Crise hídrica revela uso de poços e insatisfação com serviço de abastecimento


Por Redação JB Litoral Publicado 05/12/2020 Atualizado 15/02/2024
bomba de poço

Por Marinna Protasiewytch

A falta de chuvas no estado do Paraná, neste ano, tem sido um dos principais motivos para a crise hídrica instaurada. No litoral, o momento é de racionamento, mas a situação não é das piores, como acontece na capital do estado. Segundo o serviço de monitoramento dos níveis pluviométricos do Instituto Água e Terra (IAT) do Paraná, todas as estações apresentaram quedas expressivas em comparação com as cotas médias de chuvas esperadas para o mês de novembro.

A situação da falta de água é prevista como incerta e ainda deve perdurar durante o verão. Desta forma, os moradores precisam estar cientes de que ter uma caixa d’água em casa faz parte das determinações das instalações prediais e garante que as famílias tenham o mínimo de recursos hídricos em situações como as de rodízio de água. No entanto, locais como Morretes, Antonina e Paranaguá possuem um comportamento diferente.

Caixas d’água garantem abastecimento de imóveis durante o rodízio de água pela crise hídrica. Foto/SANEPAR

Segundo um levantamento realizado pelo Instituto Trata Brasil, o total de água extraída em poços é de 17,580 Mm³/ano no Brasil, volume suficiente para abastecer a população do país por 1 ano. Existem mais de 2,5 milhões de poços tubulares em solo brasileiro e 88% são clandestinos. Em nota, o IAT informou que “infelizmente muitos usuários, por desconhecer as normas e exigências para a perfuração de poços no litoral, não entram com pedido junto ao órgão ambiental. Portanto, não tem como tabelar a quantidade exata de poços atualmente perfurados e existentes”. Em números oficiais, foram concedidas, em novembro de 2020, 81 outorgas para o uso de poços nas cidades do litoral e outros 17 pedidos estão em tramitação.

Poços de água no litoral

A utilização de poços artesianos é feita de maneira indiscriminada e tida como solução para conseguir água de qualidade e valores acessíveis. Fabiano Honorato Guiterrez, arrumador, optou por instalar um em casa e justifica que o custo-benefício é alto. “Uso a água de poço há seis anos, foi perfurado a seis metros de profundidade e a qualidade é muito boa, comparada com a da Paranaguá Saneamento. Gastei cerca de R$ 600,00 para instalar o poço, e o custo tirei em cinco meses, o custo-benefício é bem melhor, mesmo pagando uns R$ 20,00 a mais na conta de luz por causa do motor”, explicou.

Eliezer Junior perfura poços há mais de 15 anos no litoral paranaense, e garante que esta tem sido a solução para muitos moradores. “É difícil dizer quantos poços já foram instalados no litoral em todos esses anos, porém, acredito que cerca de 250 são perfurados por ano na região. A qualidade da água varia de uma área para a outra, muitos bairros de Paranaguá e também do litoral têm a pureza da água que chega à superfície. Por outro lado, em alguns bairros, a qualidade da água não é muito boa, reduzindo bastante onde deve ou não ser utilizada a água do poço, limitando apenas para a limpeza de calçadas e veículos”, explica o trabalhador do ramo.

Ele conclui lembrando que “a água do poço sempre deve ser usada para a limpeza em geral, sendo ela na sua grande maioria utilizada em vasos sanitários, calçadas, carros e objetos, nunca para ser ingerida, pois não é uma água tratada”.

Solução hídrica finita

O IAT informa, ainda, que “de acordo com o que prevê o Ministério da Saúde, a perfuração de poços representa uma alternativa neste momento da crise hídrica, mas este não é um recurso hídrico infinito e a recarga dos aquíferos também depende das chuvas. Assim, o bombeamento excessivo pode afetar outros poços na redondeza. Portando, o uso deve ser racional”.

Desta forma, usuários não estão livres de sofrer com a falta d’água e a utilização de caixas d’água também é recomendada para quem usa esse tipo de recurso para o abastecimento de residências e comércios. “Quem possui caixa d’água em seu imóvel evita a retirada de água da rede de distribuição quando o sistema mais precisa, ou seja, nos horários de pico de consumo, como no início da manhã ou no final da tarde”, explica o gerente da Sanepar, Celso Thomaz. “Assim, a pessoa que tem reservatório domiciliar de tamanho adequado faz um bem a si mesma e contribui para o bem-estar coletivo, já que não retira do sistema, naquele momento, a água que pode fazer falta para outra pessoa”.