Avanço do mar na praia de Caieiras ameaça residências, prédios públicos e preocupa moradores


Por Luiza Rampelotti Publicado 10/08/2020 às 15h13 Atualizado 15/02/2024 às 14h00

Moradores da praia de Caieiras, em Guaratuba, estão preocupados com o avanço do mar sobre suas residências. Desde abril do ano passado, após uma ressaca ter atingido o litoral da região Sul, com efeitos, principalmente, no local, eles pedem uma intervenção efetiva na região.

Em 2017, a prefeitura de Guaratuba havia construído um muro de gabião com 330 metros de extensão, um metro de largura e um metro de altura, com pedras marroadas, presas por telas de aço, para contenção do avanço do mar na praia. Porém, as recorrentes ressacas já destruíram completamente a barreira. 

A praia de Caieiras não possui cobertura vegetal apropriada (restinga), que tem como uma de suas funções fixar areia e proteger o litoral das intrusões da água do mar, por isso, as ressacas e marés altas têm maiores impactos nas cerca de 220 famílias que vivem na localidade.

O mar já destruiu toda a restinga, derrubou duas casas e agora ameaça a rua da beira-mar, onde se encontram a Capela de Nossa Senhora Aparecida, a escola municipal e o posto de saúde. A situação se arrasta já há algum tempo e nossa preocupação maior é com o período de agosto e setembro, quando temos marés altas e ressacas”, conta o morador Geraldo Ormerod.

Força do mar destruiu casas

Uma das casas derrubadas foi completamente destruída pela força do mar, no local, e só é possível observar os destroços. A outra residência está totalmente comprometida e interditada, uma vez que está afundando. Ambas as situações ocorreram há cerca de dois meses.

Durante as ressacas, o mar avança sobre as residências e ruas de Caieiras. Foto: Litorânea FM

O presidente licenciado da Associação de Moradores e Amigos da Caieira (AMAC), Fabiano Cecílio da Silva, afirma que acompanha o avanço do mar na região há dez anos, com registros fotográficos quase diários. “Já mandamos ofício à prefeitura solicitando alguma providência e o retorno que tivemos é que estão em busca de parceiros para realizar estudos técnicos sobre o assunto. A medida paliativa, que é colocar barreira de pedras para contenção imediata, depende de autorização da Superintendência do Patrimônio da União (SPU), segundo a prefeitura”, diz.

Seu Geraldo é Capitão Amador, Instrutor Náutico e professor universitário, além de desempenhar várias outras atividades relacionadas à área, por isso, explica a respeito da solução efetiva para o problema. “Na realidade, o ideal seria a realização de um estudo das correntes marinhas, para podermos ter uma praia perene. O correto seria implantar pontilhões molhes de pedra que avançam no mar para quebrar a corrente marítima e diminuir seus efeitos sobre a praia e o avanço do mar. Isso é encontrado em diversas praias de Santa Cataria, por exemplo”, esclarece.

Moradores pedem intervenção da prefeitura

Seu Geraldo comenta que a maior preocupação é durante os meses de agosto e setembro, quando há marés altas e ressacas

Porém, ele afirma que sabe que a realização de tal estudo é muito complexa e que necessita de um volume grande de recursos técnicos e financeiros, por isso, reivindica, ao menos, uma solução temporária para o problema. “A gente pede, pelo menos, a colocação de uma contenção de pedras na praia, para que uma maré alta não destrua mais casas e nem a escola, capela e o posto de saúde. Sabemos que a solução é paliativa, mas entre não fazer nada e fazer algo temporário, pelo menos que seja feito algo”, reivindica.

De acordo com ele, os moradores que têm maior poder aquisitivo providenciaram, por conta própria, a instalação das barreiras para frear a força do mar em frente às suas residências.

O secretário municipal de Infraestrutura e Obras, Mário Edson Fischer, comenta que a prefeitura tem conhecimento a respeito do problema da deterioração da orla da praia de Caieiras. Porém, ele explica que a mesma situação acontece no mundo inteiro. “Isso é um fenômeno que está agindo no mundo – o aumento do nível das águas do mar está acabando com as costas e orlas, e isso vem de efeitos climáticos, como o degelo da Antártida, é uma força da natureza”, diz.

SPU proibiu qualquer solução temporária

Ele afirma que, após o mar ter destruído o último muro construído pela prefeitura, com o objetivo de conter o mar, a Superintendência do Patrimônio da União proibiu que o Executivo realizasse qualquer intervenção sem a devida autorização. E, segundo Mário, para receber a aprovação, é necessária a apresentação de um projeto que resolva definitivamente o problema.

Secretário de Infraestrutura e Obras, Mário Edson Fischer

A SPU nos embargou e, por isso, não estamos colocando mais pedras lá neste momento. A maior dificuldade é que não temos condições nem de realizar um projeto que apresente soluções permanentes, porque é algo muito caro, e nem de executá-lo, sem uma parceria com o Governo Estadual ou Federal, pois não temos recursos técnicos e financeiros suficientes, informa o secretário.

Porém, ele garante que a prefeitura não abandonou a região e que já está solicitando apoio ao Governo do Estado. “O prefeito Roberto Justus já solicitou, por meio do deputado estadual Nelson Justus, que encaminhou um ofício à Casa Civil do Estado, o apoio para a formação de uma força tarefa junto à Secretaria de Estado de Meio Ambiente para tentarmos encaminhar esse processo o quanto antes. O ideal é que o estudo técnico seja realizado em parceria com o Governo Estadual, para que a gente consiga recursos e haja a definição de um projeto que, de fato, resolva a situação”, conclui.