Projeto Siri Guaçu promove vivências no mar para demonstrar trabalho de pescadores de Guaraqueçaba
Com o objetivo de levar aos turistas as vivências da cultura caiçara por meio da pesca, o projeto Siri Guaçu desenvolve trabalhos aliados à sustentabilidade. Os visitantes podem acompanhar, de maneira educativa, a captura do siri e demais frutos do mar, com armadilhas adequadas a cada tipo de espécie. Além disso, é possível conhecer as serras, manguezais e os animais que vivem na região, como os golfinhos, biguás e guarás. E as atividades não se resumem somente a isso. Criado em 2019, o projeto também comercializa os crustáceos, os quais são vendidos para regiões próximas de Guaraqueçaba.
Um dos integrantes do Siri Guaçu é o pescador Nide Peniche. Ele é o responsável por mostrar as belezas naturais e proporcionar experiências nativas ao pessoal que vem de fora. Percorrendo a baía de Guaraqueçaba desde pequeno, ele transformou a sua capacidade de descrever a região e os seus costumes em potencial turístico.
Em alto mar, a equipe de reportagem do JB Litoral entrevistou e acompanhou o trabalho de Peniche. Enquanto retirava os siris do puçá, que é uma rede de malha na qual é colocada a isca de peixe para a captura do animais invertebrados, ele contou como é a sua rotina diária para a busca do seu sustento. Os trabalhos começam pela manhã e vão até o fim da tarde.
“Hoje pela manhã tirei 41 dúzias. À tarde, é quase a mesma quantidade. Quando fica fraco o lugar para a pesca, a gente já muda para outro lugar. Os pesqueiros ficam todos pertos. Eu trabalho todos os dias, não tem sábado, domingo, feriado, nada. Saio para recolher as gaiolas às 6 horas. Tem que vir aqui pegar, levar para a terra e cozinhar, normalmente é meu pai que cozinha o siri. Enquanto cozinha, vou cortando a isca, já congelo para outro dia, e assim vai, todos os dias”, explicou Nide conforme ia colocando os siris na embarcação.
O pescador disse, ainda, que depois da carne do crustáceo ser retirada, boa parte da mercadoria é encaminhada a Paranaguá. Segundo ele, o camarão também é capturado, mas não na mesma frequência que o siri. “Eu vendo para o mercado de Paranaguá, para os restaurantes, praia e até mesmo Curitiba. Vamos juntando no freezer e, a hora que tiver um pedido, levamos de 100 a 150 quilos. A quantidade varia de acordo com o pedido. Trabalhamos com camarão, também. Mas focamos mais no siri. Com ele, você ganha quase a mesma coisa, até mais, se duvidar. O camarão, para você pegar uns cinco quilos, tem que se bater muito. O siri é algo certo”, afirmou.
Passeios antes da pandemia
Antes da pandemia, Nide costumava fazer mais de dois passeios por dia. O público interessado em conhecer a região é variado. Conforme o nativo, a demonstração do seu trabalho é feita para pessoas de vários estados do Brasil, além de turistas estrangeiros. “Chegou o dia de eu fazer 3 passeios, que duram até 30 minutos. Eu fazia a vivência do siri com o pessoal, levava para almoçar na minha casa, durante a tarde, íamos ver o pássaro Guará. Vem gente de todo lugar, até de fora do país. Já recebi dois americanos. Era um casal que se hospedou aqui e ficou uns 20 dias”, disse.
O ponto de referência para mergulhar nas histórias e vivenciar um pouco do dia a dia do povo guaraqueçabano é o trapiche de embarque e desembarque, que fica em frente ao Mercado Municipal. O horário para visitação é agendado e pode ser marcado pelo telefone (41) 9 9870-7854. Por conta da pandemia da Covid-19, o recomendável é buscar informações com antecedência, já que muitos municípios têm publicado decretos com restrições para evitar aglomeração.
Projeto tem seis tiradeiras de carne de siri
Depois de entender o processo de pesca do morador de Guaraqueçaba, o JB Litoral foi até o espaço que abriga seis tiradeiras de carne de siri. Em dois períodos, que vão das 7h às 11h e das 13h às 17h, as mulheres chegam a tirar, aproximadamente, 100 dúzias de siri. A maioria das mulheres do grupo é experiente, apenas uma delas é iniciante.
Marina de Paula de Souza, de 30 anos, estava tirando a carne do animal pela primeira vez. Diante disso, ela contou que vale a pena a experiência.
“Está sendo bom. Estou me acostumando. Eu morava em Paranaguá e entrei porque a minha irmã, que vem vender siri para eles, falou que estavam precisando de mais gente”, disse.
Já Neusa Galdino Gonçalves, outra integrante do projeto, relatou que desde criança tem contato com a pesca. Conforme ela, moradoras da cidade capelista as ensinaram a lidar com o crustáceo. “Eu tiro siri desde os 12 anos de idade. O pessoal de Antonina veio para cá, aí a gente aprendeu com eles. Estamos aqui até hoje e participo desde o começo do projeto Siri Guaçu”, contou.
E tem quem tire siri durante visita a Guaraqueçaba. Maria Gonçalves da Rosa disse à reportagem que aproveita a sua estada na casa dos seus pais para trabalhar com as outras cinco mulheres. “Casei e o meu marido começou a pescar. Aí, aprendi a tirar o siri. Eu não moro mais aqui, agora. Moro em Paranaguá. Venho visitar a minha mãe e meu pai e aproveito para trabalhar. Já faz um mês que estou aqui. Semana que vem já estou indo para a minha casa. Às vezes, tiramos mais de 100 dúzias. Depois que aprende, é bom de tirar”, complementou.
Vale destacar que o quilo da carne de siri custa R$ 30. Para quem quiser adquiri-la, basta se dirigir à Casa das Tiradeiras, que fica em um espaço anexo à Mercearia do Paulinho, localizada na Rua Doutor Figueira, 950, bairro Costão. É possível fazer o pedido também pelo (41) 9 9870-7854.
Parceria com a Rede Guaraguatá
O projeto Siri Guaçu tem parceria com a Rede Guaraguatá, que também oferece serviços de turismo ecológico e gastronômico. Joyce Mendes é guia de Turismo local e conversou com a equipe do JB a respeito do trabalho em conjunto com o Siri Guaçu. De acordo com a guia, ela estudou o assunto para poder desempenhar as atividades. “Essa parceria com o Nide começou em 2019. Eu fiz um curso de extensão, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), que se chama Anfitriões do Litoral. Como nós moramos aqui na comunidade do Costão, a maioria dos pescadores vai pegar o siri e as mulheres trabalham para tirar a carne. Esse projeto e os roteiros que fizemos nesse curso foram todos de Turismo de Base Comunitária”, destacou.
A Rede de Turismo de Base Comunitária Anfitriões do Litoral do Paraná foi fundada em 2018 e oferece roteiros de visitação nas comunidades tradicionais caiçaras de Guaraqueçaba, Guaratuba e Paranaguá. Conforme Joyce, é importante que o visitante conheça os bastidores da pesca antes de o alimento chegar à mesa dos restaurantes. “O turista tem que ter uma vivência de como é o trabalho de um pescador. Às vezes, as pessoas comem e não têm ideia de como é por trás desse preparo. Eu trabalho com a culinária e esse projeto também foi um desafio. Eu trabalho com as mulheres. Com a culinária, a gente recebe as pessoas na comunidade do Costão. É uma experiência superboa”, comentou.
Além disso, Mendes finalizou dizendo que o trabalho da Rede e do projeto Siri Guaçu vai além do turismo tradicional. Para ela, as atividades englobam a histórias de Guaraqueçaba e a luta de um povo. “Estamos abertos para receber outras pessoas, as quais tenham essa visão de sustentabilidade, de um turismo responsável, não o turismo pelo turismo. Não é o visitante chegar em Guaraqueçaba e descer aqui no píer e comer. O nosso trabalho envolve muito mais que isso, envolve a comunidade, a pescaria do siri, as mulheres, a culinária e os nossos costumes da comunidade”, conclui.