Reabertura da Ilha do Mel: empresários veem anúncio como última esperança para sobrevivência dos empreendimentos


Por Luiza Rampelotti

Evento náutico deve reunir cerca de 800 pessoas neste final de semana em Nova Brasília, na Ilha do Mel.

Totalmente fechada para o turismo desde o dia 21 de março, quando o governo Estadual publicou um decreto suspendendo sua visitação, devido à pandemia do coronavírus, a Ilha do Mel já tem data definida para reabertura: dia 20 de setembro, exceto para a Ponta Oeste, que conta com uma comunidade nativa de pescadores e continuará fechada. A escolha foi informada pela prefeitura de Paranaguá, na quarta-feira (26), após pressão da Associação dos Comerciantes da Ilha do Mel (ACOIM).

De acordo com o Executivo Municipal, foram realizadas reuniões com as secretarias municipais e com a 1ª Regional de Saúde de Paranaguá, órgão pertencente à Secretaria Estadual de Saúde (SESA), para a confecção de um protocolo que permitisse a reabertura. Questões como coleta de resíduos, normas de higienização, distanciamento social, utilização de um sistema com cadastro dos visitantes, realização de barreiras sanitárias em Paranaguá e na ilha, entre outras medidas de prevenção contra a Covid-19 foram tratadas durante as reuniões e devem ser implementadas até a data anunciada.

Presidente da ACOIM, proprietário da Pousada Enseada, pediu o apoio do Município um dia antes do anúncio, pela prefeitura, da reabertura da Ilha

No dia anterior ao anúncio, terça-feira (25), o presidente da ACOIM, Carlos Gnata, publicou, em seu perfil no Facebook, uma postagem afirmando que os comerciantes do local estavam pedindo o apoio de Paranaguá. “Hoje, dia 25, são 157 dias ou 05 meses e 04 dias totalmente fechados, sem poder trabalhar, sem rendimento, sem perspectiva, tendo que pagar as contas normalmente, como: água, luz, telefone, internet, TV, supermercado, impostos, contabilidade, aluguel para os arrendatários e fazendo manutenção da estrutura”, iniciou.

Empresários pediram volta na terça

Ele destacou, ainda, que muitos comércios tiveram que dispensar funcionários e/ou diminuir salários para reduzir os custos, pois estavam preparados para apenas três meses de fechamento. A reivindicação da ACOIM pedia a volta do turismo a partir desta terça-feira (01), já visando o feriado nacional da Independência do Brasil, no dia 07, que sempre atraiu muitos turistas à Ilha do Mel.

O JB Litoral entrou em contato com Carlos Gnata para falar sobre a data anunciada para a reabertura ao turismo. Um pouco incrédulo, ele disse que o prefeito Marcelo Roque (Podemos) ainda precisa editar um decreto que oficialize a determinação. “Até lá, pode mudar alguma coisa”, comentou.

A equipe de reportagem também questionou a prefeitura a respeito da publicação do decreto, mas, até o fechamento desta reportagem, não obteve retorno. Até sábado (29), nenhum documento oficial havia sido publicado. 

Reabertura seria em agosto, mas moradores se opuseram

A preocupação com a data é comum ao setor empresarial, que já recebeu a notícia, pelo governo do Estado, de que a ilha seria reaberta no dia 15 de agosto, mas, viu o Poder Público voltar atrás após inúmeros protestos realizados pelos moradores, que acreditam que o local não está preparado para a volta dos turistas. Ainda hoje, existem aqueles que creem que o fechamento total continua sendo a solução para evitar os casos de coronavírus entre os habitantes – nenhum foi infectado, até o momento.

Um desses moradores é João Marcos Haluch, empresário e presidente da Associação de Moradores da Praia Grande, que comenta que a ilha não está preparada para a reabertura. “Seria necessário reforçar os protocolos de segurança e fiscalização no embarque e desembarque dos turistas e fazer um trabalho de conscientização e preparação dos moradores para o retorno dos visitantes. Além disso, precisaria, também, de fiscalização para garantir as adequações nas pousadas”, afirmou.

Porém, Gnata destaca que nenhum outro lugar turístico do Brasil está fechado como a Ilha do Mel. Segundo ele, todas as regiões similares estão abertas de forma parcial ou total, como: Gramado (RS), Ilha Grande (RJ), Ilha Bela (SP), Ubatuba (SC), Florianópolis (SC), Foz do Iguaçu (PR), Paraty (RJ), Jericoacoara (CE), entre outros. “Após abertos, nenhum desses locais voltou a fechar totalmente. Isso significa que o turismo não impactou e muito menos acelerou a contaminação pela Covid-19 em suas regiões”, disse.

100% de perdas

O presidente da ACOIM informa que existem cerca de 200 pequenas empresas no local, que geram, aproximadamente, 1000 empregos diretos e indiretos. Segundo ele, boa parte desses postos de trabalho foram extintos e os que ainda se mantêm correm o risco de também serem fechados. “Nosso faturamento nesses mais de cinco meses foi zero, ou seja, 100% de perdas”, lamentou.

Ele ainda destaca que os comerciantes não receberam nenhum tipo de auxílio dos governos Federal, Estadual e Municipal. “O que nos foi oferecido, e muitos não conseguiram devido à burocracia, foram empréstimos com juros ainda caros”.

O proprietário da Pousada Orquídeas também falou sobre as dificuldades dos empresários do local durante a pandemia

Outro empresário, Gilberto Keserle, também menciona as dificuldades de sobrevivência para o setor durante a pandemia. “O meio empresarial está vivendo um verdadeiro caos, a reabertura da ilha é fundamental para a sobrevivência dos empreendimentos”.

Além disso, ele relata que parte dos próprios moradores, que anteriormente atuavam como fornecedores para os estabelecimentos, também estão sendo prejudicados. Esse é o caso dos pescadores.

Por isso, os empresários destacam a necessidade de que as prefeituras de Paranaguá e de Pontal do Paraná, onde também há um ponto de travessia para a ilha, realizem a instalação de barreiras sanitárias e melhorem o controle de acesso ao local, além de uma campanha de conscientização à prevenção da Covid-19 junto aos moradores. “Com isso, é possível promover uma reabertura segura que beneficiará tanto os empresários quanto os moradores que estão preocupados com o contágio do vírus”, ressaltaram.

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