Cabotagem aumenta em Paranaguá cinco vezes mais do que a média nacional


Por Katia Brembatti Publicado 23/02/2022 às 09h05 Atualizado 17/02/2024 às 02h30

O cenário melhorou em 2021, mas o país ainda explora pouco o transporte de cargas entre portos brasileiros, a chamada cabotagem, assim como os modais ferroviários e hidroviários. Com os combustíveis cada vez mais caros e a dificuldade para a contratação de caminhoneiros, a opção logística por rodovias acaba enfrentando concorrência de meios alternativos.

No Brasil, o volume transportado por cabotagem aumentou acima do percentual de crescimento geral – segundo relatório estatístico divulgado pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Enquanto a movimentação de todo o conjunto de produtos subiu 4,8% em 2021 em relação ao ano anterior, a entrega interna porto a porto cresceu 5,6%. Os percentuais podem parecer baixos, mas representam muitos milhões de toneladas que saíram das estradas e passaram a chegar por navios.

O porto de Paranaguá – que não tem tradição em cabotagem – viu os números aumentarem bem acima da média nacional. Por aqui, o crescimento em 2021 foi de 38% em relação ao ano anterior. Foram 2,6 milhões de toneladas em comparação com 1,8 milhão em 2020, de acordo com dados divulgados pela Portos do Paraná. Ainda é pouco, menos de 5%, em relação ao total movimentado em Paranaguá em 2021, que foi de 57 milhões de toneladas. Ou seja, de cada 20 toneladas que passam pelo porto, apenas 1 é fruto de cabotagem. Mas o diretor de Operações Portuárias, Luiz Teixeira da Silva Júnior, comenta que as perspectivas são de participação cada vez mais representativa, aproveitando a extensa costa brasileira.

Assim como no restante do país, o principal produto transportado por cabotagem em Paranaguá é o petróleo, com os derivados em segundo lugar. Juntos, representaram dois terços de tudo que saiu de um porto nacional em direção a outro. Contêineres, bauxita e minério de ferro são as demais cargas que usam o sistema de cabotagem. Teixeira comenta que, no Norte e no Nordeste, também o sal é levado dessa forma, como forma de baratear o preço (caso fosse transportado predominantemente por caminhões, o valor do frete ficaria superior ao da carga).

Paranaguá tem perspectiva de crescimento da cabotagem. Crédito: Divulgação/APPA
BR do Mar


Teixeira comenta que a via marítima é um modal necessário para a logística brasileira e um fator essencial na composição de preços, com possibilidade de ser mais explorado em território nacional. Hoje muito ligada a graneis líquidos, principalmente por causa dos navios próprios da Petrobras, a cabotagem tem espaço para crescer a partir da aprovação da BR do Mar, marco legal recentemente aprovado como forma de estímulo ao modal. “Vai dar uma incentivada nesse transporte, com algumas vantagens já em 2022”, acredita.

O diretor lembra que a cabotagem em Paranaguá tem projeções de crescimento, mas que é preciso considerar a chamada zona de influência. Normalmente, os produtos transportados por esse sistema se destinam a áreas próximas do porto – e nesse sentido, o Paraná tem concorrência direta com os vizinhos de São Paulo e Santa Catarina, que atraem as cargas direcionadas para o consumo naqueles estados. O custo logístico, tanto portuário quanto rodoviário, é preponderante em curtas distâncias.

Milho e contêineres


De acordo com dados da Antaq, entre os principais produtos movimentados por portos brasileiros, o milho foi o que teve a queda mais brusca em 2021, com 35% a menos – e muito disso deixou de passar justamente por Paranaguá.

Como o JB Litoral mostrou durante o ano passado, a cultura foi muito afetada pela estiagem e já em agosto o setor sentia os efeitos da diminuição no volume exportado. Teixeira comenta que ocorreu uma inversão: em 2020, não houve importação de milho e em 2021 quase não exportou o produto. O fluxo foi contrário. “Recebemos cerca de 600 mil toneladas de milho importado, principalmente vindo da Argentina”, conta. O diretor afirma que, apesar do congestionamento causado pela chegada de fertilizantes, foi possível organizar a parte operacional para lidar com essa demanda sazonal.

Já sobre a movimentação de contêineres, apesar do recorde de 1,1 milhão de TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) batido pela TCP, a ampliação de 12% em 2021 ficou bem próximo da média nacional, que foi de 11%. Para Teixeira, isso é efeito da concorrência direta com outros portos próximos. “Mas foi um grande crescimento, fruto de um bom trabalho na prospecção de cargas e no aproveitamento das linhas existentes”, avalia.

2022 começou bombando, com antecipação de entregas


Embora ainda o cenário seja de indefinição sobre a safra de grãos no Paraná e nos estados vizinhos, com a colheita iniciada, mais dúvidas relacionadas ao impacto das questões climáticas no volume a ser movimentado, o ano começou a pleno vapor no transporte de grãos por Paranaguá. O diretor conta que é o melhor começo de ano da década. A circulação de caminhões está em patamar bem superior ao registrado em janeiro e fevereiro do ano passado.

Teixeira afirma que, neste momento, não é possível dizer se a movimentação é reflexo de uma boa colheita ou se os produtores estão antecipando a entrega de soja que já estava armazenada. Ainda é cedo também, na opinião do diretor, para dizer se os números se manterão em alta em março e abril. Ele também comenta o crescimento da movimentação por trens, como efeito de melhorias feitas no sistema. “Estamos caminhando para um melhor equilíbrio entre os modais”, finaliza.