Família acusa hospital de negligência pela morte de Josué em Antonina


Por Redação JB Litoral Publicado 01/05/2014 Atualizado 14/02/2024

Faltando dois dias para o domingo de Páscoa, a família de Josué dos Santos Xavier, recebeu a reportagem do JB, ainda muito consternada e inconformada pela perda precoce do irmão gêmeo de Maria, aos 27 anos de idade e um futuro inteiro pela frente. A certeza que, a demora no atendimento e, até mesmo o conjunto de uma possível negligência de médicos e enfermeiras, foi decisiva na causa da morte de Josué é consenso nos olhos e no coração de todos na família.

Mesmo com clima de tristeza e a dor da lembrança de volta à mente da matriarca, Janice dos Santos Xavier, o irmão Valdomiro dos Santos Xavier contou o drama que seu irmão viveu, ironicamente, a partir do dia 1º de abril, o Dia da Mentira, no hospital municipal de Antonina, na Avenida Conde Matarazzo.

Do sonho de uma paixão arrebatadora nascida entre as gôndolas do Hipermercado Condor ao pesadelo da queda ao mundo das drogas, a família estava por conseguir a recuperação de Josué, quando tudo aconteceu.

Segundo a família, Josué era um jovem sadio, trabalhador e apegado aos irmãos. Ele trabalhava com a cunhada Noeli Cordeiro Melo Xavier no Condor e, lá conheceu uma funcionária que se tornou sua namorada. Mas o romance acabou. Com isso, desmotivado, passou andar em más companhias que o levaram para as drogas. A família reagiu e foi recuperá-lo.

Valdomiro soube que Josué frequentava uma casa, onde havia um cachorro doente e foi retirá-lo do local. Porém, antes de retornar para casa, ele caiu numa valeta no Tucunduva, bairro onde mora a família, na sexta-feira (28) e, já no domingo, não conseguia comer.Na segunda-feira (31), seu estado piorou e passou cuspir sangue. Desesperados na terça-feira, 1º de abril, Dia da Mentira, a família levou para o hospital.

Mas quis o destino ele ter sido “visto” e não atendido, segundo a família, pelo médico clínico, Paulo Roberto Spercka. A irmã gêmea Pricila que também o acompanhava neste dia, disse não ter visto o médico checar seu coração, sentir seu pulso ou mesmo tocá-lo.

A visita se resumiu no diagnóstico visual que disparou “é virose” e deu as costas para Josué, receitando paracetamol e dimeticona, um medicamento que “atua no estômago e no intestino, diminuindo a tensão superficial dos líquidos digestivos, levando ao rompimento as bolhas que retêm os gases. Uma vez livres, os gases são facilmente eliminados por eructações ou flatos”.

Ou seja, um remédio para liberar os gases.  Na receita, a orientação de tomar 40 gotas quatro vezes ao dia.

Pele amarela e quatro diagnósticos

Com a receita para gases nas mãos, Josué voltou para casa e seu estado piorou. No dia seguinte a pele ficou amarelada, as dores nas pernas e panturrilha eram intensas e ele continuava não comendo. Na quinta-feira (3) a família não viu alternativa senão levá-lo de volta ao mesmo hospital e, por volta das 10hs30 ligaram para o telefone 192 pedindo uma ambulância porque ele não conseguia andar mais.

O atendente mandou que ligasse para o telefone 3442-1244 que, por sua vez, mandou a família ligar para o número 3432-1242 e, este orientou que ligasse para o 192. O jogo de empurra-empurra, segundo Valdomiro, fez a família entrar em desespero e somente por volta das 15 horas, a ambulância veio até a casa buscar Josué que estava totalmente debilitado. No hospital o médico de plantão mandou fazer exames para verificar o que era a cor amarela na sua pele e, nesse período Josué ficou numa cama, sozinho, sem soro e sem atendimento.

Amanheceu sexta-feira (4) e os exames mandados fazer estavam prontos, mas segundo Valdomiro, não havia quem os lesse, pois não havia médico no hospital pela manhã e tarde. Uma médica desconfiava ser hepatite e o Dr. Gerson diagnostico anemia profunda. “Nem precisa ser profissional para saber que ele tinha anemia profunda”. Sem saber o que era o problema de saúde do irmão, pois haviam diagnosticado com gases, Valdomiro buscou socorro na prefeitura. Lá não encontrou ninguém que o ajudasse.

De volta ao hospital falou com a enfermeira Daniele Roberta de Castilho, que o informou que o médico chegaria as 16 horas, mas ele chegou por volta das 18 horas. Num momento de nervosismo e implorando por informações sobre o estado de saúde de seu irmão, ao lado da família, eles ouviram da enfermeira Daniele que “ele só reclamava (Josué) de dor quando a família chegava”.

Isto revoltou a família. Por volta das 18hs30 chegou o secretário de Saúde José Luiz Velloso e, até aquele momento, ninguém tinha lido os exames feitos no dia anterior pela manhã. Somente neste momento que a pediatra Carmen, que estava no hospital, foi a única que acertou o diagnóstico e disse se tratar de suspeita de leptospirose. Isto fez o secretário de Saúde determinar imediatamente seu encaminhamento ao Hospital Regional do Litoral em Paranaguá.

Fim do sofrimento

Depois de quase 30 horas e sem a família saber a causa do problema de saúde de Josué, por volta das 22 horas, ele foi encaminhado para um quarto no Hospital Regional e Valdomiro ficou ao seu lado. Por volta das 5 horas ele ficou ser ar, o coração acelerou e, desesperado, pediu que Valdomiro lhe trouxesse água. O irmão fez mais que isso e correu para o setor de emergência e alertou o estado de Josué. Ao retornar, Valdomiro ouviu as últimas palavras do irmão. “Mano não estou mais aguentando, pede mais ar para mim”, disse Josué.

Neste momento ele foi levado para Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e, no trajeto, Valdomiro ainda o ouviu gritar “mano, mano”. Mas já era tarde demais e as 6hs30 a irmã gêmea Pricila, o irmão e a mãe Janice perdiam Josué para sempre. Revoltada pela perda de um jovem de 1,90 metro e com quase 100 quilos, a família denunciou o que considera negligência médica para o Ministério Público do Paraná (MPPR) que enviou o caso, segundo Valdomiro, para Delegacia de Polícia.

O objetivo é fazer com que se descubra os responsáveis pela morte de Josué e fazê-lo pagar com o rigor da justiça, para que outras famílias não sejam vítimas da mesma situação. Após o falecimento, a família disse que recebeu a visita do secretário de saúde e da enfermeira Daniele em casa. Na oportunidade ela cobrou postagens feitas pela família a respeito da morte de Josué e disse que Josué havia ficado por dois dias numa valeta. A afirmação revoltou a família que acusou a enfermeira de ser uma das responsáveis pela morte de Josué.   

O que diz o Secretário de saúde

A reportagem do JB ouviu o secretário de Saúde, José Luiz Velloso que, segundo informação do vereador Ademir Rodrigues, o Barroca do PRB, afastou o médico e abriu sindicância para apurar todos os fatos sobre a situação que resultou no falecimento de Josué Xavier.

De acordo com o secretário Paulo Roberto Speche é médico concursado do município e há anos trabalha no hospital de urgência e emergência. Ele disse que teve conhecimento do atendimento prestado ao paciente Josué dos Santos Xavier e esteve no quarto conversando com o paciente e seus familiares. O secretário desmentiu a informação sobre a demora de a ambulância busca-lo em casa. “A ambulância não demorou este tempo, aliás, nenhum atendimento demora mais do que uma hora para fazer o pronto atendimento”, assegurou José Luiz.

Sobre a enfermeira Daniele, o secretário informou que ela é credenciada e exerce a função de chefe de enfermagem no hospital.

O secretário disse ainda que, após o falecimento de Josué, esteve com a enfermeira Daniele e a psicóloga Ludiana na casa da família para conversar e fazer, o que na psicologia se conhece por acolhimento. “Em nenhum momento foi usado de qualquer tipo de forma verbal que não fosse de conversa. No facebook inúmeras mentiras foram contadas”, disse José Luiz.