Projeto Siri Guaçu promove vivências no mar para demonstrar trabalho de pescadores de Guaraqueçaba


Por Cleverson Teixeira Publicado 10/03/2021 às 18h23 Atualizado 15/02/2024 às 20h36

Com o objetivo de levar aos turistas as vivências da cultura caiçara por meio da pesca, o projeto Siri Guaçu desenvolve trabalhos aliados à sustentabilidade. Os visitantes podem acompanhar, de maneira educativa, a captura do siri e demais frutos do mar, com armadilhas adequadas a cada tipo de espécie. Além disso, é possível conhecer as serras, manguezais e os animais que vivem na região, como os golfinhos, biguás e guarás. E as atividades não se resumem somente a isso. Criado em 2019, o projeto também comercializa os crustáceos, os quais são vendidos para regiões próximas de Guaraqueçaba.

Um dos integrantes do Siri Guaçu é o pescador Nide Peniche. Ele é o responsável por mostrar as belezas naturais e proporcionar experiências nativas ao pessoal que vem de fora. Percorrendo a baía de Guaraqueçaba desde pequeno, ele transformou a sua capacidade de descrever a região e os seus costumes em potencial turístico.

Em alto mar, a equipe de reportagem do JB Litoral entrevistou e acompanhou o trabalho de Peniche. Enquanto retirava os siris do puçá, que é uma rede de malha na qual é colocada a isca de peixe para a captura do animais invertebrados, ele contou como é a sua rotina diária para a busca do seu sustento. Os trabalhos começam pela manhã e vão até o fim da tarde.

“Hoje pela manhã tirei 41 dúzias. À tarde, é quase a mesma quantidade. Quando fica fraco o lugar para a pesca, a gente já muda para outro lugar. Os pesqueiros ficam todos pertos. Eu trabalho todos os dias, não tem sábado, domingo, feriado, nada. Saio para recolher as gaiolas às 6 horas. Tem que vir aqui pegar, levar para a terra e cozinhar, normalmente é meu pai que cozinha o siri. Enquanto cozinha, vou cortando a isca, já congelo para outro dia, e assim vai, todos os dias”, explicou Nide conforme ia colocando os siris na embarcação.

O pescador disse, ainda, que depois da carne do crustáceo ser retirada, boa parte da mercadoria é encaminhada a Paranaguá. Segundo ele, o camarão também é capturado, mas não na mesma frequência que o siri. “Eu vendo para o mercado de Paranaguá, para os restaurantes, praia e até mesmo Curitiba. Vamos juntando no freezer e, a hora que tiver um pedido, levamos de 100 a 150 quilos. A quantidade varia de acordo com o pedido. Trabalhamos com camarão, também. Mas focamos mais no siri. Com ele, você ganha quase a mesma coisa, até mais, se duvidar. O camarão, para você pegar uns cinco quilos, tem que se bater muito. O siri é algo certo”, afirmou.

Passeios antes da pandemia


Antes da pandemia, Nide costumava fazer mais de dois passeios por dia. O público interessado em conhecer a região é variado. Conforme o nativo, a demonstração do seu trabalho é feita para pessoas de vários estados do Brasil, além de turistas estrangeiros. “Chegou o dia de eu fazer 3 passeios, que duram até 30 minutos. Eu fazia a vivência do siri com o pessoal, levava para almoçar na minha casa, durante a tarde, íamos ver o pássaro Guará. Vem gente de todo lugar, até de fora do país. Já recebi dois americanos. Era um casal que se hospedou aqui e ficou uns 20 dias”, disse.

O ponto de referência para mergulhar nas histórias e vivenciar um pouco do dia a dia do povo guaraqueçabano é o trapiche de embarque e desembarque, que fica em frente ao Mercado Municipal. O horário para visitação é agendado e pode ser marcado pelo telefone (41) 9 9870-7854. Por conta da pandemia da Covid-19, o recomendável é buscar informações com antecedência, já que muitos municípios têm publicado decretos com restrições para evitar aglomeração.

Projeto tem seis tiradeiras de carne de siri


Depois de entender o processo de pesca do morador de Guaraqueçaba, o JB Litoral foi até o espaço que abriga seis tiradeiras de carne de siri. Em dois períodos, que vão das 7h às 11h e das 13h às 17h, as mulheres chegam a tirar, aproximadamente, 100 dúzias de siri. A maioria das mulheres do grupo é experiente, apenas uma delas é iniciante.

siri guaçu

Marina de Paula de Souza, de 30 anos, estava tirando a carne do animal pela primeira vez. Diante disso, ela contou que vale a pena a experiência.

“Está sendo bom. Estou me acostumando. Eu morava em Paranaguá e entrei porque a minha irmã, que vem vender siri para eles, falou que estavam precisando de mais gente”, disse. 

Marina é a novata do grupo

Já Neusa Galdino Gonçalves, outra integrante do projeto, relatou que desde criança tem contato com a pesca. Conforme ela, moradoras da cidade capelista as ensinaram a lidar com o crustáceo. “Eu tiro siri desde os 12 anos de idade. O pessoal de Antonina veio para cá, aí a gente aprendeu com eles. Estamos aqui até hoje e participo desde o começo do projeto Siri Guaçu”, contou.

E tem quem tire siri durante visita a Guaraqueçaba. Maria Gonçalves da Rosa disse à reportagem que aproveita a sua estada na casa dos seus pais para trabalhar com as outras cinco mulheres. “Casei e o meu marido começou a pescar. Aí, aprendi a tirar o siri. Eu não moro mais aqui, agora.  Moro em Paranaguá. Venho visitar a minha mãe e meu pai e aproveito para trabalhar. Já faz um mês que estou aqui. Semana que vem já estou indo para a minha casa. Às vezes, tiramos mais de 100 dúzias. Depois que aprende, é bom de tirar”, complementou.

Vale destacar que o quilo da carne de siri custa R$ 30. Para quem quiser adquiri-la, basta se dirigir à Casa das Tiradeiras, que fica em um espaço anexo à Mercearia do Paulinho, localizada na Rua Doutor Figueira, 950, bairro Costão. É possível fazer o pedido também pelo (41) 9 9870-7854.

Siri também é vendido em Paranaguá
Parceria com a Rede Guaraguatá


O projeto Siri Guaçu tem parceria com a Rede Guaraguatá, que também oferece serviços de turismo ecológico e gastronômico. Joyce Mendes é guia de Turismo local e conversou com a equipe do JB a respeito do trabalho em conjunto com o Siri Guaçu. De acordo com a guia, ela estudou o assunto para poder desempenhar as atividades. “Essa parceria com o Nide começou em 2019. Eu fiz um curso de extensão, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), que se chama Anfitriões do Litoral. Como nós moramos aqui na comunidade do Costão, a maioria dos pescadores vai pegar o siri e as mulheres trabalham para tirar a carne. Esse projeto e os roteiros que fizemos nesse curso foram todos de Turismo de Base Comunitária”, destacou.

A Rede de Turismo de Base Comunitária Anfitriões do Litoral do Paraná foi fundada em 2018 e oferece roteiros de visitação nas comunidades tradicionais caiçaras de Guaraqueçaba, Guaratuba e Paranaguá. Conforme Joyce, é importante que o visitante conheça os bastidores da pesca antes de o alimento chegar à mesa dos restaurantes. “O turista tem que ter uma vivência de como é o trabalho de um pescador. Às vezes, as pessoas comem e não têm ideia de como é por trás desse preparo. Eu trabalho com a culinária e esse projeto também foi um desafio. Eu trabalho com as mulheres. Com a culinária, a gente recebe as pessoas na comunidade do Costão. É uma experiência superboa”, comentou.

Além disso, Mendes finalizou dizendo que o trabalho da Rede e do projeto Siri Guaçu vai além do turismo tradicional. Para ela, as atividades englobam a histórias de Guaraqueçaba e a luta de um povo. “Estamos abertos para receber outras pessoas, as quais tenham essa visão de sustentabilidade, de um turismo responsável, não o turismo pelo turismo. Não é o visitante chegar em Guaraqueçaba e descer aqui no píer e comer. O nosso trabalho envolve muito mais que isso, envolve a comunidade, a pescaria do siri, as mulheres, a culinária e os nossos costumes da comunidade”, conclui.