Por Gabriela Vizine
As más condições do Mercado Municipal do Peixe, de Paranaguá, fizeram com que os comerciantes, que atuam no estabelecimento, procurassem o JB Litoral para denunciar a situação. O local, que outrora foi considerado um cartão-postal do Município, hoje gera sensação de insegurança para aqueles que tiram seu sustento dele e aos que o visitam. Banheiros, estrutura, pintura, canos e telhado estão precários e, com isso, os vendedores se sentem “abandonados” e dizem estar acumulando prejuízos financeiros.
O Mercado do Peixe foi construído em 1982 e garante a renda de muitas famílias parnanguaras, como é o caso de uma comerciante que trabalha há mais de 3 décadas na região e não quis se identificar. Segundo ela, o espaço está completamente descuidado. “Estou aqui há mais de 30 anos e esse mercado está desleixado. Ninguém liga mais, parece que nem existe. Este era um local que antes o turista vinha direto. Os que vêm ficam apavorados. Ninguém faz mais nada por esse Mercado”, conta.
De acordo com ela, o estabelecimento já estava em péssimas condições há anos, porém, após o ciclone extratropical, denominado Bomba, ocorrido em julho deste ano, a situação piorou devido ao destelhamento. Na entrada, por exemplo, ainda é possível observar as telhas de lanchonetes que estão quebradas por conta de dois galhos de árvore que caíram.
Os vendedores contam que, depois do episódio, houve goteiras e alagamentos nas lanchonetes, porém, a Prefeitura de Paranaguá fez alguns pequenos reparos. Entretanto, eles afirmam que a reforma não foi suficiente para atender as demandas necessárias à melhoria do prédio. “Toda a armação foi embora, o telhado está quebrado e eu tive que colocar telha de zinco. Estou tendo prejuízo, além da umidade no teto. Parece que eles querem que a gente abandone isso aqui”, pontua um vendedor.
À medida em que a equipe do JB Litoral fotografava o local, trabalhadores se aproximavam para denunciar as condições em que realizam seu trabalho dentro do Mercado do Peixe.
BANHEIRO PÚBLICO VIROU PROSTÍBULO
Eles afirmam, ainda, que além dos problemas estruturais no prédio, os banheiros masculino e feminino do estabelecimento estão sendo usados para a prostituição. “O banheiro está abandonado, as usuárias de drogas tomaram conta e usam até para fazer sexo. Algumas meninas chamam senhores para o banheiro para se prostituir e ganhar dinheiro”, diz uma vendedora.
Sem luz, sem água e sob um forte odor, a situação dos lavabos demonstra o total abandono. Na quarta-feira (26), havia roupas femininas amarradas nas grades do banheiro; na porta, era possível observar que a fechadura foi arrombada mesmo com a existência de uma corrente que tentava manter o local fechado.
Com a falta de manutenção, os trabalhadores comentam que não conseguem mais utilizar o banheiro. “Inclusive já tocaram fogo no banheiro, o teto ficou todo preto”, diz um outro denunciante. As marcas do fogo ainda podem ser vistas debaixo da pintura que os próprios trabalhadores realizaram no local.
Um vendedor, que trabalha há quase 35 anos no prédio, lamentou a circunstância atual. “Eu vim jovem para cá, há mais de 30 anos. Minha vida está aqui, daqui eu formei meus netos e filhos. Pelo visual que se encontra, temos a impressão que eles nos abandonaram hoje”.
INSEGURANÇA
Durante a reportagem, a equipe do JB Litoral também constatou a circulação de drogas. “Tem muito usuário de entorpecentes, brigam direto e isso atrapalha o turismo daqui. Tinha uma guarita aqui do lado, mas desmancharam. Se tivesse mais uma guarita, não tinha isso aí”, comenta outro comerciante.
“A prostituição de meninas e a venda de drogas é constante. Você chega aqui às 5h30 da tarde em diante e vê um corre-corre. Esse mercado virou a ‘cracolândia de Paranaguá’, está horrível”, diz um dos denunciantes. Segundo ele, em uma manhã, quando chegou ao trabalho, se deparou com muito sangue no chão e garrafas quebradas espalhadas em frente ao seu estabelecimento.
“Temos muitos clientes de Curitiba. As pessoas gostam de lugar bonito, apresentável. E, infelizmente, com muitos usuários brigando e bêbados, as pessoas ficam com medo, se inibem e não vêm. Os próprios turistas que falam. E se não tem turista, não tem tanto movimento”, relata.
RESPONSABILIDADE DO PRÉDIO É DE QUEM?
Os denunciantes reclamam que, apesar do longo período de funcionamento do Mercado do Peixe, eles permanecem sem saber de quem é a responsabilidade pelo prédio: se é do Estado ou do Município. “Estavam construindo um local para nós no novo mercado, pois disseram que iríamos mudar para lá, mas agora parou tudo”, comentam.
De acordo com a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Paranaguá (SECOM), a manutenção do espaço é realizada pelo Executivo Municipal.
“No entanto, uma tratativa foi firmada, em gestões anteriores, na qual ficou estabelecido, por meio de um acordo, que o Governo do Estado seria responsável pela execução da obra da construção de um novo Mercado do Peixe”, diz.
A SECOM também informou que “como as obras de responsabilidade do Governo do Estado, iniciadas em 2016 e, na época, com previsão de 24 meses, foram interrompidas em virtude da desistência da empresa contratada, o município ficou num impasse, pois, o acordo com o Estado está vigente e é necessário aguardar a conclusão da obra”.
Questionada a respeito da sensação de falta de segurança, denunciada pelos comerciantes, a Secretaria de Segurança informa que “atua com Rondas Ostensivas no local, assim como os demais órgãos de segurança”. Já sobre o trabalho que a mesma tem desenvolvido em relação às denúncias de prostituição nos banheiros e possível comércio de drogas no entorno, a Secretaria apenas diz que “em eventuais casos, a população pode acionar a Guarda Civil Municipal pelo 153”.