DIA CONTRA A HOMOFOBIA – Ator Everton Abreu comenta sobre preconceito em Paranaguá, sua sexualidade, carreira e sonhos


Por Redação JB Litoral Publicado 17/05/2018 Atualizado 15/02/2024

Quem não conhece Everton Abreu em Paranaguá? Se não conhece, provavelmente já ouviu falar em Hillary Banks, ou ainda em Dona Cloris. O ator que completa 30 anos de idade é o que podemos chamar de “multiartista”. Fez seu primeiro curso de teatro quando tinha 19 anos, é radialista, comunicador, mestre de cerimônias, ator, humorista, professor de aula de passarela para modelos, vendedor e tem grande vontade de ser cantor. Já recebeu vários prêmios locais por suas interpretações. O colunista Maximilian Santos, da coluna Folha Gente no JB Litoral, bateu um papo com o integrante do programa Tá Me Tirando, da Litoral Sul FM, líder de audiência na região. Ele nos fala um pouco sobre como entrou na área artística, como se descobriu gay, preconceitos que recebeu e recebe em Paranaguá e sobre o que planeja para o futuro.

Muitas das vezes na rua, passam carros e gritam “bicha” “baitola”, coisas deste tipo. Já vivi várias situações de hostilização.

Folha Gente – Como você se descobriu ator? Foi por meio da Hillary Banks ou muito antes do personagem?

Everton Abreu – Eu comecei a fazer teatro no ano de 1998, por meio de uma oficina chamada “A Preparação do Ator”, com base nas teorias e métodos de Constantin Stanislavski. De lá pra cá nunca parei com a área artística e dos palcos.

Folha Gente – Você pensa em sair de Paranaguá e tentar a carreira artística em grandes centros culturais, como São Paulo e Rio de Janeiro? Faz planejamento para isso?

Everton Abreu – Tenho muita vontade de tentar uma carreira fora, mesmo sabendo das dificuldades e da concorrência ser muito maior. Hoje em dia me sinto muito mais preparado, para quem sabe angariar uma carreira fora da cidade. No momento estou focando meus trabalhos aqui mesmo, mas para o próximo ano, provavelmente tentarei fazer algum trabalho fora, já que o espetáculo A República se encerra ainda este ano.

Dona Cloris, personagem do ator em A República – Arquivo pessoal

Folha Gente – Você é um artista multifacetário. Faz teatro, dança, dublagens, é comunicador no rádio, mestre de cerimônias, humorista e ainda professor de desempenho de passarelas. Tem alguma área cultural que ainda não atuou, mas que pretende atuar?

Everton Abreu – Siiimmmm! Cantar. Eu adoraria participar de um musical. Mas também quero muito aprender a tocar violão. Se alguém quiser me ensinar…

Folha Gente – Paranaguá é uma cidade conservadora, como foi que você se compreendeu gay e como foi contar para a família?

Everton Abreu – Uouuuuuu. Folha Gente vindo com tudo (risos). Foi complicado, pois na minha época existia muito mais preconceito. Eu era muito tímido, sempre senti que algo em mim era diferente do que a sociedade impunha quando comparado aos outros meninos. Mas como cresci assim, era normal pra mim. Mas a questão da sexualidade se definiu, acredito-me, que com o início da adolescência. Em relação a minha família, foi bem difícil. Mas eu me exigi provar que a homossexualidade não era o que eles pensavam, e provei por A mais B que mesmo sendo gay, sempre fui uma pessoa normal como as outras, saudável, trabalhador, digno de todos os direitos e deveres, bem como qualquer heterossexual. Aos poucos eles foram compreendendo e aceitando. Hoje em dia está tudo mais que certo!

Everton Abreu já encenou vários personagens na Paixão de Cristo. Foto João Paulo Mendes

Folha Gente – Você já recebeu algum tipo de preconceito na cidade? Pode nos contar pelo menos um fato ocorrido?

Everton Abreu – Já sim, muitos! Muitas das vezes na rua, passam carros e gritam “bicha” “baitola”, coisas deste tipo. Já vivi várias situações de hostilização. Mas as piores são as enrustidas, como uma certa vez, em que eu tinha uma amiga, que se dizia super a favor dos LGBTs, que compreendia, que nos amava, até que um dia cheguei em um conhecido posto de conveniência da cidade e ela estava lá, com mais quatro garotos. Eles começaram a me xingar, de forma gratuita, pareciam estar um pouco bêbados. É claro que esperei que ela me defendesse, mas sabe o que ela respondeu? “Ai, parem de falar assim dele. Tadinho!”. Continuou ali com eles como se nada tivesse acontecido.

Folha Gente – A carreira de artista é oscilante. Você acredita que faltam investimentos do poder público e da iniciativa privada (empresas) da cidade, na área cultural?

Everton Abreu – Falta sim! E muito. O mais triste disso é você ser da terra, ter o reconhecimento do público da cidade, mas os órgãos públicos não darem credibilidade aos nossos artistas. Como querem que a cultura local cresça, se eles mesmos não apoiam a classe artística local?

Hillary Banks é um dos personagens mais populares do ator – Arquivo pessoal.


Folha Gente
 – As redes sociais têm destacado um lado intolerante das pessoas. Você já recebeu comentários de haters? Como é lidar com isso?

Everton Abreu – Estamos passando realmente por uma época bastante delicada, com relação a ideais, conceitos, ideologias. Do público não recebi nas redes sociais. Mas dos próprios artistas sim! Mas eu nem ligo… O importante é o público. Se o público gosta, então está tudo certo. É para eles que fazemos arte, e não para outros artistas. Faço o meu trabalho com muito carinho e até então só recebi carinho e muitos votos de sucesso. Só tenho que agradecer o grande amor que recebo dos parnanguaras e de todos que me acompanham.

Folha Gente – Deixe um recado para quem quer seguir a área artística em Paranaguá, mas não tem coragem pela dificuldade existente.

Everton Abreu – Não deixe o tempo e as dificuldades levarem seus sonhos embora! Seja você a diferença que você mesmo quer ver. Corra atrás deles e não ligue para o que vão dizer. Muitos vão te desmotivar e dizer que você não pode e não consegue. Sim, você vai ter momentos que irá chorar. Mas não há dor que dure para sempre. Então, enxugue as lágrimas e bola pra frente. O sucesso também depende de muita dedicação e estudo.

Quero agradecer ao jornalista Maximilian Santos e toda a equipe do Folha Gente pelo carinho com o meu trabalho. Sucesso para todos!

 

Crédito das fotos: Arnaldo Silveira, João Paulo Mendes e arquivo pessoal.