Conheça a história da festa mais agitada do litoral que foi adiada pela pandemia


Por Redação JB Litoral Publicado 15/02/2021 às 19h25 Atualizado 15/02/2024 às 19h40

Por Lucas Sarzi

“Começa na Ponta Grossa, termina ali na praça. O melhor de tudo, que ela é nossa. É muito boa e é de graça. Quem cai a gente segura, quem não cai a gente derruba. Pois sai da frente que vai passar, em primeiro lugar, a Banda de Guaratuba”. Quem passa o Carnaval no litoral do Paraná, pelo menos alguma vez na vida já ouviu essa marchinha, de uma das festas mais tradicionais de Guaratuba. História de 39 anos, que começou com um grupo de aproximadamente 10 amigos e se transformou em uma grande festa para 500 mil pessoas.

Aos 73 anos, o deputado Nelson Justus é um dos responsáveis pela criação da Banda de Guaratuba. Mas ele conta que surgiu por acaso e de uma brincadeira. “Nós estávamos num churrasco entre amigos e resolvemos sair de casa e participar de um bloco. Quando percebemos, tinha muita gente com a gente e vimos que começaria ali um evento que ficaria para a história da cidade”.

A primeira edição da Banda de Guaratuba foi com um tambor e uns pistons, usando um jipe velho. “Partimos da Rua Ponta Grossa, em direção à praia. Depois, andamos cantando e pulando Carnaval pela avenida principal de Guaratuba, até a Praça da Matriz. Acontece que percebemos que, ao chegar na avenida, o nosso grupo que era de 10 pessoas, se transformou em 200. Muita gente pulava em volta do jipe e da banda que nascia ali, cantando e dançando marchinhas tradicionais de Carnaval, numa festa que entrou madrugada adentro”, lembrou Justus ao JB Litoral.

Um ano depois, os amigos decidiram fazer de novo a mesma festa. “Mas resolvemos organizar um desfile da banda. Mandamos confeccionar camisetas, que vendíamos e destinávamos o lucro para doações. Naquele tempo tinha o Banestado e conseguimos até um caminhão de som. Fizemos um desfile que realmente foi bonito, porque todo mundo participou, Guaratuba inteira. Por isso a segunda-feira de Carnaval virou a tradição da Banda de Guaratuba”.

Do grupo de amigos, apenas Justus continuou com as atividades (Foto: Arquivo Pessoal)

De 10 amigos para 500 mil pessoas

Com o passar dos anos, Justus, que continuou cantando na Banda de Guaratuba, viu uma brincadeira com seus amigos virar coisa séria. “A banda foi crescendo de uma maneira assustadora. Nos anos seguintes, foram aumentando os trios elétricos e começamos a ter patrocinadores, que ajudavam a gente a contratar os músicos, os caminhões, até que chegou onde chegou hoje”.

Com a entrada do governo, que passou a apoiar a festa da Banda de Guaratuba, Justus disse que as coisas melhoraram ainda mais. “Ficou realmente profissional a coisa. Só quem já participou sabe do que eu falo. Sempre brinco que tem três coisas que as pessoas têm que conhecer antes de morrer: as Cataratas do Iguaçu, o Pantanal e a Banda de Guaratuba. Hoje é um evento do Paraná”.

“Criamos uma tradição que se transformou no maior Carnaval do Sul do Brasil”, diz Justus

Segundo o deputado, que, do grupo de amigos que começou a Banda de Guaratuba, é o único que continua firme e forte até hoje, a brincadeira deu certo. “Sem que a gente nem imaginasse, criamos uma tradição que, sem dúvida nenhuma, se transformou no maior Carnaval do Sul do Brasil. Fomos profissionalizando a coisa, a prefeitura começou a participar, e nós fomos comandando a coisa. Nos últimos anos, vimos passar por Guaratuba de 400 a 500 mil pessoas na avenida. Virou realmente uma festa muito bonita”.

Embora seus amigos tenham parado com o tempo, muitos porque cansaram mesmo, até hoje Justus é o responsável por organizar a festa toda em Guaratuba. “Faço essa coordenação toda porque alguém tem que fazer mesmo, porque as pessoas que começaram junto comigo foram abandonando. Mas tenho passado para a frente também, atualmente minha neta já comanda a banda das crianças, que fizemos ano retrasado e ano passado, teríamos esse ano”.

Banda é democrática, reúne gente de todas as idades, credos e gêneros (Foto: Divulgação/Prefeitura de Guaratuba)

O Carnaval de Guaratuba, na avaliação de um dos responsáveis pelo pontapé inicial, virou um grande acontecimento. “E percebam que a banda é mais democrática que eu já vi, porque abrange todos: tem velho, jovem, criança. Gente de todos os credos. O objetivo é a diversão. Hoje são quatro dias de festa, mas ainda assim o forte continua sendo o desfile da banda”.

Pandemia adiou a tradição

Neste ano, Justus contou ao JB Litoral que a tão tradicional Banda de Guaratuba teria um show para agitar o litoral inteiro. “Nós teríamos Ivete Sangalo este ano. Era uma grande surpresa, que iríamos deixar para divulgar mais perto, mas a Ivete, rainha do Carnaval da Bahia, viria para abençoar a nossa festa”.

Por conta da pandemia, o evento mais tradicional do litoral paranaense teve que ficar para depois, mas é justamente isso que Justus alerta: adiado e não cancelado. “É a primeira vez, em quase 40 anos, que não vamos ter a Banda de Guaratuba. Mas também tem sido a primeira vez que a gente enfrenta um vírus tão avassalador e destruidor, então temos que entender tudo isso e aceitar o momento”.

Justus comentou ter visto muita gente triste com o adiamento do Carnaval 2021, mas reforçou que é importante entendermos o motivo de neste momento não podermos comemorar. “É um ano atípico. A gente fica triste, é inevitável, mas temos que viver isso. Temos que encarar com tristeza, muita responsabilidade, porque não foi só a banda que parou. O mundo parou, quantas pessoas se foram. Temos que evitar aglomeração neste momento para que as coisas melhorem logo”.

Festa ainda pode acontecer?

Se tudo der certo, a programação da prefeitura de Guaratuba até encara com esperança a possibilidade de que a festa tradicional da cidade não fique para o ano que vem. “Pela programação, pode acontecer em outubro deste ano. Pelo menos um dia sairá a Banda de Guaratuba, mas ainda é um plano, um projeto, pois não sabemos como vai estar a pandemia. Tudo vai depender de como vão ser os próximos meses”, adiantou.