Casa da Mulher Parnanguara oferece apoio psicológico e jurídico a mulheres vítimas de violência

Inaugurada em março, a Casa já atendeu dezenas de vítimas de violência doméstica


Por Luiza Rampelotti
Casa da Mulher – Imagens Juan Lima JB Litoral 30 08 2024-11

Mais do que um abrigo, a Casa foi projetada para oferecer uma rede completa de apoio, incluindo acolhimento físico, psicológico e jurídico, integrando diversos serviços especializados. Foto: Juan Lima/JB Litoral

Inaugurada em março deste ano, a Casa da Mulher Parnanguara, em Paranaguá, representa um marco na luta contra a violência doméstica no município. Construída com recursos da Secretaria Municipal de Assistência Social, a Casa recebeu um investimento de R$ 1.393.115,44. Mais do que um abrigo, a estrutura foi projetada para oferecer uma rede completa de apoio, incluindo acolhimento físico, psicológico e jurídico, integrando diversos serviços especializados.

1/5 Mais do que um abrigo, a Casa foi projetada para oferecer uma rede completa de apoio, incluindo acolhimento físico, psicológico e jurídico, integrando diversos serviços especializados. Foto: Juan Lima/JB Litoral
2/5 No espaço, mulheres em situação de violência doméstica podem encontrar acolhimento por até 72 horas, tempo suficiente para que medidas protetivas de urgência sejam concedidas a ela.
3/5 Casa conta com quartos, cozinha, brinquedoteca, jardim, canil, lavanderia, banheiros, entre outros cômodos.
4/5 Casa conta com quartos, cozinha, brinquedoteca, jardim, canil, lavanderia, banheiros, entre outros cômodos. Foto: Juan Lima/JB Litoral
5/5 Casa conta com quartos, cozinha, brinquedoteca, jardim, canil, lavanderia, banheiros, entre outros cômodos. Foto: Juan Lima/JB Litoral

Balanço dos atendimentos

Nos primeiros cinco meses de funcionamento, a Casa já acolheu nove mulheres em situação de emergência, além de ter oferecido apoio em grupo a 64 mulheres e atendimentos psicossociais individualizados a outras 34. Elas chegam ao local por diferentes vias: busca espontânea ou encaminhamentos pela Rede de Proteção, que inclui a Patrulha Maria da Penha, a Delegacia, o Ministério Público, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e o Conselho Tutelar, entre outros. A faixa etária predominante das atendidas varia entre 20 e 45 anos, todas em situação de vulnerabilidade social.

Apesar de os números de atendimentos ainda parecerem modestos, a equipe da Casa da Mulher Parnanguara ressalta a importância do trabalho realizado, especialmente no apoio psicossocial. “As mulheres atendidas individualmente têm se mostrado receptivas ao serviço de suporte psicossocial. Muitas delas nunca haviam passado por um atendimento psicológico humanizado e demonstram interesse em continuar o acompanhamento oferecido pela Casa, que tem sido fundamental para o processo de cura e empoderamento“, destaca Isis Chacon, psicóloga responsável pelo atendimento individualizado.

Os serviços oferecidos incluem acompanhamento psicológico individual e participação em grupos reflexivos, onde as mulheres podem refletir sobre suas experiências e ganhar autonomia para romper com o ciclo de violência. No entanto, segundo Isis, o estado emocional das pacientes ao chegarem à Casa é frequentemente delicado, marcado por traumas recentes e dependência emocional dos parceiros, o que torna o trabalho de empoderamento ainda mais desafiador.

Histórias de superação

Entre os casos atendidos, um dos mais impactantes, segundo a psicóloga, foi o de uma mãe de quatro filhos, agredida e expulsa de casa pelo companheiro. Sem conhecimento dos serviços disponíveis, ela passou a noite nas ruas com as crianças antes de ser acolhida pela Casa da Mulher Parnanguara. Chegando ao local apenas com a roupa do corpo e sem documentos, a mulher recebeu todo o suporte necessário para restaurar sua dignidade e autonomia.

Ela chegou à Casa sem nada, até sem os filhos, que haviam sido acolhidos pela Unidade de Acolhimento Infantil. Mas, aqui, ela recebeu todo o suporte psicossocial necessário. A equipe técnica realizou as articulações necessárias para que a mãe e as crianças pudessem viver em segurança. A mãe recuperou sua autonomia e independência financeira. As crianças estão frequentando a escola, e a família está sendo acompanhada pela Rede de Proteção à Mulher“, relata a Isis.

Integração e continuidade

A Casa da Mulher Parnanguara não atua de forma isolada. Ela opera em sinergia com diversas secretarias municipais, incluindo as de Assistência Social e da Mulher, além de outras políticas públicas de saúde, educação e trabalho. Essa integração é essencial para garantir o êxito do atendimento prestado. “Programas como a Carteira Lilás, que promove trabalho e renda, e o Capacita Mais Mulheres, voltado para a formação profissional, têm sido fundamentais para ajudar essas mulheres a reconstruírem suas vidas”, explica Luciana Picanço, secretária municipal da Mulher.

Sobre a quantidade de atendimentos realizados nestes cinco meses, Luciana destaca que os números refletem o impacto inicial do serviço na vida das mulheres em situação de vulnerabilidade, fortalecendo a política de enfrentamento à violência contra as mulheres em Paranaguá. Segundo a delegada de Polícia Civil, Maluhá Soares, os principais tipos de violência denunciados estão comumente associados à violência doméstica, incluindo lesão corporal, ameaça, injúria, difamação, vias de fato, perseguição e crimes sexuais. “Em relação ao estupro, confesso que aqui em Paranaguá o número de casos não é alto; é bem baixo“, comenta a delegada, destacando que, apesar disso, a preocupação com a segurança das vítimas é constante.

Para garantir a proteção dessas mulheres, a Delegacia adota todos os procedimentos disponíveis. “Solicitamos medidas protetivas de urgência. Quando o Poder Judiciário concede essas medidas, o agressor fica proibido de se aproximar e de entrar em contato com as vítimas. Se a mulher precisar que um policial a acompanhe até sua casa para retirada de pertences ou buscar algo, por estar com medo de que o agressor apareça, nós também podemos fornecer esse tipo de auxílio“, explica a delegada Maluhá Soares.

No entanto, segundo Luciana Picanço, os desafios ainda são grandes, especialmente na conscientização da sociedade sobre a importância e a disponibilidade dos serviços oferecidos na Casa da Mulher. “A compreensão da sociedade em relação às políticas públicas para mulheres ainda precisa de melhorias significativas. Por isso, é essencial ampliar a divulgação dessas políticas e orientar as mulheres sobre como acessar seus direitos”, conclui Luciana.

Sair da versão mobile