O número de doadores de sangue diminuiu durante o período de pandemia da Covid-19. Em Paranaguá, além da queda considerável, a Unidade de Coleta e Transfusão (UCT) de Sangue, do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná (Hemepar), localizada na Avenida Gabriel de Lara, ainda enfrenta outro grande problema: a falta de médico para atendimento do doador que se dispõe a realizar a doação de sangue.
É o caso de uma pessoa que procurou o JB Litoral para denunciar a situação, mas preferiu não se identificar. Segundo ela, esteve no prédio quatro vezes tentando realizar o ato voluntário, porém, sem sucesso. “Sempre me informaram que naquele horário em específico não estava havendo a coleta de sangue. De tanto ir lá e dar com a cara na porta, resolvi perguntar o motivo”, diz.
Com o questionamento, veio a surpresa: já faz alguns meses que não existe um médico responsável pelas coletas no local. Por isso, o denunciante fez uma reclamação na Ouvidoria Geral da Saúde, da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA), responsável pela UCT Paranaguá.
A principal indagação foi a respeito do motivo da falta de médico na unidade. “Já estive na UCT quatro vezes tentando fazer minha parte como cidadão, mas bati com a cara na porta, pois não havia médico para fazer o atendimento. Isso é uma falta de respeito não só comigo, que me disponibilizo a sair da minha casa, no meu descanso, para vir doar sangue, como também com os pacientes que precisam da doação”, denunciou.
Durante a conclusão de sua reclamação, o doador questionou: “Será que, pelo amor de Deus, o Estado não vai enviar um médico para a unidade? Será que vidas serão ceifadas por isso? É um imenso descaso com todos os moradores de Paranaguá e região”.
Funcionário desabafa
Um funcionário que atua na UCT, e prefere não se identificar, também desabafou sobre a atual condição da unidade. Segundo ele, a falta de médico já acontece há alguns meses, porém, em determinados períodos um substituto conseguia realizar a coleta. No entanto, nas últimas semanas, a situação se agravou.
“Do dia 1º de setembro até o dia 10, nenhuma bolsa de sangue foi coletada. Atualmente, existem 129 pessoas na lista de espera para poder doar e não há médico atuando”, comenta.
Além disso, ele também informa que o local conta com apenas um enfermeiro, mas que esse está prestes a ser transferido para Curitiba, o que poderá piorar o cenário que já se encontra defasado.
O JB Litoral procurou o diretor da 1ª Regional de Saúde do Estado, sediada no município, José Carlos de Abreu, responsável pela unidade, para buscar esclarecer a situação. De acordo com ele, apesar da atual restrição em relação às doações, não há falta de sangue no Hospital Regional do Litoral (HRL).
“Contudo, a presença da doação é fundamental, porque essas pessoas que doam funcionam como se fossem um mercado regulador permanente da oferta. Precisamos delas doando, não temos falta de sangue, mas temos necessidade de manter os doadores permanentemente aqui”, declara.
O que diz a 1ª RS
As doações realizadas na UCT local atendem pacientes de todo o litoral do Paraná e do Estado, além de, em alguns casos, serem distribuídas para outros locais. Segundo Abreu, realmente há certas dificuldades para manter profissionais médicos atuando no espaço. “Os dois que nós tínhamos se afastaram baseados em motivos legais – um por ser parte do grupo de risco para o coronavírus por conta de sua idade e outro porque está concorrendo ao pleito eleitoral”, explica.
Entretanto, ele destaca que as soluções já estão sendo buscadas. “Estamos realizando um processo para a colocação de médicos de outras unidades da SESA aqui, lotando-os para suprir essa falta. A secretaria está buscando uma alternativa. Já está sendo deslocada, emergencialmente, uma médica para dar cobertura para esses atendimentos, estamos exatamente neste momento da transição”, informa.
“Temos que ter respeito pelos doadores”
Abreu garante que a SESA está empreendendo esforços para regularizar a situação e garantir que as pessoas que vão até a Unidade de Coleta e Transfusão, em Paranaguá, com o intuito de doar sangue, não voltem embora frustradas. “Peço a compreensão de todos. O gesto de doar é extremamente importante e relevante, temos que ter esse respeito por esses doadores. Por isso, acato a reclamação e estou buscando, junto à SESA, resolver isso em um curtíssimo prazo. Acredito que até o final desta semana a gente consiga achar uma solução definitiva para o banco de sangue da cidade”, conclui.