Experimento criado por pesquisadores da UFPR Litoral já testou 80 servidores


Por Redação Publicado 17/01/2021 às 21h36 Atualizado 15/02/2024 às 18h35

Por Cleverson Teixeira

Desde o início dos testes da COVID-19, desenvolvidos por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral (UFPR), 80 pessoas participaram do experimento. O exame, que ainda não pode ser usado como fonte de diagnóstico, é restrito apenas a funcionários da instituição. Na primeira fase, realizada em novembro de 2020, foram testados metade do total. Outros 40 participaram do estudo no dia 12 de janeiro deste ano, data em que foi feita a primeira bateria de análises.

De acordo com o professor, pesquisador e coordenador do projeto, Luciano Fernandes Huergo, o objetivo é realizar as coletas com mais frequência. Ainda conforme ele, a universidade está trabalhando na ampliação do teste para atingir os estudantes. “Agora, é tentar tornar rotineiro esses testes e fazer uma bateria por semana ou a cada 15 dias, com umas 50 pessoas. A ideia é divulgar mais, colocando no site e começar a abrir para os alunos, porque, inicialmente, foram abertos apenas para os servidores”, disse o doutor em bioquímica.

Sobre a possibilidade de estender a testagem para a comunidade de Matinhos, região onde está instalado o campus da UFPR, Huergo afirmou que a equipe ainda é reduzida, sendo necessária a colaboração de outros profissionais que ajudem no processo. “Vamos ver se teremos pernas para isso, porque a equipe está limitada. Eu faço a coleta e, agora, entrou uma aluna que está começando o doutorado e está ajudando. O outro funcionário fica no laboratório. Então vai depender de podermos agregar mais pessoas. Temos condições de fazer, mas a equipe ainda é pequena”, complementou.

Como funciona o teste

Para a realização do exame, a pessoa precisa fornecer uma baixa quantidade de sangue. A coleta é feita por meio de uma lanceta semelhante ao de um aparelho que mede o nível de glicose dos diabéticos. Essa amostra, colhida pelo laboratório, é incubada com o antígeno viral, que é uma substância que gera anticorpos. Posteriormente, são feitas as lavagens e, em seguida, é usado um revelador, o qual altera a cor do material, caso a pessoa seja portadora do vírus.

“São coletados cinco microlitros de sangue. É uma gotinha bem pequena extraída do dedo. Em 11 minutos nós temos o resultado. É um teste bem rápido. Ele dá um dado quantitativo, que é um diferencial daqueles dados dos testes de farmácia, que é tudo ou nada. Aqui, pra saber se dá positivo ou não, a gente sabe mais ou menos quanto que tem de anticorpo”, revelou o pesquisador.

Eficácia

De acordo com Luciano, existem dois números que revelam a acurácia do teste, ou seja, que mostram a proximidade do resultado com o valor de referência real. Para explicar como funciona, ele citou um exemplo de um deles.” Um é chamado ‘Especificidade’, em que os números revelam que o teste dá algum falso positivo. Esse índice está acima de 99%.  Então temos menos de 1% de falso positivo. Aí, tem um outro número, que é chamado ‘Sensibilidade’. Ele aponta quantos positivos são pegos. Exemplo: tenho 100 casos de COVID-19 confirmados por PCR, meu teste acerta 90. Então a sensibilidade será de 90%, não chegando a 100%”, explicou.

Não serve como diagnóstico

O teste rápido, que tem um custo de produção de R$ 10, ainda não tem a autorização para fornecer diagnóstico. Conforme Huergo, os trabalhos estão apenas em fase de estudos. “Não conseguimos fazer com que o teste sirva de diagnóstico. Estamos trabalhando em caráter de pesquisa. Ele está hoje dentro de um comitê de ética de pesquisa. E é isso que informamos para as pessoas que testaram positivo”, disse o professor, o qual também afirmou que cerca de 5% dos servidores apresentaram indícios da doença durante as análises.

Para que o projeto desenvolvido pelos pesquisadores da UFPR se torne efetivo, é necessário que ele esteja dentro de todas as recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Um dos maiores obstáculos, segundo Luciano Huergo, seria mudar a estrutura do local onde são feitos os experimentos. “A dificuldade número um é a infraestrutura. Porque, caso fosse aprovado pela Anvisa, ele teria que ser produzido dentro de uma unidade que tenha uma certificação de boas práticas e fabricação. Precisa mudar a estrutura de piso, bancada, entrada do laboratório. E necessário possuir, também, a certificação de dedetização”.

Ideia da criação

O teste, considerado preciso e rápido, é uma adaptação do método padrão ouro para ensaios imunológicos, o Elisa tradicional. A ideia para a produção do exame surgiu logo no início da pandemia do coronavírus, na fase da falta de materiais para a realização da testagem. “A ideia veio quando estavam faltando insumos para os testes. Aí queríamos bolar algo que conseguíssemos fazer com a estrutura financeira disponível na universidade. Então, tive a ideia de copiar um teste padrão imunológico que já existiu”, pontuou.

Ainda de acordo com o docente da instituição, quando conseguiram desenvolver o experimento, houve a possibilidade de aprimorar o estudo nas questões de tempo dos resultados e na exatidão dos números. “Foram surgindo ideias e com o conhecimento que a gente já tinha, conseguimos criar um teste diferenciado e melhorado, com um tempo menor e uma acurácia um pouco maior que o teste imunológico padrão”, complementou.

Sobre a ajuda que recebem para manter a pesquisa, no final da entrevista o pesquisador registrou a colaboração de grandes instituições médicas de Curitiba com o projeto experimental. “Temos a participação de alguns profissionais de saúde, os quais nos forneceram amostras. Estão envolvidos principalmente os do Hospital de Clínicas (HC) e Hospital Erasto Gaertner”, finalizou.