Silêncio na Ilha do Pinheiro: população de papagaios-de-cara-roxa despenca em Guaraqueçaba


Por Luiza Rampelotti Publicado 25/10/2024 às 13h23
A Ilha do Pinheiro, situada no Parque Nacional do Superagui, em Guaraqueçaba, há anos é reconhecida como um dos principais refúgios do papagaio-de-cara-roxa do Brasil. Foto: Gabriel Marchi
A Ilha do Pinheiro, situada no Parque Nacional do Superagui, em Guaraqueçaba, há anos é reconhecida como um dos principais refúgios do papagaio-de-cara-roxa do Brasil. Foto: Gabriel Marchi

A Ilha do Pinheiro, situada no Parque Nacional do Superagui, em Guaraqueçaba, há anos é reconhecida como um dos principais refúgios do papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) do Brasil, espécie endêmica da Mata Atlântica e vulnerável a ameaças ambientais. A ilha, conhecida por abrigar grandes concentrações desses papagaios, tem registrado uma redução preocupante no número de aves observadas, segundo o último censo realizado entre maio e junho de 2024. O levantamento revelou que apenas 455 papagaios foram contabilizados no local, o que representa apenas 8,6% da população total, em comparação aos mais de 2.500 papagaios avistados em 2009.

O “silêncio” dos papagaios preocupa especialistas

Elenise Sipinski, coordenadora dos projetos de fauna da SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental), responsável pelo monitoramento da espécie no Paraná, explica que os números indicam uma mudança significativa no comportamento dos papagaios. “Em conversas com os moradores locais, notamos que os papagaios estão se deslocando com menos frequência para a Ilha do Pinheiro, e isso pode estar relacionado ao aumento de perturbações humanas na região, como o fluxo de embarcações turísticas, sons altos e até fogos de artifício”, afirma Elenise.

A última edição do censo anterior a 2024 havia sido realizada em 2019, quando 7.493 papagaios foram registrados ao longo do litoral paranaense. Agora, com 5.245 indivíduos contabilizados em seis dormitórios coletivos, a redução, especialmente na Ilha do Pinheiro, exige uma análise mais profunda. “Os resultados deste ano nos levam a refletir sobre o que está afetando o comportamento dos papagaios e sua escolha de abrigo”, ressalta Elenise.

A coordenadora destaca que a metodologia utilizada no censo deste ano foi rigorosa, seguindo os mesmos critérios de anos anteriores: quatro contagens diárias durante três dias consecutivos, em condições meteorológicas adequadas, com sol e sem vento. “Mesmo com um cenário favorável, os números na Ilha do Pinheiro foram surpreendentemente baixos”, completa a coordenadora.

No entanto, a ilha tem registrado uma redução preocupante no número de aves observadas, segundo o último censo realizado entre maio e junho de 2024. Foto: Zig Koch
No entanto, a ilha tem registrado uma redução preocupante no número de aves observadas, segundo o último censo realizado entre maio e junho de 2024. Foto: Zig Koch

Esforços de conservação e a necessidade de colaboração

A preservação do papagaio-de-cara-roxa depende de ações conjuntas entre comunidade, turistas e autoridades. Sipinski enfatiza que os turistas que visitam o Litoral devem respeitar o espaço das aves e evitar atividades que possam desestabilizar o habitat natural dos papagaios, como o uso excessivo de embarcações motorizadas e sons altos próximos às áreas de abrigo.

A comandante Maria Cecília Rodrigues, do Batalhão de Polícia Ambiental (BPAmb), corrobora a necessidade de maior controle na região. “Suspeitamos que os papagaios estejam migrando para locais mais tranquilos, como a Ilha Rasa, onde há menos interferência humana. A pressão turística na Ilha do Pinheiro pode estar contribuindo diretamente para essa mudança de comportamento”, alerta.

O levantamento revelou que apenas 455 papagaios foram contabilizados no local, o que representa apenas 8,6% da população total, em comparação aos mais de 2.500 papagaios avistados em 2009. Foto: Zig Koch
O levantamento revelou que apenas 455 papagaios foram contabilizados no local, o que representa apenas 8,6% da população total, em comparação aos mais de 2.500 papagaios avistados em 2009. Foto: Zig Koch

Esforço contínuo pela sobrevivência da espécie

O censo do papagaio-de-cara-roxa, realizado desde 2003 pela SPVS com apoio da Fundação Loro Parque, é fundamental para o monitoramento da espécie. A conservação desse papagaio, que já esteve classificado como “Em Perigo” e hoje é considerado “Quase Ameaçado”, depende da continuidade das contagens e do envolvimento das comunidades locais.

Desde 1998, quando a SPVS iniciou seu projeto de conservação da espécie, os esforços de pesquisa e conscientização têm sido essenciais para a proteção do papagaio-de-cara-roxa. No entanto, as ameaças persistem. “Se não encontrarmos formas de mitigar essas perturbações, corremos o risco de ver o ‘silêncio dos papagaios’ se tornar uma realidade permanente. Preservar o ambiente saudável da Ilha do Pinheiro é essencial para garantir a sobrevivência dessa espécie única da Mata Atlântica”, conclui Elenise Sipinski.

Financiamento coletivo para o próximo censo

Para garantir a continuidade do monitoramento e investigar as causas dessa mudança, a SPVS lançou uma campanha de financiamento coletivo (crowdfunding) na plataforma Nature Invest, a primeira plataforma do Brasil focada em apoiar projetos ambientais. A campanha, que estará disponível até abril de 2025, tem como objetivo arrecadar R$ 25 mil para a realização do próximo censo, previsto para o outono de 2025.

A iniciativa visa, além da contagem dos papagaios no Paraná, expandir as atividades para o litoral sul de São Paulo e intensificar campanhas de educação ambiental nas escolas locais. O financiamento permitirá a aquisição de materiais, logística de campo e ações de sensibilização social.

Segundo Michael Becker, fundador da Nature Invest, a plataforma tem como missão conectar iniciativas socioambientais com apoiadores que desejam contribuir para a preservação da biodiversidade. “Facilitamos o diálogo entre proponentes e apoiadores, garantindo que os projetos consigam os recursos necessários para prosperar”, destacou Becker.

A SPVS é a encarregada do monitoramento da espécie no Paraná. Para assegurar a continuidade desse trabalho e investigar as causas das alterações observadas, a instituição lançou uma campanha de financiamento coletivo. Foto: Zig Koch
A SPVS é a encarregada do monitoramento da espécie no Paraná. Para assegurar a continuidade desse trabalho e investigar as causas das alterações observadas, a instituição lançou uma campanha de financiamento coletivo. Foto: Zig Koch

Como contribuir para o projeto:

  • Acesse a plataforma Nature Invest e clique na campanha do papagaio-de-cara-roxa (AQUI);
  • Selecione o valor da doação e preencha os dados solicitados;
  • Finalize a doação via PayPal, cartão de crédito ou PIX.

Com informações de Claudia Guadagnin (Assessoria de Imprensa da SPVS)

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