Covid-19 é a causa de uma em cada três mortes em Guaratuba

Por Brayan Valencio

Desde a primeira morte por Covid-19, registrada em julho de 2020 em Guaratuba, 111 pessoas perderam a vida para a doença na cidade. Mas os dados do Instituto de Registro Civil de Pessoas Naturais do Paraná (IRPEN-PR) mostram o quanto a pandemia ficou mais letal em 2021. Só nos primeiros quatro meses deste ano, foram 85 óbitos, sendo que em todo o ano passado ocorreram 26 mortes por Covid-19, um aumento de 226% nos números registrados.

Em 2021, os óbitos devido ao vírus representam 76% do total de falecimentos no período. O que significa que a cada quatro pessoas que morreram do novo coronavírus, três são deste ano.

A cidade viu a pandemia chegar ao ápice em março de 2021, quando registrou 43 óbitos em decorrência das complicações do vírus Sars-CoV-2. Ao longo dos dez meses de mortes computadas, novembro não teve nenhum falecimento por Covid-19 e a faixa-etária de 60 a 69 foi a que contabilizou mais mortes: 37 pessoas no total.

Segundo os dados, a condição do município sofreu grandes alterações ao longo dos últimos meses, tendo registrado 325 falecimentos gerais (Covid, acidentes, mortes naturais) sendo, desses, 111 exclusivamente causados pelo novo coronavírus, número que representa 35% do total de mortes na cidade. Ou seja, a cada três óbitos em Guaratuba, ao menos um foi devido ao agravamento da infecção viral.

Últimos meses batem recorde

Com uma média de quatro mortes de julho a dezembro, a virada do ano se demonstrou mais letal, já que os dados revelam que o atual ano teve um crescimento exponencial de falecimentos, com média de 21 óbitos em Guaratuba, até o mês passado.

Março, que computou 43 mortes, viu os casos crescerem entre os mais idosos, mas também não poupou a faixa-etária dos 30 aos 59 anos, grupo considerado não-prioritário na vacinação. Entre os mais jovens, 16 pessoas não sobreviveram, 37% dos números do mês, revelando que a cada seis que perderam a vida, em março, pelo vírus, duas não estavam na categoria considerada como de maior risco.

Outro número preocupante, na classificação da pandemia, está no cálculo total da média de mortes, que revela que a cada três falecimentos, de julho a abril, uma foi em decorrência da Covid: a média de mortes de julho a abril, em Guaratuba, foi de 32 óbitos mensais (sendo 21 por motivos diversos e 11 devido à nova virose).

Com falta de leitos e de oxigênio, em diversas regiões do país, janeiro (8 óbitos) não representou um número alto para a cidade, mas o mês seguinte mais que dobrou as notificações (19 mortes em fevereiro). Março (43 óbitos), novamente fez um número maior que o dobro do mês anterior e atingiu um novo recorde, um aumento de 514% de janeiro a março. Abril (17 mortes) voltou a ter um número menor que os outros meses de 2021, mas ainda superior a qualquer mês do ano passado.

Cartorários passam por momento difícil

A pandemia modificou as rotinas produtivas de diversos setores, mas atingiu em cheio as atividades diárias dos cartórios, devido ao aumento de óbitos. Elisiane Jarnicki de Carvalho, escrevente substituta do Cartório de Registro Civil e Anexos de Guaratuba, diz que, desde o ano passado, trabalhar tem sido complicado devido aos novos desafios. “Estamos sobrecarregados, não só com o volume de serviço dos últimos meses, mas também com a sensação de ansiedade e insegurança que sentimos cada vez que recepcionamos os documentos para registro de óbito, onde a causa mortis foi dada como Covid-19, já que os mesmos podem estar contaminados e, em função do plantão de óbito, não podemos deixar de manipular superfícies contaminadas ou deixar de atender ao familiar que também pode estar contaminado”, explica a escrevente, que também ressalta haver um crescimento “absurdo” de óbitos durante a pandemia de Covid-19.

Para Elisiane, não há a hipótese de não trabalhar ou de manter em sistema remoto, como outras atividades. “Por ser um serviço que lida com o direito personalíssimo, não podemos deixar de trabalhar. Sendo assim, a única solução viável para resguardar a saúde dos funcionários e o ambiente interno do cartório, sem prejudicar a população, foi prestar o atendimento ao público pela janela. Para tanto, solicitamos que todos os clientes usem máscara, mantenham o distanciamento e estamos constantemente higienizando as mãos e o nosso material de trabalho com álcool em gel e álcool 70”, diz.

A funcionária também cita a insegurança em lidar com familiares e documentos que possam estar contaminados e afirma que isso desgasta o emocional, mas ressalta que há uma condição que mexe mais com o psicológico dos trabalhadores do cartório. “A pior parte é a tristeza que a gente sente ao perceber tantos rostos conhecidos em meio aos documentos, e é mais triste ainda pensar em tantas famílias enlutadas por perder um ente familiar para uma doença cuja vacina já existe”, conclui a escrevente.

Paranaguá não divulga mortes

Buscando apurar os dados, desde a semana passada, a equipe do JB Litoral entrou em contato com o IRPEN-PR para conseguir informações sobre Guaratuba e Paranaguá. Durante a checagem, descobriu-se que o cartório de registros civis de Paranaguá não envia as informações de óbitos do município ao órgão estadual.

O provimento nº 46/2016, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), prevê que os cartórios devem enviar seus registros, à Central Nacional, em até oito dias após a efetuação do óbito.

Procurados pela equipe de reportagem, os responsáveis pelo cartório informaram apenas que, até a terça-feira (01), as informações estariam disponíveis no banco de dados do IRPEN.