Formação em Saúde Coletiva é fundamental para auxílio no combate ao coronavírus


Por Luiza Rampelotti Publicado 13/04/2020 às 16h28 Atualizado 15/02/2024 às 09h03
Estudantes do Curso de Saúde Coletiva da UFPR

Quando uma pandemia, como a do novo coronavírus (Covid-19), se alastra pelo mundo, uma das necessidades urgentes é, obviamente, o desenvolvimento de uma vacina ou tratamento específico, além da adoção de medidas eficazes de combate à disseminação do vírus. O conhecimento científico é o aliado número um para resolver todas essas questões.

No Litoral do Paraná, um dos cursos de graduação que prepara os alunos para momentos como este é o de Saúde Coletiva, no Setor Litoral da Universidade Federal do Paraná, em Matinhos. Ele funciona desde 2009 e já oportunizou a formação de 119 bacharéis em Saúde Coletiva, também conhecidos como Sanitaristas.

Com o propósito de consolidar e fortalecer o campo da saúde coletiva, o curso enfatiza o compromisso ético, social e sanitário, preparando o profissional para atividades como gestão e avaliação de serviços e ações de vigilância à saúde; saúde ambiental; promoção da saúde e prevenção e controle de doenças e agravos. Os Sanitaristas são imprescindíveis para a realidade complexa da saúde no Brasil, pois atuam na promoção e recuperação da saúde, assim como na prevenção de doenças das coletividades.

De acordo com o coordenador do curso de Saúde Coletiva da UFPR Litoral, professor Roberto Eduardo Bueno, os alunos/egressos recebem conhecimentos que podem auxiliar no combate ao coronavírus. “Eles podem utilizar os conhecimentos da Epidemiologia, das Ciências Sociais em Saúde e da Gestão em Saúde para atuarem nos serviços públicos de saúde. E, também, pela educação e comunicação em saúde por meio de medidas efetivas de combate à pandemia da Covid-19 direcionadas à nossa população”, explica.

Para ele, o curso tem importância fundamental para o desenvolvimento saudável do Litoral do Paraná. “A saúde da população é imprescindível para atrair investimentos no turismo sustentável e para a economia regional, especialmente neste momento de pandemia”, diz.

Condições de vida e transmissão de doenças

O professor Roberto destaca que diversos estudos de monitoramento das condições de vida e situação de saúde, desenvolvidos em vários países, mostram a importância da abordagem da Epidemiologia Social e Ambiental na investigação do risco do lugar onde as pessoas vivem e trabalham nos resultados de saúde. Ou seja, os estudos demonstram quais comunidades estão mais suscetíveis a desenvolverem doenças e serem contaminadas.

Uma dessas pesquisas identificou que existe uma forte influência nas possíveis decisões das mães em viver em um determinado município pelas condições necessárias na criação de seus filhos, tais como, acesso aos serviços, moradia digna, recreação, transporte e trabalho”, diz. Ele explica que essa preocupação das mães reflete a importância da compreensão da relação entre lugar e saúde coletiva.

De acordo com o professor, as comunidades do Litoral do Paraná que apresentam baixos índices de desenvolvimento social e econômico, com moradias precárias, baixa oferta de serviços de educação, saneamento básico e saúde, possuem as maiores taxas de mortalidade na infância em comparação às regiões mais ricas. “Dessa forma, temos que investir no desenvolvimento social, econômico e ambiental para que as pessoas que vivem no nosso Litoral possam ter mais saúde e, com isto, possamos alcançar um verdadeiro desenvolvimento saudável e sustentável”, comenta.

Ele destaca que, especialmente no momento atual, o investimento em desenvolvimento é necessário. “As pessoas que vivem em moradias precárias e em aglomerações estão mais suscetíveis na disseminação da dengue, por exemplo, e também do coronavírus entre seus familiares e nas suas comunidades locais”, afirma.

Importância do isolamento social

O professor esclarece, também, que as pesquisas realizadas em outros países, que já estão em contágio mais avançado da disseminação do coronavírus em relação ao Brasil, evidenciam a necessidade de isolamento social precoce de toda a população. “A medida é necessária para que possamos diminuir a intensidade de contágio entre as pessoas e, assim, não sobrecarregarmos os serviços de saúde. Nos países em que houve a demora no isolamento social das suas populações, estes serviços entraram rapidamente em colapso, com a falta de leitos para atendimento dos casos mais graves”, informa.

Por isso, ele destaca a importância de se ter profissionais Sanitaristas que trabalhem com a gestão e promoção em saúde e prevenção de doenças, “para que não ocorra a sobrecarga dos serviços de saúde durante um determinado período de pandemias, como a que está ocorrendo atualmente, ou de outras que ainda poderão surgir”.

Roberto revela que estudos demonstram que a causa de epidemias e pandemias, que estão acontecendo, se dá devido a destruição de florestas, uma vez que estas são os habitats naturais de hospedeiros que abrigam diversos vírus. “Outra causa é, também, as mudanças climáticas que acontecem de forma mais severa atualmente, alterando o equilíbrio dos ecossistemas no nosso planeta”, diz.

Segundo ele, é o momento de a população aprender que, para ter saúde individual e coletiva, a natureza necessita ser preservada. “Assim poderemos ter vida saudável em uma sociedade mais solidária, por meio do equilíbrio e justiça social e da proteção da biodiversidade do nosso planeta Terra”, conclui.