Um produto, infinitas possibilidades: conheça a versatilidade da bala de banana de Antonina


Por Flávia Barros Publicado 19/10/2023 às 08h15 Atualizado 19/02/2024 às 02h38

Que as balas de banana de Antonina fazem história há décadas e geram renda para centenas de famílias no Litoral, todo mundo sabe. Mas o que muita gente nem imagina é que o sucesso do doce vai bem além de tirar a embalagem, seja verde ou laranja, e levar a bala à boca: o reconhecimento do produto genuinamente local, com a Indicação Geográfica conquistada há três anos, abriu portas para inúmeras possibilidades e o “start” foi um evento ocorrido há quase um ano.

Organizado pelas duas fábricas certificadas com o apoio do Sebrae/PR, o evento aconteceu no tradicional Theatro Municipal de Antonina, em novembro de 2022, com a participação de moradores, lideranças e empresários antoninenses, onde a chefe de cozinha Karla Manfredini, elaborou, a convite do Sebrae, um coquetel com receitas que envolviam a bala de banana. Ela conta que fez 10 pratos diferentes para degustação dos convidados, o que causou uma boa impressão e despertou o interesse de alguns empreendedores da cidade para o potencial comercial do produto de outras maneiras.

Eu já fazia uma farofa com cebola caramelizada com a bala de banana substituindo a uva-passa, mas no coquetel foi uma experiência realmente diferente, em que eu montei pratos que eles nunca imaginavam que pudessem levar a bala de banana, como um cuscuz de camarão e peixe com molho barbecue”, relata Karla.

Convidada para falar durante o evento, Karla conversou com os comerciantes locais e contou que forneceria as receitas gratuitamente para os interessados em comercializar os produtos à base do doce. “Eu queria passar esse conhecimento para frente para que Antonina se tornasse de fato a capital da bala de banana, em que cada comércio tivesse o seu produto à base da bala”, diz.

Infinitas possibilidades

A partir de então, surgiram receitas como o chineque e sonho recheados com caramelo feito com a bala, um molho que também leva o produto em sua mistura para ser usado em hambúrguer, uma torta de requeijão com calda e até mesmo uma espuma usada na finalização de drinks. Atualmente, elas já estão presentes em algumas padarias, lanchonetes e hospedagens da cidade, mas a intenção da chefe de cozinha é de que os produtos possam ser encontrados em todos os lugares de Antonina.

A maioria dos antoninenses está tão acostumada com a bala que elas acabam não percebendo o valor dela. A partir do momento que você começa a colocar o produto em receitas elas começam a notar algo diferente. Eu conversei com as meninas das duas fábricas e, se tudo der certo, no próximo ano nós faremos um concurso de receitas com bala de banana na cidade”, conta.

Transformando a realidade local

Ao citar o exemplo do queijo da Serra da Canastra, de Minas Gerais, um produto com Indicação Geográfica há mais tempo, Karla argumenta que o reconhecimento nacional tem o poder de transformar a realidade local.

O IG é mais do que um selo e pode mudar completamente a realidade local, em que o produto é diretamente associado à qualidade e à história regional. Tudo o que aconteceu depois da certificação foi muito benefício para Antonina e eu considero que as minhas receitas podem ser um legado que eu deixo para a cidade dentro desse trabalho. Espero que com o tempo mais pessoas se sensibilizem e se envolvam com a iniciativa, para que assim como a Serra da Canastra, Antonina seja a terra da Bala de Banana”, conclui a chefe de cozinha.

Já no cardápio

A primeira a acreditar na proposta foi Francelis Pereira Maurício, proprietária do Hotel Capelista. O nome do estabelecimento que ela comanda, fundado em 1968, é uma referência à cidade, inspirado em uma forma alternativa pela qual os moradores da área central eram chamados devido à região ser conhecida como Capela em seus primórdios.

Francelis é a terceira de sua família a gerir o Hotel Capelista. Uma entusiasta da cultura local, foi uma das convidadas do evento de celebração da Indicação Geográfica e, após um mês, entrou em contato com Karla Menfredini para iniciarem a elaboração de uma receita própria para ser oferecida no estabelecimento.

Como viria a acontecer depois com os demais estabelecimentos, o produto foi batizado em homenagem ao hotel e, por consequência, à própria cidade: Bolinho Capelista. Trata-se de um bolinho feito com farinha de trigo e banana, com calda feita de uma das balas da cidade e recheada com a outra. No preparo da calda do doce, também é acrescentado um toque de cachaça de banana, outro produto tradicional da região.

Com a ajuda da Karla, a gente testou uma receita utilizando as características das duas balas, que são diferentes, e da cachaça daqui. Após vários testes, nós chegamos ao ponto ideal combinando os três ingredientes e, a partir de dezembro de 2022, começamos a oferecer o bolinho aos hóspedes do hotel no nosso café da manhã”, conta.

Sucesso e ampliação das vendas

Com o retorno positivo dos hóspedes que experimentavam o Bolinho Capelista e o aumento da procura de outras pessoas de fora do hotel, a empresária percebeu uma oportunidade de ampliar a iniciativa e começou a vender o produto para comércios locais e moradores. “As pessoas começaram a me ligar interessadas em comprar fora do café da manhã, e aí eu vi a oportunidade de expandir a fabricação de um produto que valoriza a nossa terra. Ter o selo da Indicação Geográfica associada ajudou muito”, acrescenta Francelis.

Na opinião da empresária, Antonina tem um potencial enorme ainda a ser explorado e que pode ser alavancado pela bala de banana. Para ela, a IG pode ser o ponto de partida para que os empreendedores locais se articulem em prol da cidade com a incorporação da bala e dos produtos derivados dela em seus negócios, assim como na criação de novas ideias.

Antonina está dentro de uma baía linda, em um local com Mata Atlântica abundante e onde ocorrem vários eventos culturais com a participação de turistas de vários lugares. Se conseguirmos unir os comércios dentro de uma parceria que se aproprie destes patrimônios e valorize os produtos e a identidade antoninense, todos saem ganhando”, argumenta.

Visibilidade

Grandes vitrines para as balas de banana e todos os produtos que dela derivam, os eventos que acontecem na cidade atraem milhares de turistas. Os mais conhecidos são o Carnaval, considerado um dos mais tradicionais do Estado, e o Festival de Inverno promovido da Universidade Federal do Paraná, sediado na cidade há 33 anos.

Mais recentemente, porém, o município tem atraído novos eventos e, por consequência, novos perfis de turistas. É o caso do Encontro Paranaense de Veículos Antigos e Especiais ocorrido em junho deste ano, e do Antonina Blues Festival, evento de música que teve a sua 7ª edição justamente neste feriado de Nossa Senhora Aparecida, entre os dias 12 e 15 de outubro.

O Paraná tem 12 produtos com Indicação Geográfica, que fazem do estado o terceiro com mais certificados no Brasil, atrás apenas de Minas Gerais (16) e Rio Grande do Sul (13). O reconhecimento começou a ser concedido no País há duas décadas pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e serve para atestar a reputação e valor diferenciado de produtos e serviços que são caracterizados pelo seu local de origem, garantido a eles uma identidade própria. No Litoral, além da bala de banana, o barreado também tem o selo e há outros produtos, como as ostras, em processo de obtenção.

*Com informações da AEN