Em três meses de temporada, IAT emite apenas 12 licenciamentos para instalação de novos empreendimentos no Litoral


Por Redação
Os licenciamentos para novos empreendimentos no Litoral foram duas vezes menos do que em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Foto: Roberto Dziura Jr/AEN
Os licenciamentos para novos empreendimentos no Litoral foram duas vezes menos do que em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Foto: Roberto Dziura Jr/AEN

No dia 19 de março, às vésperas do término do verão, o Instituto Água e Terra (IAT) anunciou a emissão de 72 licenciamentos ambientais no Litoral durante a temporada de verão 2023-2024. No entanto, segundo o órgão, apenas 12 desses licenciamentos foram destinados à instalação de novos empreendimentos na região, no período compreendido entre 21 de dezembro de 2023 e 20 de março de 2024.

Conforme relatório do IAT, esses licenciamentos abarcam uma variedade de projetos, desde a construção de novas edificações e plantas industriais até a implementação de uma usina de geração hidrelétrica e postos de combustível. Além disso, obras de interesse público, como o desassoreamento de rios e a revitalização da região de molhes em Pontal do Paraná, também foram contempladas. O investimento total estimado para esses projetos atinge a quantia de R$ 115.104.588,05, com a expectativa de criação direta de 200 novos postos de trabalho.


Novos empreendimentos


Dentre os projetos de destaque, a empresa Cattalini Terminais Marítimos S.A. planeja investir R$ 90 milhões na expansão de sua planta em Paranaguá, visando fortalecer a infraestrutura portuária da região. Enquanto isso, a Cacatu SPE Ltda. deve destinar R$ 2,6 milhões para a construção de uma Central Geradora Hidrelétrica em Antonina, promovendo fontes de energia limpa e renovável.

Por sua vez, a empresa MCE Participações Ltda., com uma injeção financeira de R$ 3 milhões, visa impulsionar o setor imobiliário em Guaratuba, especializando-se em instalações industriais, galpões, centros de distribuição e condomínios industriais.

Trabalhamos em diversas áreas do licenciamento durante todo o verão, desde atividades poluidoras, investimentos imobiliários, obras de utilidade pública e autorizações florestais. A dedicação de todos fez com que as liberações saíssem do papel”, afirma a engenheira química do Escritório Regional do IAT no Litoral, Luísa Serenato.


Será que é muito?


Inicialmente, os números sugerem um cenário favorável para o Litoral, indicando investimentos e a criação de empregos. No entanto, uma investigação conduzida pelo JB Litoral, por meio do Sistema de Gestão Ambiental (SGA) do IAT, revelou que o número de novos empreendimentos na região litorânea é consideravelmente inferior em comparação com outros municípios.

Na pesquisa, o JB Litoral usou as mesmas modalidades de licença utilizadas pelo IAT para determinar a quantidade de novos empreendimentos no Litoral, como: Licença Ambiental Simplificada (LAS), Licença Prévia (LP), Licença de Operação de Regularização (LOR) e Licença de Instalação/Ampliação (LI-A). E, ao comparar com São José dos Pinhais, município da Região Metropolitana de Curitiba que possui 329 mil habitantes, quantidade semelhante à região litorânea, com aproximadamente 300 mil moradores, a disparidade é notável.

Enquanto, segundo o IAT, o Litoral inteiro (com sete cidades) registrou apenas 12 licenciamentos para novos empreendimentos no período citado, somente São José dos Pinhais obteve o dobro, isto é, 24 licenciamentos, de acordo com a pesquisa realizada pelo JB.

Essa diferença também é evidente se comparada com dados anteriores. Na temporada de verão 2022/2023, o Litoral registrou 15 licenciamentos para a instalação de novos empreendimentos, enquanto São José dos Pinhais alcançou 27 licenciamentos.


O processo é lento


Mas por que essa discrepância? Para entender melhor, o JB Litoral conversou com o consultor ambiental Caio Fernandes, especialista em licenciamento ambiental. Segundo ele, o Litoral do Paraná enfrenta desafios notáveis em relação à emissão de licenças, destacando-se como uma das regiões onde esse processo é mais demorado no Brasil.

É importante ressaltar que essa demora não está relacionada a irregularidades nos pedidos de licenciamento, mas sim à falta de eficiência da estrutura administrativa, que não está adequadamente preparada para atender à demanda“, explica Caio Fernandes.

Ele destaca o exemplo de São José dos Pinhais, onde a colaboração entre a Prefeitura e o IAT tem acelerado os processos de licenciamento ambiental. Essa colaboração é possível devido à integração do município ao Sistema de Gestão Ambiental, ferramenta eletrônica criada pelo instituto que permite a descentralização e a agilização da emissão de licenças ambientais em até 60%. Esse modelo de licenciamento descentralizado foi implementado em 2021, através da Resolução CEMA nº 110/2021.

Atualmente, a Prefeitura de São José dos Pinhais tem autorização para analisar 29 tipos de atividades, distribuídas em seis grupos distintos, o que contribui significativamente para a agilização das emissões de licenças“, acrescenta o consultor ambiental.


Litoral não tem autonomia na emissão de licenças


Ao contrário de São José dos Pinhais, as cidades do Litoral do Paraná ainda não adotaram esse modelo de descentralização, o que resulta em emissões de licenças mais demoradas. Para implementar essa abordagem, os municípios devem atender a uma série de requisitos que garantam sua capacidade de emitir licenças de forma autônoma.

Esses requisitos incluem a implementação e o funcionamento de um Conselho Municipal de Meio Ambiente, a criação e operação de um Fundo Municipal de Meio Ambiente, a existência de um órgão ambiental local competente, bem como a presença de servidores devidamente habilitados e capacitados para lidar com o licenciamento e monitoramento ambiental dentro do quadro próprio das prefeituras.

Além disso, é fundamental que cada município possua um Plano Diretor Municipal aprovado e em execução, contendo diretrizes claras para a gestão ambiental. Também é necessário estabelecer um Sistema Municipal de Informações Ambientais e elaborar normas regulamentadoras para as atividades administrativas relacionadas ao licenciamento, monitoramento e fiscalização ambiental.

Portanto, devido à falta de adesão dos municípios à descentralização dos licenciamentos, em decorrência da não observância dos requisitos necessários, as emissões de licenças ocorrem de maneira mais demorada“, conclui Caio Fernandes.

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