Com pandemia, noivos adiam casamento e fornecedores precisam driblar crise financeira

Com o crescimento diário do número de casos do novo coronavírus no Brasil, cidades estão adotando medidas extremas para evitar aglomeração e o contato entre as pessoas. Com isso, muitos eventos estão sendo adiados ou cancelados, entre eles, o tão sonhado momento dos casais: o casamento. 

Há oito anos trabalhando com eventos, a produtora e cerimonial, Priscilla Nakamura, salienta que a situação é inédita. “O cancelamento ou adiamento das festas acontecem, no entanto que temos uma cláusula no contrato que fala sobre isso, mas já presenciamos essas situações por outros motivos como falecimento ou, até mesmo, separação dos noivos. Agora é algo que afeta todo mundo”. 

De acordo com Priscilla, a preocupação está partindo dos próprios contratantes. “O pedido de cancelamento ou adiamento está partindo dos próprios anfitriões, felizmente a maioria está adiando, por isso é importante os fornecedores reforçarem que o evento pode ser adiado, mas o sonho de comemorar um matrimônio ou uma festa de aniversário, não”. 

“É um momento difícil para todos nós, tanto para o contratante quanto para o contratado. Quando o anfitrião decide pelo adiamento precisamos reorganizar a festa. Entrar em contato com os convidados, fornecedores, decidir nova data, enfim, todos precisam manter a calma para que tudo dê certo”, comenta Priscilla. 

A produtora diz que não será fácil ficar tantos dias sem trabalho, mas que é necessário aproveitar esse tempo para fazer outras atividades. “Peço que para quem trabalha com eventos mantenha a calma, fale para seus clientes não desistirem da festa, se mostrar mais flexível para o adiamento para mantermos o mercado aquecido. Além disso, aproveitem esse tempo para atualizar cardápio, catálogos e fazer os serviços administrativos. Logo tudo voltará ao normal”, completa. 

Não cancele, remarque! 

Segundo Sérgio Santana Matheus, proprietário da D’gust Buffet, a frase mais utilizada nesses últimos dias é: não cancele, remarque. “No mês de março tivemos dois eventos cancelados, no mês de abril são oito eventos adiados, quatro remarcados. Já em maio seis foram cancelados e quatro remarcados para o ano que vem. Estamos usando uma frase que nós todos do ramo de eventos usamos: não cancele, remarque. Além disso, não estamos cobrando taxas ou multas nos casos de cancelamentos ou reagendamentos”. 

“Com isso, na última semana de março foi um prejuízo de R$ 6 mil. No mês de abril, para que possamos nos manter sem trabalhar, contabilizamos uns R$ 8 mil, e fora os 40 colaboradores freelancer que dependem de nós direta ou indiretamente”. 

“Infelizmente, nós do ramo de eventos sempre sofremos com situações que envolvem a área da saúde, foi assim com a epidemia da dengue e a H1N1, onde diminuiu, e muito, os números de eventos, e agora com algo ainda mais sério como o coronavírus”, lamentou Sérgio. 

Questionado sobre a reorganização neste período de crise, o empresário está pensando em trabalhar com delivery. “Estamos analisando e talvez migraremos para o ramo de entrega de nossos pratos, via delivery, para movimentar o capital até o negócio se acalmar”, completou. 

O fotógrafo Felipe Luiz Alves já teve três casamentos adiados, dois aniversários de 15 anos cancelados até o momento, fora os ensaios. “O fato do setor de eventos ter um custo médio maior que os outros setores, tem também o maior prejuízo. Por enquanto serão pelo menos dois meses de trabalho praticamente parado. Então, tirando os trabalhos que aparecem durante a semana, e somando apenas os eventos, será um prejuízo de R$ 10 a 15 mil por mês paralisado”, disse o fotógrafo. 

Segundo Felipe, a agenda já está preenchida até o final do ano, mas está perdendo muitos trabalhos factuais. “No geral, os casamentos estão sendo adiados para o ano que vem. Mas nos casos de aniversários e campanhas publicitárias fica um pouco mais complicado, então estão cancelando, por dependerem de datas específicas. Principalmente as que dependem de estações do ano, de programações e prazos”. 

O fotógrafo pede para que os clientes tenham calma e não cancelem os eventos. “Peço para que os clientes que já tem suas datas marcadas ou que ainda serão remarcadas fiquem tranquilos, tudo irá se ajeitar e iremos nos adaptar para que todos sejam atendidos. Todos, sem exceção”. 

Já aqueles que são prestadores de serviços, precisam se adaptar ao novo cenário. Acredito que mesmo após a pandemia passar, ainda estaremos em recessão financeira. Então, os profissionais precisarão facilitar as negociações, aumentando os prazos de pagamentos e aplicando preços mais acessíveis”, completou. 

Sonho adiado! 

O casal Patrícia Ribas e Lucas Litz estão juntos há oito anos, e há um ano e meio decidiram dar o passo mais importante na relação, o casamento. Com o evento marcado para o dia 11 de abril, a pandemia do Covid-19 fez com que os noivos adiassem o grande sonho. 

“Fomos acompanhando as notícias e na metade do mês de março começamos a ficar preocupados, mas resolvemos esperar mais uma semana para ver se aconteceria algum milagre, achassem a cura, enfim. Porém, não tivemos como fugir e resolvemos adiar”, contou a noiva em entrevista ao JB Litoral. 

“No dia em que decidi adiar foi triste porque eu já estava na fase final, escolhendo as músicas, finalizando a decoração, e de repente tudo tinha que ser cancelado. Mas ao mesmo tempo eu percebi que já estávamos perdendo o foco do casamento com tudo que estava acontecendo. Eu nem pensava mais no casamento, mas no bem-estar dos convidados, da minha família, na paralisação do meu trabalho”.  

Segundo a noiva, eram esperados aproximadamente 320 convidados e os convites já tinham sido entregues. “O passo mais importante era avisar os nossos convidados. Então, sentamos e decidimos que iríamos gravar um vídeo e enviar pelo WhatsApp. Felizmente todos receberam a notícia super bem, e acharam a atitude sensata”. 

“Quando estamos organizando um casamento jamais imaginamos que algo desse tipo acontecerá. Temos vários sonhos, o noivo não ir, o vestido ficar apertado, o sapato machucar, mas jamais sonhamos com isso. Agora tiramos esse momento para a gente, para pensarmos no que temos feito das nossas vidas e como lidamos com os nossos problemas”. 

“Às vezes é preciso um empurrão para as pessoas acordarem umas para as outras. Para sairmos da rotina e da loucura do dia a dia. A gente sabe que isso vai passar, não sabemos quando, mas agora só precisamos respeitar o que estão pedindo. Eu e o Lucas estamos em quarentena e nos vendo o mínimo possível para não colocarmos nossas famílias em risco.” 

“Espero que as coisas não voltem a ser como antes, mas muito melhor. E que tudo isso sirva para gente parar, pensar e mudar, seja no que for”, completou.