Mestre renomado do litoral, Bacico é conhecido por disseminar a tradição da capoeira: “ela é água no côncavo das mãos”


Por Redação Publicado 15/04/2021 às 16h44 Atualizado 15/02/2024 às 23h31
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Por Marinna Protasiewytch

Figura ilustre do nosso litoral paranaense, o mestre Bacico, como é conhecido Geraldo Ferreira da Silva, tem 61 anos. De uma fala cativante, o ex-oficial da Polícia Militar, e hoje presidente da Federação Paranaense de Capoeira, compartilhou a sua trajetória na capoeira, que culminou com duas homenagens prestadas pelo legislativo de Paranaguá e de Matinhos.

“Meu interesse pela capoeira começou ainda na infância, pois tive o privilégio de ter nascido numa família muito ligada às culturas populares. Era muito comum no âmbito familiar o samba de coco, a roda de violeiros, a roda de samba, o bloco carnavalesco a festa de Santo Antônio, São João e São Pedro e outros folguedos”, contou Bacico.

No final da década de 1970, ele encontrou espaço para conhecer a capoeira na academia do Clube Seleto, na cidade de Paranaguá. Com uma briga interna familiar, o hoje mestre, lutou para ingressar no Centro Paranaense de Capoeira e buscou quebrar os paradigmas do preconceito com a luta que promove a cultura afro-brasileira.

“Em 1981 constituí o primeiro grupo para treinamento de Capoeira no clube do Alicio em Paranaguá. Como os principais envolvidos no processo ensino-aprendizagem da Capoeira tiveram que voltar para Curitiba, ficou comigo a responsabilidade e a obrigação de continuar com o trabalho que estava iniciado. A partir daí comecei a organizar as pessoas e o local onde se daria as práticas”, relembrou o capoeirista.

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Como se tornou mestre?

Após a criação do grupo de Capoeira Zoeira Nagô no município de Matinhos, Bacico, que buscava se tornar mestre, também difundia a arte e a cultura afro-brasileira. “Iniciei a formação do grupo com alguns militares e logo as pessoas das comunidades foram se inserindo”, contou. Na busca para se tornar mestre, o capoeirista entrou em um estágio de contramestre e, em 1990, foi reconhecido como “Mestre Bacico” pela Federação Paranaense de Capoeira.

Homenagens merecidas

Iniciou sua trajetória na modalidade em Matinhos, no ano de 1988, ministrando aulas do esporte em vários pontos da cidade. Foi o idealizador do Projeto “Capoeira nas escolas de Matinhos” e Idealizador do Projeto CISECA (Centro de Integração Social e Educação Cultural, através da Capoeira). Por ser uma pessoa com notória busca pela igualdade e transmissão da cultura afro por intermédio da capoeira, Mestre Bacico recebeu a honraria de “personalidade da cultura de Matinhos”, em 2015.

Honraria recebida como Cidadão Honorário da cidade de Matinhos

Depois, em 2017, foi reconhecido pela Câmara de Vereadores de Paranaguá com o título de “honra ao mérito” por ser “um dos mais renomados representantes do meio esportivo e cultural”, segundo os parlamentares. “Outros esportes não têm essa inclusão. A capoeira é democrática, ela é para qualquer pessoa, principalmente as pessoas da periferia. Como o mestre Pastinha, dizia ‘ela é água no côncavo das mãos’. Onde tem uma brechinha, ela vai entrando. E assim, se você for nas comunidades das comunidades você não vai ver outro esporte, principalmente nas favelas. Ao lado do crime, o crime tá ali, mas a capoeira também está ali, ajudando a tirar aquelas pessoas daquele caminho”, declarou orgulhoso o mestre Bacico que, mesmo diante de muitas adversidades, continua promovendo a capoeira e seus ensinamentos ao longo de mais de 46 anos de história.