Paranaguá tem um a cada quatro óbitos devido à Covid-19


Por Redação
FOTO CEMITÉRIO NOSSA SENHORA DO CARMO

Mortes por Covid-19 no litoral cresce a cada dia. Foto: Diogo Monteiro/JBLitoral

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Por Brayan Valêncio

Dados divulgados pelo Instituto de Registro Civil de Pessoas Naturais do Paraná (IRPEN-PR) mostram que, em Paranaguá, 353 pessoas morreram devido ao agravamento da infecção viral pela Covid-19. Levando em conta o período de óbitos, a cada quatro, na cidade litorânea, uma foi causada pelo novo coronavírus.

O município, que tinha registrado o pico de mortes em julho de 2020, com 50 falecimentos, superou a média histórica em março de 2021, quando atingiu o número de 86 óbitos. Mas, já no mês seguinte ao recorde, a cidade teve 11 mortes relatadas, número que é maior apenas que abril, maio, junho e outubro de 2020. Os dados de maio de 2021, ainda não foram disponibilizados.

A escalada de mortes, diferente dos grandes centros urbanos, não têm crescimentos contínuos, platô (sequência plana no número de óbitos) e depois queda, sugerindo uma pandemia em formato de “ondas”. Há uma instabilidade, que, graficamente, lembram mais “batimentos cardíacos”, subindo em um mês, mas descendo forte no outro.

Com mortes acima dos 20 casos desde dezembro, a cidade atingiu o ápice em março, quando computou 86 óbitos devido à pandemia. Somente de janeiro a abril de 2021, as mortes já são superiores ao acumulado de abril de 2020, quando os quatro primeiros óbitos foram contados, até novembro de 2020. Ou seja, a cada duas mortes, uma aconteceu nesse ano.

Julho de 2020 (50 óbitos), foi o primeiro mês de aumento exponencial, sendo 525% superior ao mês anterior (8 falecimentos em junho). Outra grande variação aconteceu em dezembro, quando houve 46 óbitos, crescendo 146% no índice de mortes, comparado com o mês anterior (19 óbitos em novembro). Em 2021, a pandemia passou por sobe e desce nos números, somando 27 mortes em janeiro e 35 em fevereiro. Já março, representa uma a cada quatro mortes em toda a pandemia em Paranaguá, pois os 86 casos de falecimentos representam 25% do total, até o momento.

Idosos morreram mais

Paranaguá tem um a cada quatro óbitos devido à Covid-19. Foto Arquivo

O grupo prioritário na vacinação, composto por idosos acima dos 60 anos, foi o mais acometido pelas mortes ao longo da pandemia na cidade, representando dois a cada três falecimentos, segundo dados fornecidos pela assessoria de comunicação do IRPEN-PR. Ao todo, foram 248 idosos que não resistiram, ante a 105 mortes de pessoas com idade abaixo dos 59 anos. O grupo onde houve um número maior de óbitos foi o da faixa-etária entre 60 e 69 (92 mortes), seguido de perto pelas pessoas entre 70 e 79 (82 mortes). Outros casos que se destacam, são três mortes entre menores de 20 anos, dessas, uma criança tinha menos de 10 anos e não resistiu ao vírus Sars-CoV-2.

Os meses que computaram mais óbitos, também tiveram média elevada entre os idosos: 35 falecimentos em julho, 37 em dezembro e 52 em março. Esses números de óbitos de idosos são maiores que as mortes totais por covid, nos outros meses.

Mas, em meio a tantos falecimentos dos mais velhos, abril viu os dados despencarem de 52 para 9 mortes, redução de 82% de pessoas acima de 60 anos que não sobreviveram de um mês para o outro. Nesse mesmo período, houve maior imunização completa dos idosos, já que essa categoria esteve entre os primeiros a receberem doses das vacinas.

Em abril de 2021, os óbitos de idosos acima dos 70 anos foi igual a abril de 2020, quando houve as primeiras mortes no município: três casos. A diferença se dá na faixa dos 60 a 69, já que nesse ano foram seis mortes em abril e no primeiro mês de pandemia, apenas um.

Em comparação, entre março e abril de 2021, o grupo de 60 anos morreu três vezes menos, de um mês para o outro.

Mortes gerais também cresceram

Os meses que mais ocorreram mortes gerais (acidentes, covid, naturais), também são os mesmos que tiveram números elevados de óbitos na pandemia: 119 em julho e 124 em dezembro. Março de 2021, mês que traz os maiores números da covid-19, se mantém estável em comparação com as mortes gerais em janeiro e fevereiro, ou seja, apesar da maior mortalidade pelo vírus, as outras mortes reduziram no mês, fazendo então com que a média fique em 115 óbitos, um a menos que janeiro e três a mais que fevereiro. Em um ano de pandemia, 1288 pessoas morreram em Paranaguá dos mais variados motivos, desses óbitos, 27% são por complicações do novo coronavírus.

O IRPEN-PR apresenta dados demonstrando que, antes da pandemia, a média era de 80 mortes, na cidade litorânea, por mês. Após o avanço da doença, todos os meses computaram mais de 100 casos, com exceção de outubro, que registrou 89 falecimentos. Ou seja, com a chegada do vírus ao Brasil, houve um aumento contundente nos óbitos, levando o município a manter a média de 99 por mês.

Em contrapartida, os dados mostram inconsistência quanto aos óbitos gerais em abril de 2021, apontando 11 mortes por covid e outras 13 por motivos diversos. Com isso, os números do último mês não correspondem nem a 20% do que é comum no município.

A reportagem do JB Litoral não conseguiu contato com o Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais em Paranaguá.

Dados se tornaram públicos, após cobranças do JB Litoral

Foto: Diogo Monteiro/JB Litoral

Em busca do número total de óbitos nas cidades litorâneas, a reportagem entrou em contato com cartórios, funerárias e com o IRPEN, ao longo do último mês. Durante a coleta de dados, notou-se que não havia informações sobre os óbitos do município no banco de dados estadual. Na edição da semana passada, foi noticiado que a falta de transparência na quantidade de óbitos é uma transgressão ao provimento nº 46/2016 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que define que os cartórios precisam enviar os dados à Central Nacional em um período máximo de oito dias, após a documentação final do óbito do indivíduo.

Depois diversas tentativas de explicação, por parte do cartório responsável local, os dados entraram oficialmente nas estatísticas governamentais na última terça-feira (1). A falta de transparência e a dificuldade em conseguir contatar os responsáveis pelo Registro Civil, está em discussão nos órgãos regulamentadores, que devem buscar corrigir falhas e ausências de informações, ainda neste mês.

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