Ao JB Litoral, Moro conta que saída da disputa presidencial não foi voluntária e fala de outros assuntos polêmicos


Por Luiza Rampelotti Publicado 29/06/2022 às 13h52 Atualizado 17/02/2024 às 11h34

Na terça-feira (28), o ex-juiz e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, o paranaense Sergio Moro, esteve em Paranaguá cumprindo agenda política. Na cidade, ele visitou os veículos de comunicação, concedeu entrevistas falando sobre sua atuação durante a magistratura e também sobre seu futuro na política, além de passear pelas ruas.

Em um dos principais cartões postais do município, a Rua da Praia, Moro falou ao JB Litoral sobre assuntos polêmicos como seu ingresso na vida pública, após dizer que não tinha perfil para político, sua saída do governo Federal, a mudança de partido do Podemos para o União Brasil em tão pouco tempo, a pré-candidatura à presidência da República e a retirada de seu nome da disputa, a tentativa de alteração de domicílio eleitoral, qual seu intuito na política paranaense e entre outros.

Com uma carreira de 22 anos na magistratura e responsável por casos notáveis, como a Lava Jato, Sergio Moro decidiu abandonar a função em 2018 para ingressar no primeiro escalão do governo Jair Bolsonaro, como ministro da Justiça. No entanto, em abril de 2020, ele pediu demissão do ministério alegando interferências do próprio presidente na Polícia Federal.

Depois disso, foi contratado pela consultoria Alvarez & Marsal como diretor executivo, e no início de 2021 se mudou para os Estados Unidos. Porém, a nova residência não durou muito, no final de outubro do mesmo ano Moro retornava para o Brasil.

Em solo brasileiro, o ex-juiz se filiou ao partido Podemos, em um mega evento realizado em Brasília, em novembro, mesmo depois de afirmar, em várias ocasiões, que nunca se envolveria na política por não ter esse perfil. Filiado, Moro se tornou pré-candidato à presidência da República, visando as eleições gerais de 2022.

Senti um chamado à vida pública”, diz Moro

Durante a entrevista ao JB Litoral, ele contou que voltou ao Brasil por “sentir um chamado à vida pública” e exaltou seus feitos quanto juiz e ministro da Justiça. “Fui para o setor privado, mas sempre você sente aquela compulsão para voltar à vida pública e tentar lutar por essas bandeiras [combate à corrupção e violência] que são as minhas, mas também de boa parte do povo brasileiro”, disse.

Moro esteve em Paranaguá na terça-feira (28). Foto: Diogo Monteiro/JB Litoral

Moro afirmou que esperava que, depois da Lava Jato, o sistema político “se autoconsertasse”, que as leis fossem mudadas. Porém, em sua opinião, o sistema político reagiu mal e atuou para retroceder os avanços no que ele chama de combate à corrupção. “Eu me senti compelido, agora eu tenho que ir para a política para tentar fazer isso de dentro”, comentou sobre sua entrada na vida pública.

Cercado de polêmicas entre a esquerda, que afirma que o ex-juiz atuou para retirar o ex-presidente Lula, então candidato líder nas pesquisas à presidência, em 2018, da disputa eleitoral, e favorecer a eleição de Bolsonaro, Moro se viu muito aclamado por parte da população brasileira, que o tratava, bem como a Lava Jato, como heróis da nação. Ao se associar a Bolsonaro, ganhou ainda mais força de seus apoiadores. No entanto, o inesperado aconteceu: Moro rompeu com o atual presidente e passou a ser chamado, dessa vez, também por parte da direita, de traidor.

Sem os votos da esquerda e nem os dos apoiadores de Bolsonaro, Moro afirmou, ao JB Litoral, que busca angariar votos daqueles que “primam pela integridade na vida pública, que primam pela verdade”. “O que sempre fiz foi isso, trabalhar pela verdade e seguir os princípios do povo brasileiro: integridade e política voltada ao bem comum. As pesquisas apontam [no cenário ao Senado] que a gente tem preferência da população paranaense”, disse.

Mudança de partido

A pré-candidatura à presidência do Brasil não durou muito. Em março deste ano, apenas 4 meses depois do mega evento de filiação no Podemos, Moro aproveitou a janela partidária e foi para o União Brasil, abrindo mão da disputa ao Palácio da República para estar no novo partido. Além disso, ele buscou alterar seu domicílio eleitoral para São Paulo, para tentar concorrer ao cargo de deputado federal por lá.

Porém, o plano não deu certo e o Tribunal Regional Eleitoral não reconheceu o domicílio eleitoral do ex-juiz no Estado. Desta forma, ele será candidato pelo Paraná, mas disse que ainda não definiu qual será o cargo.

A intenção era apresentar uma candidatura à presidência que rompesse a polarização. Por razões alheias a minha vontade, isso se tornou impossível por falta do apoio partidário e tive que buscar outro caminhão. Não foi uma decisão exatamente voluntária deixar a minha candidatura presidencial, mas a ideia é dar um passo para trás para dar passos mais sólidos no futuro. E se pode trabalhar pelo Brasil não só numa candidatura presidencial, mas numa candidatura ao congresso, como deputado, senador ou, eventualmente, no próprio Estado”, comentou.

Não tem nada de padrinho político”, diz Moro sobre Álvaro Dias

Na pesquisa mais recente divulgada pelo Instituto Big Data no Paraná, Moro aparece na liderança da disputa pelo Senado, à frente do atual ocupante da vaga, o senador Álvaro Dias, ex-companheiro de partido de Moro no Podemos e um dos principais entusiastas de sua entrada na política, sendo considerado por muitos até mesmo como “padrinho político” do ex-juiz.

Questionado pelo JB Litoral sobre as possíveis críticas à decisão de sair do Podemos e disputar a única cadeira ao Senado, nestas eleições, com Dias, Sergio Moro destacou que “não tem nada de traição e nada de padrinho político”. Ele atribuiu à sua carreira e seus feitos como juiz e ministro da Justiça suas “credenciais” para a política.

Não defini ainda se vou para o Senado ou não, e doutro lado tampouco o Álvaro Dias definiu, ele está colocando muito expressamente que só irá tomar a decisão ao tempo das convenções partidárias”, ressaltou.

Que Estado Moro verdadeiramente representa?

Além disso, o JB Litoral questionou o ex-juiz sobre qual Estado ele verdadeiramente representa, uma vez que é paranaense, mas já se mudou para Brasília, depois para os Estados Unidos e, recentemente, alugou um flat em São Paulo para tentar se eleger por lá e somente depois da não possibilidade, tem buscado uma vaga pelo Paraná. “Fui a São Paulo a um pedido do partido, a perspectiva era a legenda presidencial e não faria diferença estar lá ou no Paraná. Acabou não sendo possível a legenda presidencial e caminhamos para um projeto político em São Paulo. Mas o que eu posso dizer é que fiquei muito feliz de poder ter essa oportunidade de poder concorrer pelo Paraná, nasci aqui, cresci aqui, constituí família aqui, fui o juiz da maior operação da história de combate à corrupção do Brasil e uma das maiores, inclusive, do mundo inteiro”, disse.

Por fim, Sergio Moro comentou que sua ideia é ajudar a reformar a política levando as bandeiras pelas quais ele é conhecido. Além disso, afirmou que já provou à população que é contra a corrupção. “Eu fui juiz da Lava Jato, foi muito difícil combater a corrupção, a gente assumiu uma série de riscos, então isso tá no meu DNA, tenho credibilidade para dizer isso, que vou levar essa bandeira para Brasília”, contou.

Em “boa posição para qualquer cargo”, mas com “humildade

Sobre o Litoral do Paraná, o ex-juiz e pré-candidato afirmou que a região tem um grande potencial a ser melhor explorado, mas que é necessário infraestrutura de logística, principalmente, por conta do porto, e também infraestrutura de turismo em Paranaguá e região.

A ideia é circular pelo Paraná e ouvir as pessoas, colher opinião, não só sobre as nossas propostas, mas o que eles entendem como eu poderia contribuir melhor para o Paraná e Brasil, então a gente tá tendo essa humildade. Temos pesquisas que nos colocam em boa posição para qualquer cargo que eu vá concorrer, mas temos que ter humildade de ouvir as pessoas”, finalizou.

Confira abaixo a entrevista em vídeo, na íntegra.