Com três feminicídios registrados em 2020, mulheres se unem para pedir justiça


Por Luiza Rampelotti Publicado 09/06/2020 às 19h30 Atualizado 15/02/2024 às 11h00

Após o registro de mais um feminicídio em Paranaguá, neste ano, chegando ao total de três casos, mulheres decidiram realizar uma manifestação clamando por justiça, nesta terça-feira (09). O ato aconteceu em frente à Capela Mortuária do Cemitério Municipal Nossa Senhora do Carmo, no Centro, onde estava sendo velado o corpo da vítima Steffany Caroline da Silva, de 25 anos, que foi morta, nesta madrugada, pelo marido Heros Ferreira, de 31 anos.

O protesto foi organizado pela coordenadora estadual da União Brasileira das Mulheres (UBM) na cidade, Matsuko Barbosa, e envolveu participantes do Conselho Municipal da Mulher e do Movimento 65. “Trocamos ideia sobre mais este caso trágico e decidimos nos manifestar, exigindo que o Poder Público tome medidas concretas para não deixar as mulheres vítimas de violência desamparadas”, diz.

De acordo com a delegada Maria Nysa Moreira Nanni, designada para responder pelos casos de violência doméstica na cidade até outubro deste ano, somente do início de 2020 até o dia 29 de abril, foram instaurados 43 inquéritos policiais por lesão corporal em casos de violência doméstica contra mulheres; 02 casos de feminicídio e foram asseguradas 177 Medidas Protetivas. Mais este caso contabiliza o 3º feminicídio em 2020.

Porém, por não existir uma Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher no município, não é possível saber o número de violência doméstica para crimes de ameaça, vias de fato, calúnia, injúria, difamação, crimes contra a família, constrangimento ilegal dentre outros que são passíveis de investigação em âmbito de violência de gênero.

Vizinhos não ouviram gritos

Segundo o Boletim de Ocorrência da Polícia Militar, o assassino confesso relatou que, durante uma discussão, horas antes do crime, Steffany o insultou e humilhou com palavras. Já pela madrugada, por volta de 2h30, ele contou que foi ao banheiro e, ao voltar para o quarto, pegou um pistão de caminhão cortado, que era usado como peso de porta e, com a vítima deitada de costas, sem possibilidade de defesa, desferiu vários golpes em sua cabeça.

Na sequência, o BO relata que Heros ligou para a PM, que foi à residência, na Rua José Cadilhe, no Porto dos Padres, prestar atendimento, acompanhada do Conselho Tutelar, uma vez que o casal tem duas filhas menores de idade – uma de quatro anos e outra de nove meses, ainda em fase de amamentação.

Heros Ferreira e Steffany da Silva estavam juntos há cerca de seis anos. Foto: Reprodução/Facebook

Para a imprensa, vizinhos relataram que não ouviram gritos e nem confusões, o que corrobora a ideia de que a vítima estava dormindo. Um tio de Steffany, que deu entrevista, também informou que a família não desconfiava de agressões por parte de Heros e que o casal tinha “brigas de casal”. Eles estavam juntos há cerca de seis anos.

A delegada Maria Nysa informou que não havia registro de histórico de violência contra Steffany, mas havia um registro de que houve “desentendimento e o atual agressor era a vítima”. “Não havia nenhum tipo de registro (contra ela), mas isso não significa que não houvesse nenhum tipo de violência. Maiores detalhamentos saberemos somente com o andar da investigação”, comentou.

Além disto, ela revelou que, segundo a versão de Heros, “a impressão que se tem é que ele teve a ideia de cometer o crime durante a madrugada”.

O homem, que trabalhava como pedreiro, foi preso em flagrante e conduzido pelos policiais para o plantão da Delegacia Cidadã, onde ficou recolhido. Steffany Caroline da Silva era doceira e recebeu várias homenagens de amigos e familiares.