Por Magaléa Mazziotti
A hora de ser visionário é agora, no que se refere à preparação do Corredor de Exportação do Porto de Paranaguá para os próximos 50 anos. Absoluto na posição de maior complexo de exportação de grãos da América Latina, o Correx é parte estratégica na consolidação do porto como hub logístico.
Ao mesmo tempo em que a Portos do Paraná realiza obras importantes de infraestrutura, a sequência de áreas que serão arrendadas em 2021 inclui contratos emblemáticos como o do PAR 15, no setor leste, operado pela Cargill, gigante do setor de alimentos e que puxa o desenvolvimento da cadeia logística da interlândia (área de abrangência) do Porto de Paranaguá.
“Acreditamos que os próximos anos serão ainda melhores, com investimentos vindos das licitações portuárias, melhorias dos acessos rodoviários e ferroviários e da infraestrutura marítima com acréscimo de berços e aprofundamento do calado. Objetivamente não há o que afaste o interesse da Cargill em participar da licitação para continuar na área, basta ter coerência no edital”, analisa Andre Maragliano, gerente do Terminal Portuário da Cargill e diretor da ATEXP (Associação dos Terminais do Corredor de Exportação de Paranaguá). “Vivemos um momento de alta competitividade e recordes de volumes batidos ano a ano. Tudo aponta para um futuro ainda mais promissor”, acrescenta.
O apetite da Cargill em permanecer com o PAR 15 reflete o interesse de outros investidores e reforça uma das máximas defendidas por Luiz Fernando Garcia, diretor-presidente da Portos do Paraná, de que “não é errado pensar grande”. Para Garcia, a inovação no embarque de granéis de exportação do Correx exemplifica bem esse ganho de competitividade trazido por aqueles que, entre a década de 70 e 80, “desbravaram o futuro e que deixaram um legado responsável pelos nossos recordes de exportação até hoje”.
“Nosso sistema é único, e permitiu uma movimentação impressionante no espaço que temos já que as cargas de 11 terminais diferentes, interligados por duas linhas carregadoras, podem ser embarcadas nos três berços de atracação, exclusivos para granéis, por meio de um sistema que permite que um mesmo navio receba mercadorias de diferentes produtores”, resume.
Luiz Fernando Garcia, diretor-presidente da Portos do Paraná.
Para os próximos 50 anos, o diretor-presidente da Portos do Paraná não visualiza uma solução da dimensão do sistema do Correx. Ele acredita que a soma de todos os projetos de infraestrutura, dentre eles o Moegão, que deve ampliar para 20 milhões de toneladas o volume de cargas transportados por ferrovia, e o projeto executivo de modernização do Correx, feito pela Exe Engenharia e LPC Latina, vai garantir ao Porto condições de se antecipar à demanda e não perder carga por falta de capacidade, ou por custos da ineficiência.
“As linhas carregadoras passam de 1,5 mil toneladas por hora para 4 mil toneladas por hora. Isso somado ao fato de que avançaremos para o mar com o píer em T e teremos um quarto berço que elevará para 32 mil toneladas por hora a capacidade de embarque do Correx”, calcula.
Toda essa velocidade de embarque segue associada à qualidade já reconhecida da carga de Paranaguá, que conta com o prêmio de exportação da Bolsa de Chicago. A Portos do Paraná já anunciou que irá investir R$ 703 milhões nos próximos anos em infraestrutura para atividades de movimentação de cargas. Somente na contratação do projeto executivo, de modernização do setor leste do Correx, foram empregados R$ 4 milhões.
Para a Cargill, que começou sua presença em Paranaguá em 1968, operando em silos públicos e construiu o seu primeiro silo em 1973, acompanhar a evolução de tudo isso reforça a vontade de seguir em uma área consolidada que avança para ser o hub logístico da América do Sul. “Vivemos os gargalos das saídas e entradas da carga, com filas de 200 km de caminhões e navios esperando até 120 dias para atracar. Hoje, os tempos são gloriosos e os mais gloriosos estão por acontecer”, aponta Maragliano, tanto na visão de gerente do Terminal Portuário da Cargill como na função de diretor da ATEXP.
“Já reduzimos drasticamente o tempo de espera, não tivemos filas de caminhões, e as de navios são adequadas, em média, de quatro a seis dias. Houve uma época, que considerando todos os navios e todos os operadores portuários, o custo ficava em US$ 50 milhões”, compara.
Arrendamentos programados para o setor leste
Commodities agrícolas valorizadas, câmbio favorável à exportação e projetos de infraestrutura saindo do papel convergem com o Decreto 9.048/2017, o chamado Decreto de Portos, que destravou os investimentos privados e tornou ainda mais cobiçada a agenda de arrendamentos para 2021, de áreas portuárias destinadas à movimentação de granéis sólidos no Porto de Paranaguá. No setor leste do Correx, PAR 14, onde opera a Centro Sul Serviços Marítimos, e PAR 15, onde está a Cargill, são as bolas da vez. Em comum, as áreas são contratos com uma longa trajetória no porto, que atraem o interesse do mercado e a urgência pelas novas licitações, uma vez que a Centro Sul opera com liminar e a Cargill com contrato de transição.
Ambos são caminhos que deram respaldo à atividade das empresas, enquanto a Portos do Paraná não promove as novas licitações. O PAR 14 é reflexo dos chamados contratos pré 93 (firmados antes do marco legal de 1993). De acordo com o Ministério da Infraestrutura, a especificação das regras com o Decreto 9.048/2017 afasta possíveis fragilidades do marco regulatório do setor.
No caso da Cargill, as áreas foram unificadas em março de 2010 sob um único contrato com vigência até 2016, que optou pelo contrato de transição, renovado de seis em seis meses, enquanto aguarda a licitação.
Conforme o diretor-presidente da Portos do Paraná, “nenhuma das situações representa algum entrave para as novas licitações”. Tanto que Garcia informou que está confirmada, para o início de fevereiro, a vinda da EPL (Empresa de Planejamento de Logística S. A.) para a visita técnica nessas áreas do setor leste e no PAR 9A (setor oeste), que é a última etapa da fase de estudos.
Feito isso, a autoridade portuária Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) realiza a divulgação dos editais e contratos de licitação, para serem submetidos à consulta e audiências públicas, assim como acontece com o PAR 32 e o PAR 50, que já possuem agendas para os próximos dias 4 e 5 de fevereiro, as audiências públicas.
Nessas datas, A Portos do Paraná apresentará e receberá sugestões no que diz respeito ao aprimoramento da documentação necessária à realização do certame.
Investimento estimado
Pelo site da Portos do Paraná, o investimento aproximado do PAR 14 está estimado em R$ 50 milhões para uma área de 20 mil m² e no PAR 15 R$ 309.633.796,14 para uma extensão de 37.431m². Além dos recursos que ficarão para a Portos do Paraná, esses contratos vão contemplar as diretrizes para a operação do Correx dos próximos 50 anos.
A Cargill não só deixa claro o interesse em participar do novo processo de licitação, como vislumbra fazer investimentos tão robustos quanto o patamar que a operação em Paranaguá pretende alcançar. De 1973 para 2021, a empresa saltou de uma movimentação de 500 mil toneladas em seis navios, para 5 milhões de toneladas, com cem navios, que são carregados por terminais próprios e terceiros.
“Somos um dos principais clientes dos portos e de outros terminais do Porto de Paranaguá. Participamos de toda a cadeia, desde óleo no terminal de líquidos a contêiner da TCP, também somos o principal cliente da Rumo e relevantes no frete de retorno dos terceiros que trazem soja, milho e farelo e acabam levando fertilizantes”, elenca Maragliano, ao descrever as atividades da Cargill em Paranaguá.
Andre Maragliano, gerente do Terminal Portuário da Cargill e diretor da ATEXP (Associação dos Terminais do Corredor de Exportação de Paranaguá).
A reportagem procurou a Centro Sul, mas até o fechamento da edição nenhum porta-voz da empresa se manifestou sobre os planos para o PAR 14.