Pérolas sustentáveis: artesãs de Antonina produzem peças para o New York Fashion Week

Um trabalho que nasceu de uma iniciativa sustentável está transformando a vida de mulheres de Antonina em situação de vulnerabilidade social e levando o nome da cidade para além das fronteiras do Brasil. Isso porque quatro artesãs da pequena cidade começaram a produzir pérolas ecológicas, uma atividade minuciosa e artística que tem ganhado espaço nas passarelas internacionais, como a New York Fashion Week. A oportunidade foi oferecida pela Lecarle Jewels, uma marca de joias de Curitiba que une sustentabilidade e luxo.

Dessa forma, a combinação de talento, inovação e responsabilidade social tem gerado bons resultados, tanto para a empresa de joias quanto para as profissionais que desenvolvem as peças. Uma das artesãs conversou a respeito do trabalho que desempenha para a Lecarle. Verônica Luz, de 19 anos, compartilhou a sua experiência com o JB Litoral, destacando a sua independência financeira.

“Trabalhar com a Lecarle tem sido uma das melhores oportunidades da minha vida. Antes disso, nunca imaginei que poderia produzir algo tão delicado e sofisticado quanto essas pérolas feitas a partir de plástico reciclado. Graças a esse trabalho, conquistei minha independência financeira e posso ajudar em casa“, contou a estudante de pedagogia, que produz cerca de 700 pérolas por mês.

Com relação ao processo de produção das pérolas, Verônica relatou que tudo começa com a coleta de plástico, o qual é retirado de rios e mares. Ainda segundo ela, esse material vem de Curitiba, já lavado e picado. Depois disso, as artesãs misturam esse material com a resina, com o endurecedor e pigmentos, antes de colocá-lo em moldes para dar forma às pérolas.

“É um trabalho detalhado que exige paciência e dedicação. Fazemos em grande quantidade e damos acabamento ao longo do tempo. Enquanto umas são finalizadas, outras já estão sendo feitas. Depois de 24 horas de secagem, a pérola é lixada e finalizada à mão“, explica Verônica, que participou da produção de uma campanha de fotos para o desfile das peças no New York Fashion Week, que ocorrerá no próximo mês.

Além disso, a artesã comentou a respeito do perfil das mulheres que a empresa de joias costuma trabalhar. “A Lecarle visa bastante a mão de obra feminina, sempre procurando mulheres em situação de vulnerabilidade social, aquela mulher que é mãe solo, que não consegue emprego, e mulheres trans, como eu”, concluiu Verônica Luz, que trabalha para a marca como Pessoa Jurídica (PJ).

IMPACTO GLOBAL

As pérolas produzidas pelas antoninenses compõem peças como anéis, brincos, braceletes, colares, além de joias conceituais e de exposição, que também já foram utilizadas por modelos em desfiles na Paris Fashion Week e em Milão. Diante disso, a fundadora da Lecarle, Carla Dutra, falou sobre a ideia de trabalhar com esse tipo de material.

“Quando criei a Lecarle, eu já trabalhava no setor joalheiro. Fui estudar para conhecer mais o setor. Como atuava com compra e venda, eu ia muito em feiras, eventos e fábricas. Então, via como era o desenvolvimento e a parte criativa.  A carência da mão de obra feminina dentro da joalheria me chamava muita atenção, já que nós somos as maiores consumidoras. Aí, veio essa necessidade de trazer a mulher para esses cargos importantes e relevantes”, detalhou Dutra, que também é designer criativa da marca.

Carla também conversou a respeito da industrialização das pérolas sustentáveis, que, para ela, não era o ideal. “Eu cheguei a buscar a industrialização, mas achei que não fazia nenhum sentido. Fazia muito mais sentido ser um trabalho especial, cuidadoso e mais artesanal. E tem a questão das mulheres em vulnerabilidade social. Então, é uma forma de mostrar para o mundo que é preciso valorizar mais as artesãs no Brasil”, afirmou a gaúcha Carla Dutra, que, em 2015, entrou no mercado joalheiro vendendo as famosas semijoias folheadas.

Vale destacar que a Lecarle foi criada em 2020.  A marca surgiu da paixão e desejo pela busca de novos significados. O empreendimento tem como objetivo manifestar a arte e a cultura, evitando amarrações com estações, além de prezar pela paixão, delicadeza e respeito à curadoria das peças.