Denúncia contra motorista de aplicativo mobiliza mulheres e a polícia no Litoral; ameaça e injúria estão entre os crimes investigados
Uma forma de transporte que vem se tornando uma alternativa para quem precisa ir com frequência a Curitiba ou em horários diferentes dos disponíveis por meio de ônibus intermunicipais. Os aplicativos (app) de carona estão cada vez mais populares entre toda a população do Litoral. Mas uma postagem na rede social de uma influenciadora digital de Paranaguá, Eluana Gasperi, feita no início da última semana, repercutiu após virar caso de polícia. No post, Eluana relata o que aconteceu com ela no mês de julho, ao combinar uma corrida pelo app BlaBlaCar e, após isso, ser ameaçada, xingada e perseguida pelo motorista.
Do registro à repercussão
No último sábado (17), o conteúdo já havia sido compartilhado mais de 24 mil vezes. Nele, a jovem de 26 anos conta que combinou uma corrida pelo app, mas que o motorista não apareceu no local combinado e que, dias depois, no final do mês de julho, começou a importuná-la por WhatsApp. O relato foi registrado por meio de Boletim de Ocorrência (B.O), na Delegacia Cidadã de Paranaguá, na última terça-feira (13).
Eluana conta que após demonstrar que estava incomodada, além de ser xingada, também foi ameaçada. “Quando resolvi procurar a polícia e expor o caso nas redes sociais, foi com a intenção de fazer um alerta para outras mulheres. Mas eu não tinha ideia da proporção que isso iria tomar, que já existiam tantas vítimas dele. Estou à espera de uma medida protetiva para mim e meus filhos, pois ele ameaçou a minha família inteira. Está um sofrimento, eu não consigo sequer enviar meus filhos para a escola“, disse.
Mais vítimas
A publicação de Eluana tem mais de 1.200 comentários, muitos deles de outras mulheres relatando que também foram vítimas do mesmo motorista, que se apresenta com vários nomes diferentes, mas sempre com a mesma foto.
“Ele tentou me forçar a ficar com ele e me ameaçou várias vezes na rodoviária de Paranaguá, desviou o caminho e até hoje tenho receio de encontrar ele“, relatou uma seguidora.
“Ele me buscou em casa, eu fui com outros passageiros, mas todos desceram antes e só eu fiquei para descer no Posto Shell. Como ele viu que só eu fiquei, já veio com conversa fiada. Foi horrível, ele me deixou lá mas falou coisas horríveis para mim, me humilhou, ameaçou que iria me bater. Eu cheguei tremendo e chorando, isso nunca aconteceu comigo. Registrei boletim de ocorrência“, disse outra.
“Eu registrei um B.O contra ele em 2022 aqui em Matinhos, a situação foi a mesma que muitos relatam. Ele é grosseiro e ameaça as pessoas, até me ameaçou de morte se eu aparecesse no Posto Shell para pegar carona depois de ter cancelado a dele. Tenho prints até hoje”, descreveu mais uma mulher.
“Já peguei com ele também. Me ameaçou quando disse que iria cancelar, sendo que faltava três horas para a viagem”, contou mais uma das centenas de mulheres que comentaram na publicação feita no perfil de Eluana, no Instagram.
O que diz a polícia
De acordo com Wesley Moreira, delegado que atua na Delegacia Cidadã de Paranaguá, o caso já está sendo investigado. “Nós esclarecemos que foi realizado o registro da ocorrência pela vítima, tendo sido anexado todo o material trazido por ela. De acordo com os fatos apresentados pela vítima, a capitulação dada ao caso é pelo delito de ameaça. Nós informamos que a investigação será conduzida conforme preceitua a lei e a Polícia Civil se coloca à disposição de toda a população parnanguara”, afirmou.
Além da esfera policial, os casos também estão sendo acolhidos pelos poderes Legislativo e Executivo de Paranaguá. A vereadora Isabelle Dias (PSDB), que também é procuradora da Mulher, no Palácio Carijó, se manifestou por meio de suas redes sociais. “Assim que tomamos conhecimento das denúncias feitas por várias mulheres contra um suposto motorista de aplicativo da empresa BlaBlaCar, protocolamos um ofício informando os fatos à empresa e solicitando a exclusão ou suspensão imediata do veículo envolvido nos incidentes. Em resposta, a empresa informou que a pessoa citada atualmente não possui nenhum perfil ativo na plataforma”, revelou Isabelle, que também fez uma recomendação às mulheres. “No entanto, isso não impede que ele continue a oferecer ‘corridas’ de forma particular, especialmente em pontos estratégicos, como a rodoviária. Portanto, é fundamental mantermos a atenção redobrada e orientarmos as vítimas a procurar a delegacia de polícia para registrar o Boletim de Ocorrência”, completou.
Apoio jurídico e psicológico
Já a secretária municipal da Mulher, Luciana Picanço, lamentou os acontecimentos, reforçou a importância do registro oficial dos casos e afirmou que as vítimas terão apoio jurídico e psicológico. “Tanto a Secretaria da Mulher quanto a Rede de Proteção à Mulher estão à disposição para oferecer todo o apoio necessário, seja jurídico ou psicológico. Também estamos em contato com a delegacia e com o Ministério Público. No entanto, para que possamos avançar, é essencial que o B.O. seja registrado, esse é o primeiro passo. Além disso, é importante que as vítimas relatem o incidente aos aplicativos”, afirmou a secretária.
O que diz a empresa
O JB Litoral também procurou a BlaBlaCar, cuja assessoria de imprensa fica localizada em São Paulo. Segundo nota enviada pela plataforma, a empresa considera inaceitável qualquer tipo de violência e reforça a importância de combater e denunciar casos dessa natureza. A BlaBlaCar também reforça que não há perfil ativo atribuído ao motorista denunciado e que segue “aplicando ações de inteligência para impedir novas atividades deste usuário”.
“A empresa se coloca à disposição das autoridades para contribuir com eventuais investigações e reforçamos a orientação de que todas as interações entre os membros só podem ser feitas dentro da nossa plataforma, desde o contato inicial entre condutor e passageiro, em que constam informações como nome e placa do veículo, até a finalização da carona. Viagens realizadas fora do aplicativo não configuram uma viagem pela BlaBlaCar e não dispõem das ferramentas de tecnologia e processos de segurança oferecidos pela plataforma”, orientou a empresa.
“Ressaltamos ainda a importância de conferir se as informações do membro são as mesmas que estão no app no momento do embarque. Caso alguma informação não esteja correta, o usuário deve cancelar a viagem e reportar o ocorrido no aplicativo. Contamos com equipes que monitoram comportamentos para identificar violações aos nossos Termos e Condições e, caso comprovadas, banir os envolvidos”, finalizou a nota.