Por Brayan Valêncio
O vereador Gerson da Silva Júnior, conhecido como Dr. Gerson Júnior (PL), foi acusado na última sexta-feira (28) por uma funcionária de seu gabinete de assédio sexual e concussão (popularmente conhecida como rachadinha). O boletim de ocorrência relatando o caso foi registrado às 14h01 na Delegacia de Polícia de Matinhos, sob a responsabilidade da delegada Sâmia Cristina Coser.
Segundo informações prestadas pela denunciante Thalia de Fatima Burdzinski, no início de 2021 ela foi convidada pelo vereador recém reeleito para ocupar o cargo de assessora de gabinete, com um salário de aproximadamente R$ 4 mil. Ao final do primeiro mês, Gerson teria pedido pessoalmente metade do salário para “ajudar uma terceira pessoa”. Ainda de acordo com o depoimento, a jovem de 22 anos acreditou que era um empréstimo e que haveria a devolução posterior, mas o vereador “exigiu” novamente R$ 2 mil no final do mês seguinte e “foi um tanto quanto agressivo”, segundo consta no B.O., situação que teria deixado a funcionária sem “coragem para argumentar”.
O relato ainda diz que a estudante de fisioterapia chegou a conversar com os pais e pensou em pedir exoneração do cargo por considerar que “isso [que tinha sido solicitado] era errado”. Apesar do conselho de familiares, Thalia resolveu permanecer na função por entender que o substituto passaria pela mesma situação. A jovem então resolveu “angariar provas suficientes para incriminá-lo, o que de fato ocorreu”, afirma um dos trechos do B.O.
Além da rachadinha salarial, que teria ocorrido nos cinco meses do ano de 2021, com entrega do dinheiro em mãos na casa do vereador, Thalia também diz que sofria assédio sexual desde o primeiro mês no cargo. A denúncia afirma que Gerson “olhava com malícia, ‘pedia’ cotidianamente beijos no rosto, sempre quando podia acariciava suas mãos e a abraçava com outras intenções”.
Thalia é sobrinha de ex-assessor de Gerson
Como presidente da Câmara dos Vereadores de Matinhos, na legislatura anterior, Gerson tinha como chefe de gabinete Claudio Amarante, tio de Thalia. Segundo o vereador acusado, a estudante já trabalhou na Câmara, com o Jair Borba Rosa (PL), reeleito em 2020, mas o tio recomendou que ela fosse trabalhar com Gerson.
O boletim de ocorrência aponta que a denunciante foi acompanhada da advogada Cristiane Ferreira da Maia Cruz. A assessora jurídica foi procuradora na gestão de Eduardo Dalmora, prefeito de 2013 a 2016, e candidato derrotado na última eleição, ficando em 2º lugar na corrida ao Executivo municipal.
O portal da transparência da Câmara de Matinhos indica que a denunciante está contratada em cargo de livre nomeação, com salário base de R$ 4.634,51 em janeiro e fevereiro e de R$ 4.887,09 em março e abril. A admissão aconteceu em 11 de janeiro e a carga horária era das 08h às 17h, com 1h30 de almoço, de segunda à sexta-feira. Segundo o boletim de ocorrência, ela já solicitou a exoneração.
Procurados pela reportagem, Thalia Burdzinski, Claudio Amarante e Cristiane Cruz e Sâmia Coser não responderam aos contatos.
Vereador afirma ser inocente
Em entrevista ao JB Litoral, o vereador afirma estar “tranquilo” com as acusações porque as denunciantes “não têm comprovação e provas nenhuma” do que é relatado no boletim. Gerson também vê a situação como “especulação que já teve em todas as gestões para poder desgastar a imagem do vereador”.
Em sua defesa, Gerson afirma que todos os contatos que teve com a assessora, tanto no gabinete como em sua casa, ocorreram em locais com câmeras que gravam áudio e vídeo, o que provariam sua inocência sobre as acusações de receber parte do salário da funcionária e de assédio sexual.
Questionado pela reportagem se houve troca de mensagens que possam ser consideradas como assédio ou desvio de conduta, o vereador respondeu que só falava com a funcionária nomeada pessoalmente e ressaltou, novamente, que todos os ambientes contam com câmeras. O vereador ainda afirma que irá agir “no rigor da lei” e processar as partes que o acusaram, garantindo que não cometeu crimes. “Não assediei. Quero processar todos”, disse o ex-presidente da Câmara.
O advogado do vereador acusado, Alexandre Martins, divulgou nota na noite de sábado (29) alegando que as histórias narradas são “acusações infundadas” e que a situação tem “cunho político e será estabelecido e comprovada a verdade dos fatos perante toda a sociedade de Matinhos e perante o Poder Judiciário”, diz a nota.
O texto também alerta sobre a intenção de recorrer ao Judiciário. “Serão tomada [sic] as medidas judicias [sic] cabíveis contra as acusações infundadas e irreais da Sra. Thalia de Fatima Burdzinski e todos (blogs, internautas e políticos) que efetuarem e divulgarem referidas acusações inverídicas [sic] responderão cível e penalmente”, conclui o comunicado assinado por Gerson e Alexandre.
O presidente da Câmara de Vereadores de Matinhos, Mario Braga (PODEMOS), não respondeu ao JB Litoral sobre eventuais medidas.
Gerson já sofreu acusação de assédio antes
Enquanto era presidente da Câmara de Vereadores de Matinhos, o vereador Gerson Jr, à época no PPS, teve divulgadas nas redes sociais conversas com uma jovem do município. Nos diálogos, o então presidente do Legislativo municipal pede para que a jovem envie fotos nuas ou mantenha relações sexuais em troca de indicações para vagas de emprego.
O contato da jovem com o político se deu após ela espalhar currículos pelas mídias digitais e então recebeu as mensagens de Gerson, entre as conversas que repercutiram na internet, estão a imagem de um órgão genital que supostamente seria do vereador e um áudio em que ele teria afirmado estar “excitado”.
O vereador, durante a repercussão da história, se defendeu, alegando que os conteúdos eram montagens de opositores que desejam manchar sua reputação. ““Eu tinha ciência das retaliações que eu poderia sofrer, mas jamais imaginava que alguém seria capaz de chegar tão baixo, manipulando material pornográfico e ofensivo contra minha pessoa”, disse Gerson Jr, que é fisioterapeuta por formação.
O vereador coleciona outras polêmicas: teve, em 2019, R$ 400 mil em bens bloqueados devido à falta de controle no pagamento de diárias durante viagens de representantes da Câmara entre 2017 e 2018, de acordo com o Ministério Público do Paraná (MP-PR).
No mês de março de 2021, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que vereadores e funcionários do Legislativo de Matinhos devolvam R$ 242 mil por gastos em diárias irregulares. Ao todo foram 47 pessoas condenadas, entre eles 9 parlamentares. Além de Gerson, o atual prefeito Zé da Ecler (PODEMOS), que era vereador no período, também foi instado a devolver o dinheiro público.