“Analfabetismo digital é questão crucial”, diz editor-executivo da Folha de S.Paulo


Por Redação JB Litoral Publicado 29/06/2017 Atualizado 14/02/2024

“Assim como hoje ensino minhas filhas de 4 anos a olhar para os lados antes de atravessar a rua, vou orientá-las daqui a alguns anos sobre como lidar com as redes sociais”, afirmou o editor-executivo da Folha de S.Paulo, Sérgio Dávila, na tarde desta terça (29). “O analfabetismo digital traz muitos riscos. Essa é uma das questões cruciais dos próximos anos.”

Dávila participou de uma mesa de debates cujo tema era “Pós-verdade, Credibilidade e Inteligência Digital: Jornalismo no Fogo Cruzado”. A discussão integrou o primeiro dia do 12º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, organizado pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). Além dele, participaram da mesa Carlos Eduardo Lins da Silva, livre-docente em comunicação pela USP e mestre em comunicação pela Universidade de Michigan (EUA), e Luis Renato Olivalves, diretor de parcerias com a mídia na América Latina do Facebook.

A mediação ficou a cargo da jornalista Angela Pimenta, do Projor.

De acordo com Lins da Silva, “deveríamos incentivar as crianças a entender o que é comunicação de notícias”.

Mas os desafios para o jornalismo vão além do combate ao analfabetismo digital.

“O jornalismo enfrenta um momento dificílimo. Se queremos nos manter influentes, nós, jornalistas, precisamos encontrar estratégias para demonstrar credibilidade a grupos que não acreditam mais no jornalismo”, afirmou Lins da Silva.

O livre-docente pela USP disse que nunca viu títulos tradicionais como Folha e “Veja” serem tão questionados por alguns setores da sociedade como nos dias de hoje. “Temos que fazer uma auto-crítica para readquirir a credibilidade que nós perdemos”, afirmou Lins da Silva Dávila atribuiu essa situação, em que os veículos jornalísticos estão sob pressão crescente, a dois fatores principais. “Os grandes jornais nunca foram tão lidos como acontece hoje. A audiência mensal da Folha é de 35 milhões de ‘unique visitors'”, afirmou. O segundo aspecto, disse, é a intensidade da polarização na sociedade brasileira.

Notícias falsas sempre existiram, afirmou Dávila, o fato novo é a “dimensão que elas alcançaram”. Ele citou a expansão do Facebook, que atingiu 2 bilhões de usuários no mundo.

Segundo o editor-executivo da Folha, “a massificação do acesso à informação torna cada vez mais importante a atuação do jornalismo profissional”.

Ele se lembrou de um episódio em dezembro do ano passado, quando recebeu por diferentes meios, como Whatsapp, textos sobre aumento do número de sequestros de crianças em São Paulo. A reportagem verificou que não era verdade e publicou a seguinte notícia: “Boatos sobre sequestros assustam pais em SP”.

Olivalves, do Facebook, apresentou algumas iniciativas da empresa para enfrentar a propagação das “fake news”. Uma delas é criar ferramentas para reduzir o impacto de notícias identificadas como inverídicas. Outra vertente é oferecer meios aos usuários para que saibam evitar conteúdo falso.

LÍNGUA PORTUGUESA

Lins da Silva também chamou a atenção para a “absurda ignorância da língua portuguesa no jornalismo brasileiro contemporâneo”. Segundo ele, o mínimo a fazer para alcançar credibilidade é “ter bom domínio da língua”.

“Deve ser horrível ser chefe de um jornal hoje em dia com as Redações tão enxutas”, disse Lins da Silva. Sorrindo, Dávila consentiu.

“Paradoxalmente, o texto médio consegue ser, muitas vezes, superficial e obscuro”, afirmou o editor-executivo da Folha. Segundo ele, o jornal tem programas para aperfeiçoar o domínio da língua por parte de seus jornalistas.