Alto nível do uso de crack em Paranaguá, mas dados oficiais são inexistentes


Por Luiza Rampelotti Publicado 18/09/2020 às 00h17 Atualizado 15/02/2024 às 15h56

A circulação e o consumo de drogas, em especial o crack, é um problema que se alastra pelos grandes centros urbanos, mas, também, pelas cidades menores do Brasil. Uma pesquisa publicada em janeiro deste ano, pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), revela que tal dilema afeta 97,31% de 1.599 brasileiras que participaram do estudo.

No Paraná, os números também não são positivos: das 399 cidades do Estado, 125 afirmaram que enfrentam problemas relacionados ao consumo de crack e têm áreas afetadas pela droga, isto é, mais de 31%. O setor mais prejudicado é o de saúde, seguido pela assistência social, educação e segurança. Porém, 257 municípios não responderam à pesquisa.

Os dados atualizados no mapa do Observatório do Crack, da CNM, revelam que Paranaguá está incluída nos 38 municípios do Estado que possuem problemas ocasionados pelo uso desse entorpecente em um nível alto. As demais cidades do litoral se encontram sem informações e não é possível saber em qual nível está a situação.

A conclusão da Confederação Nacional de Municípios é de que o crack está cada vez mais presente nas pequenas cidades e zonas rurais. O JB Litoral questionou a prefeitura de Paranaguá a respeito da existência de um levantamento que indique quantas famílias, aproximadamente, são afetadas pelo vício, porém, não foram divulgados dados oficiais sobre o número de vítimas, o perfil dos dependentes, o consumo e a circulação de drogas na cidade. 

Trabalho da prefeitura nessas situações

A respeito das políticas de prevenção, o Executivo afirmou que a drogadição é trabalhada por diversos setores e secretariais municipais. Entre os serviços disponibilizados, estão as ações de conscientização por meio de palestras e outras atividades, oferecidas pelo Departamento Antidrogas (DEAD) da Secretaria Municipal de Segurança, no entanto, no momento, o departamento está com as atividades paradas por falta de pessoal e, também, por conta da pandemia.

Existe a Secretaria Municipal de Assistência Social que, por meio do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua, mais conhecido como Centro POP, oferece o Serviço de Abordagem Social, isto é, uma equipe responsável para ir, periodicamente, aos locais de maior concentração de pessoas em situação de rua a fim de convencê-las a aderirem aos serviços oferecidos”, explica.

A prefeitura destaca que a Assistência Social disponibiliza atendimento, abordagem social e acolhimento, acesso a documentos pessoais, espaço para higiene, entre outras intervenções aos dependentes químicos que vivem em situação de rua.

Quando há risco de saúde mental, o paciente é encaminhado a uma Unidade Básica de Saúde, que é a porta de entrada e é nelas que é iniciado o atendimento de casos leves. Nos casos moderados, a Secretaria Municipal de Saúde faz os encaminhamentos necessários seja para o Ambulatório de Saúde Mental ou mesmo ao CAPS. Em situação de urgência e emergência, há suporte fornecido pela UPA”, informa.

No Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), além de atendimento com psicólogos e psiquiatra, o paciente também conta com reuniões em grupo que auxiliam no tratamento contra a drogadição. Contudo, devido ao período de pandemia, as reuniões presenciais foram suspensas.

Sem políticas públicas, pessoas comuns auxiliam na recuperação

Devido à falta de políticas públicas locais no sentido de prevenir o consumo de drogas e recuperar os dependentes químicos, Emerson Braga, mais conhecido como Puruca, resolveu criar o Projeto Amigos dos Amigos, que funciona há 13 anos na cidade.  A decisão veio um ano após sua libertação do mundo das drogas, com o objetivo de, além de auxiliar outras vidas, continuar o ajudando a manter-se “limpo”.

Reuniões dos Amigos acontecem aos sábados, às 20h, na sede da 10ª IEQ.

“Eu vivi 20 anos preso às drogas, usei todos os tipos. Chegou um momento em que ou eu tirava a minha vida, ou saía das drogas. Me considerava inútil perante à sociedade, à minha família, porque eu só dava tristeza. Há 14 anos consegui encontrar a saída e estou limpo, vivo uma nova vida e, desde então, procuro ajudar outras pessoas”, conta.

Durante os 13 anos do Projeto Amigos dos Amigos, Emerson afirma que mais de 2.500 pessoas já passaram pelas salas de reuniões, que acontecem semanalmente, em várias partes da cidade e, recentemente, estão se expandindo para outros municípios do litoral. Cerca de 250 pessoas que participaram do projeto conseguiram abandonar o vício.

24 anos de trabalho

Fundada em 1996, a Comunidade Terapêutica Desafio Jovem Betel já existe há 24 anos no município. A instituição sem fins lucrativos atua na terapia de dependentes químicos, tanto homens quanto mulheres.

A instituição está localizada no Jardim Jacarandá (PR-407). Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral

O tesoureiro voluntário da entidade, Arlindo Augusto Trabulo Souza Junior, conta que, somente em 2020, 427 pessoas já foram atendidas, por meio do tratamento voluntário. Em 2019, 938 dependentes passaram pelo local.

Com capacidade para o atendimento de 60 homens, a casa masculina, localizada na Rua das Bananeiras, no Jardim Jacarandá, atualmente tem 43 pessoas, devido às medidas de prevenção ao coronavírus. A casa feminina ainda está em construção.

“Somos mantidos por meio das doações: de alimentos, de recursos financeiros para a execução de obras dentro da comunidade e pagamento de despesas. Até nos tornarmos autossustentáveis, que é o nosso objetivo, pedimos uma ajuda de custo aos alunos em tratamento de R$ 300. Mas, somente 30% conseguem contribuir financeiramente e, em sua maioria, com um valor menor”, explica Arlindo Junior.

“Para as pessoas que querem sair do mundo das drogas, buscar tratamento e mudar de vida, basta nos procurar nas nossas redes sociais ou ligar no telefone (41) 98407-0229 para mais informações”, convida Arlindo Junior.