Por Marinna Protasiewytch
Em pleno século 21, atos de racismo ainda são noticiados. Desta vez, um caso, que aconteceu em Guaratuba, na sexta-feira (28), espantou a todos. Uma senhora, de aproximadamente 50 anos, compareceu a um restaurante para comprar uma marmita e se recusou a ser atendida por um dos funcionários. O motivo, segundo testemunhas, seria a cor da pele do atendente. A dona do local fez uma postagem nas redes sociais indignada com o ocorrido.
“Nós estávamos no caixa, ela chegou e eu abordei para perguntar o que ela precisava, a cliente não me respondeu e se direcionou ao meu outro funcionário. Ela disse que queria um marmitex e ele orientou a ir próximo de um dos buffets. Quando o ‘Café’ foi atendê-la, ela se afastou e disse “você eu não quero!”, contou Josiele Nunes dos Reis Aguiar, proprietária do restaurante.
Nas imagens do vídeo, é possível ver o momento em que a mulher se afasta e os funcionários então trocam de lugar, e um rapaz branco faz o atendimento. “Meu outro funcionário se dirigiu a ela e questionou ‘mas por que não pode ser ele?’ e a senhora respondeu ‘eu não gosto da cor dele’”, revelou a dona.
Em entrevista ao JB Litoral, o garçom Evilásio José Santana Filho, de 49 anos, mais conhecido como Café, contou que se sentiu humilhado e que achava que isso era coisa de filme, pois só tinha visto na TV. “Eu estou chateado com o que aconteceu comigo, vou fazer uma denúncia e só quero justiça. Me senti mal, não queria mais voltar a trabalhar, muito triste e magoado. Não gostei da reação da mulher, fiquei em choque quando ela falou aquilo. Eu já vi na televisão e pensava que faziam isso para tirar dinheiro dos outros, mas ontem eu senti na pele, que é verdade”, falou chateado Evilásio.
Há uma equipe de reportagem, a mulher, a suposta agressora, negou ter sido ela a proferir as ofensas de cunho racial, mas o garçom a reconheceu. Segundo uma guaratubana, que não quis ser identificada, a mulher já é conhecida na região do bairro Piçarras, em Guaratuba, por xingar funcionários de um dos mercados. Testemunhas dizem que é comum esse tipo de comportamento.
Para Café não restou dúvidas, assim como para a proprietária do restaurante Cheiroso, Josiele Nunes dos Reis Aguiar, de que a mulher encontrada pela equipe de reportagem, após uma denúncia anônima, é a agressora. “Ela estava com a mesma jaqueta que esteve no restaurante, e estava usando quando a reportagem foi lá”, reconheceu a empresária. Outros relatos surgiram nas redes sociais, apontando que a mulher, identificada por “Marlene”, comete atos de discriminação em comércios da redondeza.
O retorno
Não satisfeita com a repercussão do caso, a senhora, suspeita de cometer atos de racismo no Restaurante Cheiroso, voltou a “atacar”. Em um vídeo gravado por pessoas que estavam no local onde o caso ocorreu, a mulher, que voltou ao estabelecimento para tirar satisfação, aparece dizendo que “meu pai me ensinou assim, tem que falar o moreninho, não falar de preto, não pode falar de nego”.
Os funcionários questionam e revelam o que ela disse no dia em que esteve no restaurante na semana passada. “Eu perguntei para a senhora e ela disse que não gostava da cor da pele dele”, disse um deles.
A agressora negou que teria cometido racismo contra Café, mas reiterou que não gostaria de ser atendida pelo funcionário. “Eu quero ser atendida por ele e por esse [fazendo menção a dois funcionários brancos]. Você não precisa nem chegar perto, tá bom? Desculpa [se dirigindo ao garçom Evilásio]”, contou um dos atendentes indignado.
O garçom registrou um boletim de ocorrência na delegacia de Guaratuba e o delegado responsável pelo caso, Leandro Stabile, disse que não é comum esse tipo de caso na cidade. “Não tem muitos casos em Guaratuba, não me lembro de outro esse ano. Ninguém foi ouvido ainda porque o B.O. foi registrado véspera do feriado, mas vai ser instaurado inquérito policial. A pena para o crime de injúria racial é de 1 a 3 anos de reclusão”, afirmou o delegado.
Reincidente
A gerente de um estabelecimento na região do restaurante contou que a mulher acusada de racismo esteve no local na segunda-feira. “Ela esteve aqui na loja, ela entrou no horário que estávamos abrindo. Um funcionário meu, o Roberson, que é moreno, ao sair da loja, ela se deparou de frente com ele e fez reverência. Ainda falou em tom alto: ‘agora tem que ser assim né, em tom de deboche’, nós ficamos olhando assustados sem entender porque ela falou aquilo quando fez aquela reverência na frente dele”, relatou Hellen Rodrigues.