levi de Andrade, Jorge Luiz Mohr e Anne Ozga Ricardo. Sem saber a quem recorrer, no dia 25 do mês passado, dezenas de pescadores e pescadoras protestaram contra esta situação diante do Fórum de Paranaguá exigindo uma audiência com um promotor de justiça. O pescador Braz Teodoro, mais uma vez, falou com o JB onde fez um desabafo indignado com o drama dos pescadores, que estão sem receber seu dinheiro e tendo que recorrer a boletim de ocorrência na delegacia.  “Está tudo com os advogados que estão comprando voadeira, barco, caminhão e nós estamos aí”, disparou Braz.

Advogados não são os mesmos do início das ações

O pescador trouxe uma novidade sobre as ações na justiça que começaram a partir de 2001, segundo Braz Teodoro, nenhum dos pescadores assinou procuração, na época, para os advogados envolvidos nesta confusão sobre o pagamento das indenizações.

Segundo pescador, os advogados que pegaram as procurações dos pescadores para dar início aos processos na justiça foram Raul Chapaval, Admilson Petroski, Carla Angélica e Maximilian Zerek. Porém, o presidente da Federação dos Pescadores do Paraná e da Colônia Z-1 de Paranaguá, Edemir Ferreira, o Edmir da Pesca, passou as procurações para os atuais advogados sem consultar os pescadores. “Ele não falou com ninguém”, disse Braz Teodoro.  

Ele cobra esclarecimentos do porque as pessoas estão recebendo suas indenizações e, algumas que recebem não chegar pegar a metade do valor depositado no banco. Braz diz que já no primeiro pagamento provisório, os advogados tiraram o valor bruto dos seus honorários, enquanto muitos pescadores não receberam absolutamente nada. “Sabemos que o dinheiro já foi sacado no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal”, denuncia Braz.

Na oportunidade do protesto, Braz trazia nas mãos 14 boletins de ocorrência de pescadores que registraram contra a advogada Cristiani Uliana e alguns do advogado Fabiano Neves.

Promotor investiga o caso

Ele deu como exemplo a situação dele e da esposa, já divulgada pelo JB no ano passado. O caso de Braz é surpreendente, o valor de sua indenização foi de R$ 24.900,00, porém, ao receber seu valor lhe deram um cheque de R$ 2.000,00, que ele não aceitou e rasgou na frente do advogado. À noite, um representante do advogado retornou com um cheque de R$ 15.600,00, uma diferença de 38% ficou com o advogado. A porcentagem de sua esposa foi maior ainda, da indenização de R$ 23.080,80, ela recebeu a quantia de R$ 11.300,00, com o advogado ficando com 48% de comissão.

Recebidos pelo promotor de justiça, Fernando Cubas Cesar, os pescadores tomaram conhecimento, que foi aberto um processo investigativo da conduta dos advogados envolvidos nestas ações indenizatórias e, caso sejam comprovadas irregularidades, serão abertas ações na esfera criminal. O promotor disse na imprensa que acredita se tratar de uma “associação criminosa, a qual teria se formado para se apropriar de valores das ações judiciais de direito dos pescadores do litoral”.  Ele admitiu ainda ter elementos que identificam esta situação, em razão dos alvarás expedidos pela Justiça de agosto de 2012 até março de 2013, garantindo indenização aos pescadores, mas que eles não teriam recebido. Já foi pedida a queda de sigilo bancário de uma pessoa envolvida checar informações e dar encaminhamento ao caso.