Inclusão em Paranaguá: secretaria atinge 2.650 crianças e adolescentes por semana e prova que não é obsoleta

ESPECIAL 376 ANOS


Por Luiza Rampelotti
A Secretaria Municipal de Inclusão fica localizada na Rua Faria Sobrinho, 371 - Centro Histórico. Foto: Juan Lima/JB Litoral
A Secretaria Municipal de Inclusão fica localizada na Rua Faria Sobrinho, 371 – Centro Histórico. Foto: Juan Lima/JB Litoral

A Secretaria Municipal de Inclusão (SEMI) de Paranaguá, criada em janeiro de 2023, tem transformado a vida de centenas de crianças e adolescentes com deficiência na cidade, provando, na prática, que a sua criação não foi um erro, como alguns vereadores alegaram na época. A secretária Camila Leite afirma que a pasta, que antes era um departamento, ampliou o atendimento do Centro Educacional Municipal de Referência ao Transtorno do Espectro Autista, mais que quadriplicando o número de pacientes, que foi de 632 (de 2020 a 2022) para 2.650 (de 2023 a 2024). “Conseguimos mais parcerias com secretarias municipais e convênios com instituições, o que possibilitou essa expansão“, explica Camila.

Mas a SEMI não se limita ao autismo. Ela oferece atendimento a crianças e adolescentes com Síndrome de Down, Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), dislexia e outras deficiências, além de suporte psicológico, terapia ocupacional, ensino estruturado e atividades como psicomotricidade, teatro, música, capoeira e futebol.

Hoje, atendemos 2.650 crianças e adolescentes por semana, tanto na Secretaria de Inclusão quanto no Centro de Autismo. Além disso, na semana passada, chamamos mais 120 crianças, pois conseguimos mais vagas e profissionais para atender. A lista de espera para terapia não passa de um mês“, afirma Camila.

A secretária destaca a importância do trabalho em conjunto com outras instituições, como a Fundação de Atenção à Saúde de Paranaguá (FASP), APAE, secretarias municipais de Educação e Saúde. “Através dessas parcerias, conseguimos ampliar os atendimentos e oferecer um suporte mais completo às famílias atípicas“, afirma.

A SEMI também oferece cursos de Libras, com mais de 320 alunos matriculados, além de realizar ações para a comunidade em geral, como palestras e eventos sobre inclusão. “A inclusão é um processo que exige a participação de todos, não só das pessoas com deficiência“, destaca Camila.

“Hoje a sociedade pode ver a amplitude do nosso trabalho e o impacto positivo que ele tem na vida de milhares de pessoas”, afirma Camila sobre a criação da SEMI. Foto: Kaike Mello/JB Litoral

Atendimento às famílias


Um dos destaques do trabalho da Secretaria são os programas “Encontro Parental” e “Prapais”, que oferecem, respectivamente, treinamento para os pais de crianças em terapia, ajudando-os a dar continuidade ao tratamento em casa, e suporte psicológico a esses familiares. “Esses programas são fundamentais para garantir a efetividade das terapias e o desenvolvimento da criança, além do acolhimento dos pais“, enfatiza Camila.

Muitos pacientes atendidos são adolescentes que receberam o diagnóstico tardio de algum transtorno. A secretária conta que, em muitos casos, esses jovens chegam até a Secretaria de Inclusão com crises de ansiedade e depressão e até tentativas de suicídio.

Muitos adolescentes não entendiam por que passavam por tudo aquilo, porque tinham aquelas características diferentes. Então, o diagnóstico é libertador e, através dele, podemos dar início ao tratamento. Através das terapias, vemos a autoestima deles se recuperar, e a aceitação deles mesmos e da sociedade melhorar. A questão do bullying fica mais fácil de trabalhar“, relata Camila.

Ela destaca que a Secretaria de Inclusão também tem um papel fundamental na prevenção e combate ao bullying. Para isso, realiza palestras e ações de conscientização nas escolas, tanto na rede pública quanto na particular, com alunos e equipe gestora. “Muitas pessoas, inclusive os próprios colegas, não conhecem as deficiências e as dificuldades que os alunos com necessidades especiais enfrentam. Através do nosso trabalho, estamos mudando essa realidade“, completa.

No local, há atendimento a crianças e adolescentes com autismo, Síndrome de Down, TDAH, dislexia e outras deficiências, além de suporte psicológico, terapia ocupacional, ensino estruturado e atividades como psicomotricidade, teatro, música, capoeira e futebol. Foto: Juan Lima/JB Litoral

Não é obsoleta


A secretária, no entanto, enfatiza que a criação da pasta de Inclusão foi essencial para essa mudança, desmentindo críticas de que ela seria obsoleta. “Quando a Secretaria foi criada, alguns vereadores votaram contra, alegando que seria obsoleta. Mas hoje, a sociedade pode ver a amplitude do nosso trabalho e o impacto positivo que ele tem na vida de milhares de pessoas“, argumenta Camila.

De acordo com ela, muitas pessoas não tinham noção do que a Secretaria realmente faz. Segundo Camila, elas não viam a necessidade de uma pasta específica para atender às pessoas com deficiência. Mas hoje, a equipe pode mostrar que a Secretaria é um elo para garantir o acesso à terapia, ao suporte psicológico, ao ensino estruturado e a diversas outras atividades que promovem a inclusão social.

Temos orgulho de ser a terceira cidade do Brasil a ter uma Secretaria de Inclusão e de servir como modelo para outros municípios. Recebemos várias visitas de vereadores e secretários que querem instalar a pasta em suas cidades. Estamos felizes em mostrar que esse modelo deu certo em Paranaguá e pode dar certo em outros lugares também“, finaliza Camila Leite.

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