Ataque de Pitbull: tragédia em Matinhos reforça necessidade de conscientização sobre a responsabilidade na guarda de animais

Na semana passada, um homem de 56 anos morreu após ser atacado por um Pitbull na rua


Por Luiza Rampelotti
Na semana passada, um homem de 56 anos morreu após ser atacado pelo Pitbull Koda na Rua Pato Branco, no bairro Mangue Seco, em Matinhos. O cão foi recolhido pela Secretaria de Meio Ambiente. Foto: Felipe Luiz Alves/JB Litoral
Na semana passada, um homem de 56 anos morreu após ser atacado pelo Pitbull Koda na Rua Pato Branco, no bairro Mangue Seco, em Matinhos. O cão foi recolhido pela Secretaria de Meio Ambiente. Foto: Felipe Luiz Alves/JB Litoral

Na última segunda-feira (12), uma tragédia chocou a cidade de Matinhos quando Claudio Gomes de Lima, de 56 anos, foi atacado e morto por um cão da raça pitbull na Rua Pato Branco, no bairro Mangue Seco. O ataque ocorreu próximo à Creche Gigi Bonato.

Segundo o Boletim de Ocorrência (B.O.), a vítima trafegava de bicicleta pela rua quando foi surpreendida pelo animal, que lhe causou ferimentos graves na cabeça e no pescoço. Equipes do Corpo de Bombeiros, Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (SIATE), Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Polícia Militar, Polícia Civil e Guarda Municipal encontraram o homem já sem vida no local.

De acordo com o B.O., o cachorro estava no pátio da residência, amarrado a uma corda, com muros de aproximadamente 1,5 metros de altura. Em determinado momento, o animal conseguiu roer a corda que o mantinha preso, pular o muro e acessar a rua.

O boletim de ocorrência relata que, no momento do ocorrido, o proprietário do animal estava no trabalho. No entanto, ele compareceu ao local após ser informado e foi conduzido à delegacia. O proprietário foi detido, mas pagou fiança e foi liberado no mesmo dia. O animal foi capturado pelas equipes da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Matinhos.


Mais de 40 casos no Litoral


O caso, porém, não se trata de um evento isolado. Segundo informações da Polícia Militar (PM), de janeiro a agosto deste ano, foram registrados mais de 80 boletins de ocorrência relacionados à omissão de cautela na guarda de animais no Litoral. Destes, cerca de 40 foram confirmados, sendo 18 em Paranaguá, 8 em Pontal do Paraná, 8 em Matinhos, 5 em Guaratuba e 1 em Guaraqueçaba.

Ao JB Litoral, o tenente André Felipe Satel, comandante da 2ª Companhia da PM de Matinhos, explica que o número real é provavelmente maior, já que muitos casos de animais soltos ou ataques de menor gravidade não são relatados à polícia. “Recebemos as chamadas através do 190 ou do aplicativo, relatando a presença de animais em condições inadequadas, ataques etc. Quando constatamos a veracidade da situação, registramos o boletim de ocorrência por omissão de cautela. Em situações graves, como o recente caso do pitbull que matou uma pessoa, o responsável pelo animal pode responder criminalmente, e, além da omissão de cautela, outros agravantes são adicionados, como lesão corporal, danos materiais ou, no caso em questão, homicídio com dolo eventual”, explica.

O tenente André Felipe Satel, comandante da 2ª Companhia da PM de Matinhos, explica que o número real de incidentes é provavelmente maior, já que muitos casos de animais soltos ou ataques de menor gravidade não são relatados à polícia. Foto: Felipe Luiz Alves/JB Litoral

O que vai acontecer com o cachorro?

De acordo com o tenente Satel, a atuação dos policiais se limita à esfera criminal, porém, a equipe aciona os órgãos competentes para recolher os animais envolvidos, como a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de cada cidade. No caso de Matinhos, o cão, chamado Koda, foi recolhido pela pasta e, na última sexta-feira (16), encaminhado para uma clínica veterinária em Curitiba, segundo o secretário municipal de Meio Ambiente, Sérgio Cioli.

Nós o resgatamos na segunda-feira e ele veio para a Secretaria. O nosso médico veterinário fez um laudo constatando que o cachorro estava um pouco anêmico e desnutrido, mas não podemos afirmar que ele estava sendo maltratado. Então, nós o colocamos em um bom tratamento com vitaminas e uma boa ração”, diz Cioli ao JB Litoral.

Ele explica que o cão não será devolvido ao antigo tutor e que a família concordou com a decisão, que também levou em consideração a revolta popular após o ataque. A preocupação se dá por conta da possibilidade de os moradores acabarem matando o animal devido à indignação.

Ele vai para Curitiba, onde ficará em quarentena por 20 dias para fazer todos os exames necessários e atualizar as vacinas, pois solicitamos a carteira de vacinação ao antigo dono e não recebemos. Depois disso, ele irá para uma chácara, onde ficará com outros cachorros e animais. Lá, o Koda ficará disponível para adoção. A ideia dessa chácara é socializá-lo, proporcionando contato com outros animais e pessoas que cuidam dele, como adestradores. Isso também ajudará a diminuir seu estresse, pois notamos que ele está um pouco estressado”, afirma Sérgio Cioli, que faz questão de destacar que o animal é dócil e que o ataque fatal foi uma surpresa para todos.

O secretário de Meio Ambiente de Matinhos, Sérgio Cioli, explica que o cão não será devolvido ao antigo tutor e que a família concordou com a decisão, que também levou em consideração a revolta popular após o ataque. Foto: Felipe Luiz Alves/JB Litoral

Donos de animais precisam se conscientizar


Para o tenente Satel, a mensagem principal que a tragédia recente deixa é a necessidade de conscientização dos donos e tutores de animais, especialmente daqueles de grande porte, sobre as responsabilidades envolvidas no cuidado e manejo desses animais. Ele informa que grande parte das ocorrências em que a PM é acionada se refere a cães e cavalos soltos nas ruas, o que pode ocasionar acidentes perigosos.

Orientamos que os donos redobrem os cuidados com seus animais, especialmente ao entrar e sair de casa. Mesmo que o animal seja manso, ele pode representar um perigo. É importante que as pessoas entendam a responsabilidade de ter um cachorro. Muitas vezes, a falta de cuidado, como não usar coleira ou focinheira, pode causar acidentes. E também tem a questão dos cavalos que, por serem grandes, podem ocasionar acidentes de grande monta, especialmente nas estradas”, afirma o policial.


Quem cria animais na rua também pode ser responsabilizado


O tenente também orienta as pessoas que, embora não se considerem donas do animal, o alimentam na rua e colocam “casinhas” em frente às suas residências. “São comuns casos em que as pessoas colocam casinhas em frente às suas residências e criam os animais ali, na rua, deixando os cães soltos. É importante destacar que essa pessoa pode ser responsabilizada se o animal adotar aquele local como seu território e atacar alguém“, informa.

Em Matinhos, por exemplo, existe a Lei Municipal 2036/2019, que determina, em seu artigo 17, que “é obrigatório conduzir animais em vias públicas com coleiras e guias adequadas ao seu tamanho e porte, sendo que os animais bravos devem ser conduzidos com o uso de focinheira”. Caso a legislação seja desrespeitada, o dono ou tutor do animal pode ser responsabilizado civil e criminalmente, a depender das consequências geradas.

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