Fernando Matarazzo esclarece polêmica sobre cortes de árvores na Praça Bino


Por Luiza Rampelotti Publicado 07/08/2020 Atualizado 15/02/2024
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Após uma denúncia pública, por parte da prefeitura de Antonina, afirmando que “um grupo de vândalos” havia cortado inúmeras árvores plantadas na Praça Setembrino da Costa Alves – Praça Bino, o mandante dos cortes, empresário Fernando Jerônimo Baptistete Matarazzo, conversou com o JB Litoral para se manifestar a respeito do assunto.

Moradores e profissionais da prefeitura tentaram impedir os cortes. Foto: Reprodução/Redes Sociais.

De acordo com a prefeitura, a atitude foi criminosa em relação à cidade e ao meio ambiente. “Alguns marginais cortaram as árvores, em flagrante crime ambiental, mas isso não vai ficar assim. Quem depredou este patrimônio que é de toda comunidade vai pagar”, afirmou o prefeito José Paulo Vieira Azim (PSD), Zé Paulo, que incentivou a população a denunciar novas ações.

Na terça-feira (28), ele informou, por meio de suas redes sociais, que estava no viveiro florestal do Instituto Água e Terra (IAT), em São José dos Pinhais, buscando mudas para substituir as que foram retiradas da Praça Bino.

A prefeitura destacou que, de acordo com a Lei de Crimes Ambientais e Infrações Administrativas (Lei nº 9.605/98), o ato de vandalismo é configurado como crime ambiental, e a penalidade cabível é para qualquer ato de destruição, danificação, lesão ou maus tratos, por qualquer modo ou meio, a plantas ornamentais de logradouros públicos ou, ainda, em propriedade privada alheia. “Já estamos tomando as providências jurídicas cabíveis”, ressaltou.

Cortes em área privada para reativação de ramal ferroviário

De acordo com Fernando Matarazzo, proprietário do complexo Matarazzo, em Antonina, que inclui um porto e o Ramal Ferroviário Itapema, que faz a ligação dos portos de Antonina à Estação Ferroviária da cidade, e passa pela Praça Bino, o corte de árvores foi realizado com o conhecimento da prefeitura.  

Segundo Matarazzo, a prefeitura já havia sido notificada sobre a poda, e a mesma aconteceu dentro de sua propriedade. Foto: Reprodução/EPTV

No começo do ano, o Zé Paulo esteve reunido comigo na Rumo, em Curitiba, junto com a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), para falarmos sobre o retorno do trem turístico, a Maria Fumaça, a Antonina. No final da reunião, ele disse: ‘pode contar conosco, falando pela prefeitura, e o que você precisar estamos à disposição para ajudar a reativar o ramal Matarazzo, o trem de carga e o trem de turismo’ ”, conta Fernando.

Porém, para dar seguimento ao projeto de reativação do ramal, ele informa que seria necessária a realização de algumas obras, de conhecimento da prefeitura e das secretarias municipais de Obras e Meio Ambiente. “As árvores que foram cortadas dentro da ferrovia, que é minha, estavam dentro de um projeto. Pela legislação ferroviária, não é necessária autorização para poda de árvores dentro do trecho ferroviário, e agimos dentro da lei e da ordem, com o conhecimento e a comunicação de todos”, diz.

Reativação do ramal irá gerar empregos

Para comprovar a afirmação, o empresário enviou à equipe do JB Litoral diversas cópias de documentos, desde recentes até antigos, que confirmam que os imóveis que constituem o ramal são de sua propriedade. Além disso, enviou anexos de processos judiciais ingressados contra a prefeitura devido à realização de obras de infraestrutura no local, sem a devida autorização de seus proprietários.

Ele diz enxergar com “estranheza” o fato de o prefeito se manifestar nas redes sociais com posicionamento contrário aos cortes, uma vez que, segundo ele, Zé Paulo já havia sido notificado a respeito das obras necessárias. “Zé Paulo está fazendo uma jogada política, pois existem pessoas contrárias à poda das árvores e, como ele já sabia que aconteceria, agora está afirmando que não sabia de nada e que a culpa é minha. Mas ele foi um dos primeiros a ser informado sobre os procedimentos necessários. Fico assustado de ver que, ao invés de termos auxílio do governo, temos uma barreira sendo gerada”, comenta.

Segundo Fernando Matarazzo, a reativação do ramal ferroviário irá gerar empregos, movimentar o turismo, pagar impostos e diminuir o fluxo de caminhões na cidade. “Não vejo prejuízo, algo que estava abandonado será novamente utilizado”.

Volta da Maria Fumaça

Ele comenta que a reativação do Ramal Matarazzo e do Ramal Antonina – Morretes está nos planos desde 2002, com o objetivo de trazer novamente à cidade os trens de turismo (Maria Fumaça) e os de carga. Agora, no começo de 2020, o empresário afirma que a ABPF também entrou em contato com a empresa buscando o retorno da Maria Fumaça aos trilhos do Paraná.

Em função do interesse da volta das litorinas ao município, Fernando afirma que esteve em reunião com o proprietário da Serra Verde Express, que opera os trens de passeio na Serra do Mar paranaense, e ambos estão realizando o projeto de reativação da Maria Fumaça. “A princípio, a litorina irá operar internamente, no Ramal Matarazzo, da Estação Municipal ao porto, aos sábados e domingos”, afirma.

Para a efetivação do retorno, ele comenta que é necessário que sejam cumpridas as leis, uma vez que a ferrovia se trata de uma área de segurança nacional e concessão federal. “Ali podem acontecer acidentes e mortes, já que uma locomotiva transporta cinco mil litros de óleo diesel e, se tombar, o derramamento de óleo contaminará a baía de Antonina. Por isso, não pode jamais haver um acidente, e a manutenção das passagens de nível, da sinalização, das podas das árvores e etc., que podem atrapalhar a visão do maquinista, têm o objetivo de contribuir para que algo assim nunca ocorra”, diz.

Volta dos trens de carga

Além disso, Matarazzo informa que há uma Ação Pública Federal, na Vara da Justiça Federal, em Paranaguá, a qual obriga a ALL (hoje sua sucessora, a Rumo) e a Matarazzo a reativarem o trecho ferroviário com a volta dos trens de carga. “Cada vagão de trem leva 100 toneladas e um caminhão leva, no máximo, 45 toneladas. Uma composição de trem são 50 vagões, então com o retorno dos trens de carga, são, em média, 100 caminhões retirados dos tráfegos das cidades, estradas, ruas e estacionamentos. E ainda o trem tem um horário de passagem fixo, ou seja, a segurança é muito maior, o controle também, e o barulho é muito menor. Só há benefícios na reabertura da Ferrovia Matarazzo em Antonina”, afirma.

Ele relembra que há 18 anos o trecho era utilizado com este objetivo. “Em 2003, possibilitamos o transporte de vergalhões de ferro e bobina de aço pelo ramal, os quais eram desembarcados no Porto Barão de Tefé, do governo, e eram transportados de caminhão até a Ponta do Félix, onde eram embarcados nos navios e iam embora. Desde aquela época, eu já havia bolado um projeto ferroviário, que desenvolvi e deu certo. Demos o direito de cessão de passagem à ALL, na época. Hoje, a empresa concessionária é a Rumo Logística”, relembra.

Fernando destaca que já existem conversações entre a empresa, a Rumo e potenciais clientes para que as cargas que passarem pelo trecho sejam transportadas pelos trens e sigam para o interior do Paraná, Mato Grosso, São Paulo, Santa Catarina e demais estados onde houver interesse e necessidade.

Quero deixar claro que o trecho do ramal é uma propriedade privada, com escritura no cartório de registro de imóvel de Antonina. A ferrovia não paga IPTU para a prefeitura porque é uma área de utilidade pública, de concessão federal. A ferrovia Matarazzo é a única privada do Brasil, ou seja, os trilhos, o terreno e a concessão são particulares”, conclui o empresário.

O JB Litoral procurou o prefeito de Antonina, por meio da assessoria de imprensa do Executivo, para que se manifestasse sobre a situação. Segundo o Poder Municipal, o fato foi informado aos órgãos ambientais e a prefeitura entrou com representação junto ao Ministério Público para que sejam tomadas as providências cabíveis.

A prefeitura de Antonina não foi notificada sobre o corte de árvores na Praça Bino”, conclui.