Com queda de vendas próxima a 40%, comércios de beira de estrada têm pior verão dos últimos tempos no litoral


Por Cleverson Teixeira Publicado 24/02/2021 às 18h08 Atualizado 15/02/2024 às 20h00

Considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a maior crise sanitária da época, a Covid-19 tem deixado um rastro no setor econômico. Desde a pequena, passando pela média e chegando à grande empresa, a queda na arrecadação fez com que os gestores buscassem alternativas para driblar o sufoco, que, em março, completa um ano. Os empresários do litoral do Paraná que sobrevivem do turismo são um dos mais prejudicados pelo baixo índice de movimentação de visitantes.

Em Morretes, por exemplo, região onde se concentra o maior número de comércios de beira de estrada, não é difícil encontrar um empresário que não tenha vivenciado a falta de lucro diante da pandemia. Às margens da BR-277, rodovia que faz ligação com Curitiba e outros municípios do litoral, existem lanchonetes, armazéns, restaurantes, bancas de artesanato e vários outros tipos de empreendimentos que comercializam produtos típicos da localidade.  

O JB Litoral falou com um empresário, que administra uma lanchonete no KM 35, sentido Curitiba. Amilton de Paula disse à reportagem que, neste verão, a baixa nas vendas, em comparação com 2020, passa de 30%. Ele relembrou o início do impacto que a chegada do coronavírus ocasionou ao seu comércio.

“Houve uma queda significativa. Representou, neste período, um declínio de 35% em relação ao ano passado. Fechamos por 15 dias, entre abril e maio de 2020. E aí foram uns três, quatro meses, bem difíceis. Até a hora que o governo começou a liberar o auxílio emergencial. Não chegou ao ponto de demitir, mas passamos um momento em que pensamos nisso. Essa é uma das fases mais difíceis”, afirmou de Paula, que também já foi prefeito de Morretes e agora administra o estabelecimento em sociedade com três irmãos.

A Lanchonete Bela Vista tem 54 anos e foi fundada pelo pai de Amilton, Aroldo de Paula, falecido em 2003. De todos esses anos de criação do estabelecimento, há 30 o empreendimento é comandado pelos seus filhos. Composto por 14 funcionários, o comércio funciona de segunda a sexta-feira, das 6h às 21h30. Aos sábados, domingos e feriados o horário varia conforme o movimento.

Segundo Amilton, houve uma baixa de 35% nas vendas. Foto: Diogo Monteiro JB Litoral

Sem apoio, empresária está com contas atrasadas

A empresária Elisabete Berta, dona da Lanchonete Verde Vale, localizada no KM 34, também no sentido capital, relatou que a fatura da energia elétrica está em atraso. Além disso, segundo Berta, não foi possível pagar até mesmo os impostos, por conta da crise. “Acho que não precisa falar muita coisa, né? Em uma palavra só, dá para resumir tudo: difícil. E ainda está sendo. O movimento está fraco. Tem luz e impostos atrasados. A gente se vira como pode. Esse mês vamos ver se conseguimos pagar”, desabafou a comerciante, a qual trabalha há mais de 12 anos no local.

Ainda conforme Elisabete, foi preciso apelar para a demissão de uma das funcionárias da lanchonete. De acordo com ela, as autoridades e alguns órgãos não ajudaram, efetivamente, o comércio nesse período caótico.  “Demiti uma funcionária e fiquei só com uma. Os governantes e pedágio que não colaboram. Impostos muito caros, que na pandemia não foram reduzidos. Somando tudo isso, já está fechando um ano de prejuízo. Sem contar os 15 dias que ficamos fechados. Não tivemos apoio e ajuda financeira de ninguém, nem de bancos. Sem impostos em dia, não conseguimos financiamento para nada”, complementou.

A Verde Vale fica aberta de segunda a sábado, das 7h30 às 20h, e, no domingo, das 8h às 23h. Há 12 anos no mercado, o ponto comercial trabalha, além dos lanches, com produtos locais, frutas e verduras.

Crise fez comércio demitir uma funcionária. Foto: Diogo Monteiro JB Litoral

Expectativa com a Safra

A BR-277 é a única rota dos caminhoneiros que precisam descarregar as suas mercadorias nos Portos de Paranaguá e Antonina. Diante disso, com a intensificação da Safra de Soja no mês de março, a previsão é que haja um aumento significativo de veículos. Para Amilton de Paula, com o término da Operação Verão, a circulação de turistas diminui, mas, posteriormente, quem abastece o caixa da lanchonete são os profissionais do volante.

 “O movimento cai um pouco, porque nós saímos de uma temporada de verão. Mas fica o caminhoneiro. De uns dez anos para cá, ele tem tomado conta desse movimento de beira de estrada. Hoje, tudo o que fazemos como comerciante de rodovia, pensamos, primeiramente, nos caminhoneiros. Eles são uma peça fundamental para a nossa sobrevivência. No inverno, eles que dão essa sustentação para nós. Ficamos na expectativa de como será a safra de grãos”, conclui.

Em janeiro deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgou os números estimados da Safra Nacional. De acordo com o órgão, a colheita dos grãos deve bater recorde em 2021, totalizando 260,5 milhões de toneladas. Esse índice representa um crescimento de 2,5% em relação a 2020.

Estimativa de movimento de caminhões durante a safra gera esperança para empresários. Foto: Diogo Monteiro JB Litoral

Já no estado paranaense, conforme a empresa pública Portos do Paraná, foram exportadas, no ano passado, pouco mais de 19 milhões de toneladas de grãos e farelo, além de 2,5 milhões de milho. Por conta da pandemia, apenas o mês de dezembro de 2020 registrou baixa na movimentação, somando 500 mil toneladas.