Visconde de Nácar, um centenário abandonado pelo descaso da Câmara Municipal


Por Redação JB Litoral
camara munucipal, visconde de nacar

Teto do Palácio Visconde de Nácar está semiaberto, com telhas faltando e exposto à chuva. Foto/Ronaldo Damasceno/JB Litoral

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Por Marinna Protasiewytch

Desde 2009, Paranaguá tem o tombamento do seu centro histórico. Junto com essa decisão, tomada pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), uma das construções mais emblemáticas da cidade também ganhou status de patrimônio cultural tombado: o Palacete Visconde de Nácar.

No entanto, o descaso tem sido a marca registrada do local. Em seus anos áureos foi responsável por abrigar uma das figuras mais importantes para a história brasileira, Dom Pedro II, que em 1880 visitou a província criada no local que hoje é a cidade de Paranaguá. Agora, abriga além de pombos, água da chuva, mofo e muita falta de consideração com o patrimônio cultural.

Durante o mês de outubro, a imagem do prédio tomou as redes sociais, com fotografias aéreas, e mostrando um buraco enorme no telhado e janelas abertas, o resultado foi a deterioração do espaço. A prefeitura foi procurada pelo JB Litoral e respondeu, por meio de nota, que “não tem responsabilidade sobre o prédio e que os questionamentos devem ser encaminhados à Câmara de Vereadores do município”.

Mesmo após a repercussão do assunto nas redes sociais, nas três sessões ordinárias realizadas na Câmara Municipal, em nenhuma delas foi colocado em pauta o problema envolvendo o Palácio Visconde de Nácar.

A reportagem buscou, então, o contato direto com o presidente do Legislativo, Waldir Leite (PSC), que assegurou que “foi aberto um processo de licitação tanto para a contratação de um serviço de segurança para a área, quanto para a restauração do prédio, porém, são processos que demoram para acontecer”. No entanto, não soube esclarecer qual será o prazo e como está o andamento do caso.

Procurados pelo JB Litoral, por meio da assessoria de imprensa, os responsáveis pela Câmara dos Vereadores não se manifestaram. A assessoria de comunicação da Câmara informou que somente responderia aos questionamentos por força da Lei de Acesso à Informação, com prazo de 20 dias, e, por isso, até o fechamento desta reportagem não foi possível incluir a manifestação.

Paredes do palacete possuem desenhos e pinturas escondidos pela tinta utilizada em reformas anteriores, dificultando a preservação da história do local. (Foto/Arquivo João Castilho)

Depredação

O prédio histórico, que para a trajetória parnanguara é primordial, passou a sofrer com a ação do tempo há muitos anos. No entanto, o principal problema, que envolve o Palacete, é a ação humana. Sem segurança e sem cuidado, o local teve suas calhas furtadas e as telhas retiradas para o ato. Dessa forma, o último andar ficou aberto, recebendo sol e chuva, e perdendo seu conteúdo histórico que está presente nas paredes, nos assoalhos e até no teto da construção. Segundo o vereador Jaime Ferreira dos Santos, o Jaime da Saúde (PSD), o assunto já foi discutido, mesmo que informalmente, com os representantes do Legislativo. “Nós já alertamos e ele [Waldir Leite] já sabe de tudo. Então estamos também no aguardo de uma iniciativa dele para começar a reforma do prédio ou falar o porquê de não ter feito até o momento”, declarou o Jaime.

Para João Ricardo Lelo Castilho, técnico em restauro e um dos responsáveis por parte do resgate das pinturas internas da área, o que se perde com o descaso é a história da cidade. “Antes tínhamos um funcionário fazendo expediente, cuidando do local, mas ninguém cuidava como deveria porque a discussão sempre se pautava se a responsabilidade era da prefeitura ou da Câmara. Após comprovar por documentos que era da Câmara de Vereadores, a chave que ficava sob meus cuidados foi pedida e mais ninguém tomou conta do prédio até então”, afirmou.

Salão interno demanda cuidados, pois contém peças originais nas esquadrias. (Arquivo João Castilho)

Uso do local

O Visconde de Nácar abrigou a Prefeitura, Câmara Municipal e, por último, virou sede de secretarias municipais e também do Procon de Paranaguá. Segundo João Castilho, após a saída do Procon, o prédio não foi mais utilizado e tem vivido momentos lamentáveis por conta da ação do tempo e de vândalos. “Sempre foi assim, enquanto utilizavam o local para alguma função, como o Procon e a Câmara, eles arrumavam, mas depois disso, agora com uma sede própria da câmara, eles abandonaram”, afirmou o servidor público.

Restauração

A promessa de uma restauração do local aconteceu em 2019, após uma reunião das autoridades públicas e alguns servidores. No entanto, quem passa pelo local consegue visualizar que nada foi feito. “A última reunião sobre o restauro do Palácio foi há um ano. Eu estava junto, só que parou e não fizeram mais”, destacou João Castilho.

Segundo o servidor “o telhado está com os madeirames todos novos e as telhas também. O Restauro é somente na parte de esquadrias (portas e janelas) e alvenaria”, pontuou. Sem o protocolo público do processo de licitação, para a restauração do palacete, é impossível informar em quanto tempo o prédio será recuperado. Até agora, a única certeza é de que nada está resolvido.

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