EXCLUSIVO: Beatriz Abagge afirma que processará o estado, após reconhecimento de tortura


Por Publicado 31/12/2021 às 07h36 Atualizado 16/02/2024 às 22h48

O JB Litoral havia publicado em seu site, nesta última semana, uma carta de pedido de desculpas enviada pelo secretário da Justiça, Família e Trabalho, Ney Leprevost, à Celina Abagge, uma das acusadas da morte de Evandro Ramos Caetano, em 1992, no caso que ficou conhecido como Caso Evandro.

No documento, o gestor estadual assumiu que não há como negar que houve torturas, lamentou o ocorrido e pediu desculpas em nome do estado do Paraná.

Uma das partes da carta que mais repercutiu, inclusive subindo novamente a tag #os7inocentesdeGuaratuba, está na própria fala do político em que ele diz que se for do interesse dos réus no processo, será possível solicitar reparação do estado pelos graves crimes cometidos.

Em contato com a reportagem, Beatriz Abagge, filha de Celina e também vítima das torturas à época, explicou que o foco principal é anular as condenações. “Primeiramente, a gente tem que ganhar a revisão criminal. Nós pedimos a revisão para mim, para o Osvaldo Marceneiro e para o Davi do Santos, porque somos tidos como culpados até hoje”, explica.

Beatriz Abagge, que é filha do ex-prefeito de Guaratuba, Aldo Abagge, ressalta que há sim o interesse de ver o estado se responsabilizando por sua postura violenta e criminosa na tentativa de obter confissões daqueles que eram considerados culpados do desaparecimento do menino na cidade do Cristo – e que até hoje segue sem solução. “Após a revisão criminal, vamos buscar responsabilizar o estado. E, se isso não acontecer, a gente vai até a Corte Interamericana de Direitos Humanos”, ressalta ao falar que sempre esperou pelo reconhecimento da violência que sofreu.

7 réus buscam justiça


A personagem central da websérie Caso Evandro, também reforça que há unidade entre o grupo dos acusados e que houve graves erros no processo judicial. “Quanto a minha mãe, ela vai aguardar o resultado mesmo já podendo entrar com pedido de indenização, mas ela prefere juntamente com os outros para entrarmos de uma só vez. No nosso pedido de anulação das condenações, já foi feita a solicitação de indenização pelo erro judiciário”, explica.

Apesar de acreditar ser necessária essa reparação histórica, Beatriz Abagge elogia a carta enviada pelo secretário Ney Leprevost e afirma ser o reconhecimento aguardado por décadas. “É muito importante o estado se posicionar. É um marco histórico para mim. Eu acredito que nunca o governo voltou atrás em algum caso como o nosso. Uma história de repercussão e da gravidade do nosso, eu acho que é um marco histórico para o Paraná. Acredito que o secretário não agiu sozinho. Óbvio que a opinião dele é muito importante, mas acho que ele realmente teve o aval do governo, então eu falo que é um pedido de desculpas do estado do Paraná, porque o secretário falou em nome de todo o poder público. É realmente muito importante, é um marco histórico”, celebra.

Celina Abagge envia carta de resposta à Ney Leprevost

A matriarca dos Abagge respondeu a carta enviada ao secretário e afirmou que chorou ao receber finalmente o reconhecimento dos crimes cometidos há 30 anos. “Venho por meio desta, agradecer a Vossa Excelência, pela nobre carta que me enviou e que me encheu de alegria e lágrimas – pois seu conteúdo traz reconforto e esperança quanto às autoridades do meu estado do Paraná”, ressalta Celina.

Em outra parte, ela deixa claro que as marcas seguem vivas e que nada apagará o que ocorreu nos anos 90. “Desde o impacto inicial, com a violência indescritível ocorrida, sofremos (todos) imensas violações: violaram desde meu lar até meu corpo e integridade. Essas ondas tortuosas nos envolveram até o pescoço, quase nos afogando integralmente”, relembra.