Comunidade rural vive o drama do esgoto a céu aberto em Morretes


Por Redação JB Litoral Publicado 01/05/2014 às 21h00 Atualizado 14/02/2024 às 02h19

Em novembro do ano passado, foi destaque no site Documento Reservado do jornalista Pedro Ribeiro, que também atende a Secretária de Comunicação da cidade Morretes, a inauguração do micro sistema de água tratada, na área rural da comunidade do Rio Sagrado. Somente na primeira etapa, a notícia que 200 famílias seriam atendidas, beneficiando cerca de mil pessoas.

Na reportagem o prefeito de Morretes, Helder Teófilo dos Santos (PSDB) disse que o sistema foi construído em parceria com o Governo do Estado, através da Sanepar, prefeitura e comunidade do Rio Sagrado, que entrou com a mão de obra.

Enquanto isso, a comunidade do Mundo Novo Saquarema, localizada a partir do km 19 da BR-277, com chácaras que transformam o local num paraíso rural que, há quase 10 anos, sofre com a convivência diária de esgoto a céu aberto, escorrendo nas valetas ao longo da estrada e invadindo algumas residências, levando risco a saúde de crianças, adultos e idosos da região.

No feriado da última sexta-feira (18), a reportagem do JB foi chamada pela produtora rural, Eliane Schonrock, assídua leitora do JB, que mostrou o drama que vivem os moradores, diante da falta de ação da prefeitura e da Sanepar, empresa responsável pelo tratamento de esgoto na cidade e abastecimento de água.

Segundo a produtora, em 2010, gestão do prefeito Amilton de Paula (PT), a prefeitura, através da Secretaria de Saúde, beneficiou certo número de moradores, com a construção de fossas sépticas, filtros e tubulações. Os moradores, residente no lado esquerdo de quem chega à comunidade, foram os beneficiados com as fossas. Mesmo assim, com a saturação do terreno, principalmente nos períodos de chuva, muitas vezes, o esgoto descia para as valas entupidas à margem da estrada, fluindo em direção ao rio e água suja, por sua vez, era captada por moradores residentes na beira da estrada.

No período de estiagem, a água das valas exalava mau cheiro e a proliferação de insetos, prejudiciais à saúde, era uma das consequências do esgoto a céu aberto. Após a construção do sistema de esgoto rudimentar, na época, cabia a Sanepar fazer a limpeza periódica das fossas, obrigação que sequer foi cumprida, segundo Eliane Schonrock. “O caminhão da Sanepar deveria vir uma vez por mês e limpar as fossas, mas foi feita apenas na área central e aqui nunca foi feito”, disse Eliane, ressaltando que os próprios moradores vêm fazendo a limpeza até os dias atuais.

 

“O esgoto toma conta dos terrenos”

 

O morador Pedro Andriani, vizinho de Eliane e residente há anos na região, reforça e comprova as palavras da moradora. “Qualquer chuva mais forte e o esgoto toma conta dos terrenos de muitos quintais por aqui”, informa Pedro.

A moradora explica que o esgoto nas valas, ruas e terrenos tem gerado problemas de saúde nas crianças, como micoses, uma vez que, as crianças brincam nas águas sujas.  Pedro, por sua vez, destaca que até mesmo os animais e aves domésticos, acabam bebendo desta água de esgoto. Segundo Eliane, moradores da comunidade Cruzeiro usam esta água em suas casas. A moradora lembra que no desastre ambiental, provocado pelas chuvas de 2011, o problema aumentou de proporção, porque o alagamento levou esta água para o interior de todas as casas da região. Um levantamento comunitário feito pelo marido de Eliane, em 2010, mostrou uma população de 329 pessoas, sendo 221 adultos, 72 crianças, 27 idosos e nove lactentes. Hoje, ela acredita que a população está superior a 500 pessoas.

O morador conhecido por Zezinho do Mundo Novo, ao se deparar com a reportagem do JB fez um desabafo emocionado, alertando o risco de desabamento de sua residência, que fica ao lado do rio. Revoltado ele contou que recebeu promessa do ex-prefeito Amilton e do atual, Helder, da construção de um muro de contenção para evitar um possível desabamento. Porém, passado o mandato e campanha, nenhum dos dois cumpriu a promessa e um dos cômodos de sua residência já está com rachaduras.

Sem nenhuma ação da prefeitura durante toda gestão anterior, a moradora informa que a atual administração do prefeito Helder também não tomou nenhuma providência para resolver o problema.

Ela disse que, recentemente, participou de uma reunião do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural (CMDR), onde esteve presente a secretária municipal de Agricultura do município, Maria Denise Valenga, e tomou conhecimento que a prefeitura irá receber um grande volume de recursos para investir em tratamento de esgoto. Eliane, que já presidiu a Associação dos Produtores Rurais e Moradores do Mundo Novo do Saquarema, (Aprumus), solicitou que parte deste recurso seja investido na comunidade do Mundo Novo Saquarema, para minimizar o grave problema de esgoto que a comunidade enfrenta todos os dias.