DNA de familiares de pessoas desaparecidas pode solucionar casos como o de Leandro Bossi de Guaratuba


Por Redação Publicado 25/06/2021 às 18h32 Atualizado 16/02/2024 às 06h10

Em 15 de fevereiro de 1992, desapareceu, em Guaratuba, o menino Leandro Bossi, de apenas sete anos de idade. Um caso que voltou a ecoar recentemente devido ao podcast, série documental e livro “O Caso Evandro” – que fala sobre o desaparecimento de crianças no Paraná na década de 90, principalmente na cidade – e que nunca foi solucionado.

Quase 30 anos depois, no sexto dia deste mês, desapareceu, em Paranaguá, um adolescente de 16 anos, Roberto Lemes dos Santos Junior. Diferente do caso de Leandro, este desaparecimento foi pouco discutido e noticiado em nível estadual, apenas na região.

Leandro e Roberto são apenas duas das 237 pessoas desaparecidas no litoral, de acordo com o Sistema de Pessoas Desaparecidas da Polícia Civil do Paraná. Todos esses crimes sem solução, e com poucos – ou nenhum vestígio, ganham uma esperança de elucidação com a coleta de DNA de familiares desaparecidos, que começou a ser feita, na última segunda-feira (14), pela Polícia Científica do Paraná.

A ação, elaborada pelo grupo de trabalho da Rede Integrada de Banco de Perfis Genéticos, do Ministério da Justiça e Segurança Pública junto com a instituição paranaense, busca dar respostas às centenas de casos de desaparecidos em todo o Estado, inclusive no litoral.

O diretor-geral da Polícia Científica, Luiz Rodrigo Grochocki, explicou que a campanha de coleta do DNA de pessoas desaparecidas tem o objetivo de acabar com a dúvida das famílias. Segundo ele, com um maior número de amostras no Banco Nacional de Perfis Genéticos, será mais fácil encontrar o paradeiro dessas pessoas em qualquer lugar do Brasil.

“Colher o DNA é importante não só para o nosso trabalho aqui no Paraná, pois todas as polícias científicas do país terão acesso aos dados. Muitas vezes, o perfil das pessoas que estão desaparecidas pode estar em qualquer lugar do Brasil, inserido no banco, mas se você não tiver o material dos familiares para o confronto de amostras, o caso pode ficar sem solução”, detalhou.

Na prática, a coleta de amostras biológicas de familiares é para a inclusão nos bancos de perfis genéticos por meio de encaminhamentos das amostras, de referências diretas da vítima desaparecida. Os materiais podem ser coletados, além de amostras de sangue e saliva, por meio de objetos pessoais como escova de dentes e aparelho de barbear, entre outros.

Segundo divulgação da Polícia Científica, serão coletadas, preferencialmente, amostras de dois familiares de primeiro grau, seguindo a ordem de preferência, com os pais em primeiro, depois filhos e cônjuges (pai/mãe do filho); e os irmãos. Os indícios poderão ser confrontados com restos mortais não identificados (ossada) e pessoas de identidade desconhecida cadastradas no Banco de Perfis Genéticos, exclusivamente para fins de identificação humana.

A coleta das amostras de DNA

Os materiais podem ser coletados, além de amostras de sangue e saliva, por meio de objetos pessoais
Crédito: Josiane Perius / Sesp

Para a coleta é necessário fazer um agendamento em qualquer sede do Instituto Médico Legal (IML) do Paraná. No entanto, para a marcação, é preciso ter um Boletim de Ocorrência Unificado (BOU) aberto sobre o desaparecimento da pessoa procurada. Além disso, o registro deve ter um período mínimo da ausência do familiar (cerca de 30 dias – podendo variar conforme a circunstância do fato) com o objetivo de garantir que tenha uma investigação policial.

Em Paranaguá, dos familiares de duas crianças e das 120 pessoas com mais de 12 anos, que estão desaparecidas na cidade, até o momento, uma coleta foi realizada. “Por enquanto, apenas uma família nos procurou”, contou ao JB Litoral o chefe-adjunto da Polícia Científica de Paranaguá, Anderson Marciniak Peres. É válido lembrar que o IML parnanguara atende as demandas dos sete municípios do litoral, ou seja, os parentes de primeiro grau dos 237 de desaparecidos da região podem procurar a unidade para agendar o recolhimento do material.

Para o delegado operacional da 1ª Subdivisão Policial de Paranaguá, o vereador Nilson Diniz (PSL), as famílias disponibilizarem o material para o confronto genético é essencial.

“Isso é bastante importante, pois no decorrer das investigações podemos encontrar objetos com resquícios orgânicos, da qual se pode extrair o DNA. Em segundo, que obviamente não é o que a gente deseja usar, eventualmente se uma vítima de crime for encontrada, a gente tem como submeter, também, a um confronto genético com as amostras dos familiares dos desaparecidos. Sem dúvidas, isso vem para enriquecer investigações e os trabalhos técnicos das polícias”, explicou.

A família de Leandro

Procurado pelo JB Litoral, o meio-irmão por parte de pai do menino Leandro, Lucas Steffen Bossi, relatou que amostras da família já foram coletadas a fim de que esse recurso possa ajudá-los a chegar em uma resposta para o mistério envolto de seu desaparecimento.  No entanto, o material foi colhido na unidade da Polícia Científica de Curitiba, por motivos que Lucas desconhece.

“Como sou filho do segundo casamento do João Bossi, sou meio-irmão do Leandro. Por isso, não fiz a coleta, mas nosso outro irmão, Ademir Bossi, e a mãe deles, Paulina Bossi, já tiveram as amostras de DNA colhidas”, contou Lucas.

A reportagem procurou Ademir para saber como foi o recolhimento dos materiais e quais são as perspectivas de, com isso, solucionarem o caso de Leandro Bossi. Contudo, até a publicação desta reportagem, os contatos não foram respondidos. João Bossi, o pai dos três, morreu em maio deste ano. Desde 1992, ele não desistiu de encontrar Leandro.

A Família de Roberto

Como Leandro Bossi era quando desapareceu, em 1992, e projeção de como poderia estar
Crédito: Divulgação PCPR

Embora o desaparecimento de Roberto ainda não tenha completado um mês e, por isso, a amostra de DNA de sua família ainda não possa ser coletada, sua mãe, Francieli Barbiery, já se antecipou.

“Eu estou desesperada, não aguento mais a angústia de procurar meu filho. Assim que me falaram sobre a coleta de DNA, fui até o IML de Paranaguá para me informar. Eles me falaram que, assim que possível, eles vão agendar para eu fazer o exame”, desabafou a mãe de Roberto. “Quero que coletem meu DNA, mas meu coração sente que meu filho está vivo, em algum lugar”, completou.

O banco de perfil genético

A Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG) foi criada com o objetivo de manter, compartilhar e comparar perfis genéticos para ajudar na apuração criminal e no processo de investigação, inclusive de pessoas desaparecidas.

Até a divulgação do último relatório, em novembro de 2020, o Banco Nacional de Perfis Genéticos contava com mais de 91 mil perfis cadastrados, sendo mais de 5,5 mil mapeados pela Polícia Científica do Paraná. O dado insere o Estado na sexta colocação com a maior contribuição absoluta de perfis genéticos no Banco Nacional.

Por Karla Brook