Ciclone bomba devasta toda a produção de banana da comunidade do Cubatão


Por Redação JB Litoral Publicado 10/07/2020 Atualizado 15/02/2024

O fenômeno conhecido como “ciclone bomba”, que atingiu o Paraná no fim da tarde de terça-feira (30), causou muitos estragos no litoral paranaense. De acordo com o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), os ventos atingiram a velocidade de 100 km/h e, com isso, houve registros de quedas de árvores, destelhamentos e vários prejuízos.

Em Guaratuba, a área rural foi a mais atingida, e, de acordo com o secretário municipal para Demandas da Área Rural, Paulo Zanoni Pinna, praticamente toda a produção de banana foi dizimada. “Sobrou um pouco da banana prata, que é mais resistente, mas, mesmo assim, está muito machucada e sem valor comercial”, lamenta.

A cidade tem a maior produção de banana do Estado, cultivada, principalmente, na comunidade do Cubatão, que conta com cerca de 600 famílias. A produção anual, de mais de 82 mil toneladas seria suficiente, de acordo com a média brasileira de 7kg per capita, para alimentar o Paraná inteiro por um ano, e a fruta ainda sobraria para abastecer outro estado. 

A totalidade da zona rural do município conta com 27 comunidades, que sobrevivem, basicamente, da agricultura e/ou pesca, e estão divididas entre mais de 180 km de estrada rural. São praticamente 1.200 famílias de produtores, de acordo com o IBGE. “Nosso principal problema foi a perda da produção, mas, além disso, tivemos cerca de 200 casas destelhadas no Cubatão; os barracões onde se estocam banana também foram destelhados, e alguns outros, menores, desabaram totalmente. O prejuízo econômico foi muito grande”, diz Pinna.

Danos e perdas

Além da produção da banana, os agricultores locais também cultivam palmito, mandioca e maracujá, o que gera cerca de R$ 58.6 milhões com a comercialização. Somente a banana movimenta mais de R$ 50.7 milhões na economia municipal. Porém, os demais produtos também foram muito atingidos, com perdas de até 100%. Cerca de três mil pessoas, que sobrevivem da agricultura, foram afetadas.

Os danos atingiram, ainda, devido às quebras de contrato, uma vez que não há mais produção, o programa de fornecedores da Agricultura Familiar para atendimento do Programa Emergencial Compra Direta Paraná; contratos de financiamento junto aos bancos de créditos; e o abastecimento do Programa Nacional de Alimentação Escolar.

De acordo com a engenheira agrônoma da Secretaria Municipal de Agricultura e Pesca, Maria Wanda de Alencar, a necessidade mais urgente é a de reconstrução dos serviços essenciais nas áreas atingidas, reconstrução de casas, barracões, culturas agrícolas e, sobretudo, das vidas dos envolvidos. “Considerando o custo de mais de R$ 35.5 milhões para reerguer os 4.571 hectares das grandes culturas; mais a reconstrução dos barracões e casas, calculada em R$ 7 milhões; e as perdas das culturas, calculando 20% a mais, em virtude de que o cálculo do Valor Bruto da Produção é de 2018, o que dá mais de R$ 70.4 milhões, para reestruturar as ações da agricultura local, são necessários algo em torno de R$ 112 milhões”, diz. Ela destaca que o cálculo dos cerca de R$ 112 milhões não envolve o desencadeamento do desemprego, os problemas de saúde ocasionados, as perdas de outras culturas agrícolas e pecuária, entre outras adversidades interligadas à passagem do ciclone, as quais  “determinam uma série de outros problemas que afetam não só as famílias, mas a economia do Município”.

“Cena catastrófica”

Uma das famílias atingidas foi a da engenheira agrônoma Elaine Cristine Estólfi Corrêa, bananicultora há 14 anos. Seu pai cultiva bananas desde a década de 80, há mais de 30 anos, na comunidade do Cubatão. Ela conta que estava na estrada no momento do vendaval e que a cena foi inacreditável. “Foi uma cena catastrófica, desesperadora, uma imagem traumática. A primeira sensação que vinha era: o que eu vou fazer? Eu vi os telhados voando, os barracões quebrando, toda a produção devastada. Conversando com os outros moradores, ninguém nunca viu algo desse tipo”, conta.

Elaine explica que todo o investimento de um ano na produção de bananas foi perdido. “A gente vai ficar um ano sem colher uma fruta, porque os cachos só vão dar novamente no ano que vem, e todos os que estavam quase prontos para serem colhidos foram tombados com o ciclone. Foi um prejuízo total, perdemos a safra toda”, lamenta.

Ela informa que na região é produzida duas espécies de banana: a prata e a caturra. No caso da caturra, a engenheira comenta que toda a produção está no chão; e da prata, ainda se vê plantas adultas em pé, porém, a fruta pendurada perdeu o valor comercial. “O que sobrou da banana prata não será possível comercializar, porque as plantas ficaram com as folhas totalmente inviáveis”, diz.

Além do prejuízo econômico, outra preocupação diz respeito ao âmbito social, já que com a perda quase total da produção não existirá mais serviço na roça durante o ano, ou seja, não há necessidade de contratação de mão de obra, o que acarretará em ainda mais desemprego. “Estamos apelando para as autoridades, buscando o adiamento do pagamento dos financiamentos que até então já tinham sido feitos, e requerendo novas linhas de crédito e facilitações para estas novas linhas, pois nossa região é muito deficitária na questão de documentação de terrenos, a maioria das áreas são de posse, não têm matrícula, e sem os documentos oficiais não se consegue financiamento”, informa.

Desta forma, Elaine afirma que a prioridade deve ser resolver a questão para possibilitar que o crédito rural chegue aos agricultores da cidade – condição imprescindível para que essas pessoas possam se recuperar da tragédia.

O que a prefeitura está fazendo

O secretário para Demandas da Área Rural, Paulo Pinna, informa que todas as providências estão sendo tomadas para minimizar os problemas ocasionados pelo ciclone bomba. “Toda a comunidade foi afetada, e as famílias que vivem do cultivo da banana estão desoladas, inclusive, psicologicamente, pois é um trabalho de uma vida, de sol a sol, que praticamente terminou. Para retomar a vida, voltar à normalidade, ainda levará um bom tempo, mas estamos buscando meios para auxiliar os agricultores”, diz.

A engenheira da Secretaria de Agricultura e Pesca, Maria Wanda, juntamente com a Defesa Civil está avaliando os impactos para buscar a decretação de situação de emergência ou de calamidade pública municipal ao enfrentamento da situação de anormalidade na comunidade do Cubatão, em virtude do ciclone bomba. “Os prejuízos não são superáveis e suportados pelo governo municipal, dependemos de uma ação conjunta das três esferas de atuação, do Sistema Nacional de Proteção e da Defesa Civil”, explica.

A prefeitura segue realizando conserto dos estragos e avaliando os danos provocados pelo ciclone e irá solicitar auxílio ao governo Estadual.