Cagepar suspende uso de enzima e esgoto volta ser despejado na baía


Por Redação JB Litoral Publicado 18/02/2014 às 21h00 Atualizado 14/02/2024 às 01h32

A necessidade de dar um destino responsável para fezes e urina dos astronautas no espaço, fez com que se desenvolvesse a tecnologia de biorremediadores em todo o mundo e, hoje, tem conquistado grandes resultados junto ao meio ambiente e ao ser humano. A capacidade de remediar a natureza dos males causados pelo esgoto sanitário e industrial, graças ao tratamento de maneira eficiente das enzimas, tem gerado economia aos cofres públicos e a iniciativa privada, com resultados significativos para população.

Desde novembro de 2009 tanto a Companhia de Água e Esgotos de Paranaguá (Cagepar) e a concessionária CAB Águas de Paranaguá, enquanto não se constrói todas as estações de tratamento de esgoto (ETE) necessárias na cidade, vinham usando essa tecnologia nos principais canais de esgoto da cidade, com resultados impressionantes. Porém no dia 29 de novembro do ano passado, a nova diretoria da Cagepar composta pelo presidente Waldir Armando Vasco de Campos e os diretores Luciano Cezar Dias Salmon (Técnico) e Gasito Sales das Neves Junior (Financeiro), enviaram ofício ao gerente geral da CAB, Sergio Bovo, pedindo a suspensão da aplicação do produto de forma imediata, sob o argumento da necessidade de apresentação do licenciamento, além de relatórios e estudos que justificassem e comprovasse a eficácia e eficiência, assim como da necessidade do uso da tecnologia.

A reportagem do JB tomou conhecimento da suspensão e questionou a Cagepar sobre a suspensão do uso da enzima e o retorno do despejo de esgoto in natura na baía de Paranaguá. Surpreendentemente, o presidente da Cagepar respondeu ao questionamento, afirmando que “não houve cancelamento do uso de biorremediadores no tratamento de esgoto”. Mesmo depois de ter assinado o ofício à CAB pedindo sua suspensão dois meses antes. Porém, outra afirmação mais surpreendendente ainda constou no ofício 005/2014enviado ao JB, de acordo com a diretoria da Cagepar “não há, nem deve haver, despejo de esgoto in natura na baía de Paranaguá”.

A suspensão do biorremediador determinado pela Cagepar é da marca Enzibio, enzima produzida pela Klasta Tecnologia Ambiental, uma empresa paranaense localizada na cidade de Foz do Iguaçu. Ocorre que o Enzibio possui registro e autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para comercialização em todo o país, desde 2008. A Klasta possui ainda licença de operação do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) com validade até julho desde ano. A licença emitida do IAP para uso do Enzibio atende o que estabelece o artigo 8º. Inciso II da Resolução nº 237/97 – CONAMA, Resolução CEMA 065/2008, que autoriza a operação do empreendimento e sua atividade em todo o Paraná. Porém, em razão da falta de uma licença do IBAMA, apesar da autorização da ANVISA que resultou no pedido de suspensão pela Cagepar, a CAB optou por mudar de biorremediador e contratou a enzima da empresa Enzilimp, que entrou com pedido de licença no IAP em dezembro do ano passado. Contudo, apesar da Enzilimp possui registros no Ministério do Meio Ambiente, através do IBAMA (nº 1628/12-90, nº 1626/12 e nº 1627/12-45), Ministério da Saúde, através da ANVISA (registro 3.2385.0008.002.6) e ainda o certificado do IBD Certificações (AI0125/11), até o fechamento desta edição o IAP ainda não havia concedido a licença para uso dos biorremediadores nos canais da cidade.

Com a suspensão do tratamento com o Enzibio, desde novembro, todo esgoto que segue pelos principais canais da cidade voltou a ser despejado “in natura” diretamente na baía de Paranaguá, o que é considerado crime ambiental.

Eficiência do Enzibio nos canais

O Enzibio é um produto desenvolvido para recuperar a flora bacteriana dos esgotos sanitários, perdida pelo uso de produtos de limpeza, desinfecção, higienização e outras espécies químicas, usados em processos industriais e acelerar o processo de degradação. A reportagem do JB teve acesso ao monitoramento da qualidade do esgoto dos canais do Rio do Chumbo, Labra e Sabiá com o tratamento a base do biorremediador Enzibio, que foi suspensa aplicação pela nova diretoria da Cagepar, feito no primeiro semestre de 2012 e os resultados foram significativos.

Para saber a eficácia e a eficiência das enzimas, são feitos testes da Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) no canal onde o esgoto é despejado, para saber quantidade de oxigênio na água. O limite tolerado pela legislação ambiental, a resolução nº 430 – CONAMA de DBO é de 120 mg/l. Em janeiro o DBO do canal do Rio do Chumbo foi de 22,25 mg/l, em fevereiro ficou em 39 mg/l, em março foi de 65,66 mg/l, em abril ficou em 57,42 mg/l, em maio foi de 59,3 mg/l e em junho ficou em 29 mg/l. Estes números fecharam o semestre com o DBO numa média de 45,43 mg/l, menos da metade do nível permitido pela Resolução CONAMA.  

Por sua vez, o monitoramento do DBO do canal do Sabiá mostrou janeiro com 42 mg/l, em fevereiro ficou em 107 mg/l, em março foi de 151 mg/l, em abril ficou em 93,55 mg/l, em maio foi de 92,56 mg/l e em junho ficou em 99,25 mg/l. Estes números fecharam o semestre com o DBO numa média de 97,56 mg/l, bem abaixo do nível permitido pela Resolução CONAMA.

Finalmente o monitoramento do DBO do canal do Labra mostrou janeiro com 12 mg/l, em fevereiro ficou em 30,33 mg/l, em março foi de 35,33 mg/l, em abril ficou em 37,82 mg/l, em maio foi de 64,33 mg/l e em junho ficou em 22,25 mg/l. Estes números fecharam o semestre com o DBO numa média de 33,67 mg/l, a melhor média dos três canais, um nível bem abaixo do permitido pela Resolução CONAMA. 

Quem recomenda e usa o Enzibio

Apesar do ceticismo da nova diretoria da Cagepar que resultou na suspensão do tratamento com o Enzibio nos canais da cidade, vale ressaltar que o produto conta com o uso e reconhecimento de eficácia e eficiência de importantes empresas e entidades, inclusive públicas, no estado e no país.

Uma análise feita no chorume do aterro sanitário da Caximba, pelo Centro de Pesquisa e Processamentos de Alimentos do Setor de Tecnologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) melhorou o índice do BDO, DQO (Demanda Química de Oxigênio) e Sólidos Totais, consideravelmente, em apenas 36 dias.

Da mesma forma, o consórcio de entidades formada por FIEP, CIEP, SESI, SENAI e IEL, através do Centro de Tecnologia em Saneamento Básico e Ambiental (CETSAM) do SENAI, SENAITEC e do CSW Laboratórios, fez uma análise do chorume do aterro sanitário de Apucarana (Paraná) e o DBO que era de 800 mg/l, caiu para 200 mg/l em apenas 14 dias de tratamento com Enzibio.

Até mesmo a Sanepar, em seu relatório de avaliação da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) no uso do Enzibio para redução da camada superficial de escuma em reator, afirmou que o produto pode ser utilizado sem restrições e que é eficiente.