Francisco e pesquisadores apresentarão projeto de censo de roedores em Portugal


Por Redação JB Litoral Publicado 16/04/2014 às 21h00 Atualizado 14/02/2024 às 01h39

Alagoano de nascimento e parnanguara por opção e amor, o professor Francisco Xavier da Silva de Souza, 52, representando seu grupo de pesquisadores, composto por mais três professores da rede pública de ensino, apresentará nos dias 21 a 24 deste mês, estudo do censo de roedores de Paranaguá, no 1º Congresso de Geografia da Saúde dos Países de Língua Portuguesa, promovido pela Universidade de Coimbra, em Portugal.

Bastante humilde e com um profundo conhecimento de sua área, Francisco já desenvolveu um projeto de reutilização da água de chuva que foi premiado pelo Ministério do Turismo em 2010.

Pai de Fabio (30), Beatriz (20) e Geovana de apenas 10 anos, Francisco sempre estudou na rede pública de ensino e, hoje, é licenciado em Geografia pela Isulpar, especialista em Geografia e Meio Ambiente pela Isulpar, especialista em Gestão Ambiental pela Isulpar e pós graduando em Sustentabilidade e Gestão Ambiental pela Universidade Tuiuti de Curitiba. Nesta entrevista exclusiva ele fala um pouco de sua farta experiência profissional e trabalho de pesquisa.

 

JB – O que motivou seu interesse justamente na área ambiental?

Francisco – Sou técnico de formação em Saneamento e formação profissional químico, que é um curso voltado para química, recursos hídricos, bacia hidrográficas, afinal, isso depende dos recursos naturais para ter água. E para ter água tratada você precisa conhecer os recursos naturais e como estava no tratamento de água e esgoto, foi isso que me motivou e me fez ainda fazer o curso de geografia. Por entender que o curso de geografia me possibilitaria ter um melhor e maior conhecimento e assim poder explorar os recursos hídricos, produzir uma água tratada de melhor qualidade e desenvolver sistema alternativo de esgoto. O curso de geografia me abriu um horizonte e, com ele, vou ter a capacidade de desenvolver um sistema de capacitação de água e esgoto alternativos que possa atender comunidade, onde o Poder Público não consegue. Foi assim que vim para a geografia, foi com essa visão. Em 2005, no primeiro ano como acadêmico de geografia, desenvolvi dois projetos, um deles, foi um sistema de tratamento e captação de água da chuva.

 

JB – Foi este projeto que teve repercussão nacional?

Francisco – Sim. Inclusive recebemos um prêmio do Ministério do Turismo em Brasília. Foi um prêmio das Melhores Práticas dos 65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turístico Regional – Estudo de Competitividade 2010. O Ministério do Turismo considerou, exclusivamente, as práticas vinculadas às 13 dimensões que compuseram o Estudo de Competitividade, e os projetos foram divididos e analisados em capitais e não-capitais. Ganhamos a premiação na condição de não-capital na categoria “aspectos ambientais” através do nosso projeto “Reutilização de água da chuva na Ilha do Mel”, que fizemos através da Companhia de Água e Esgoto de Paranaguá (Cagepar) em parceria com Instituto Superior do Litoral do Paraná (Isulpar).

 

 

JB – Como surgiu este projeto premiado nacionalmente?

Francisco – Teve um professor muito amigo meu, o Francilino, que em 2005 ou 2006, ele foi pedir à Cagepar que alguém o orientasse desenvolver um sistema de água da chuva de uma escola. Na época, a diretoria da empresa disse a ele que eu era a pessoa que podia ajudá-lo. Aí o Francilino pediu esse projeto. Pesquisei por dois anos para entender a sua necessidade. Assim fui ao nordeste, onde existe muito desse sistema, em função da seca eles usam sistema para armazenar água. Fui para Pariconha, Mata Grande, Canapi para aprender como se faz o sistema, levei um ano para aprender. Desenvolvi todo o projeto e quando estava quase pronto e apresentei o custo de R$ 5 mil para implantação, ele falou que o Estado não tinha como arcar. Aí ele perdeu o interesse pelo projeto, mas dei sequência por que tinha que conclui-lo. Na época, coincidiu com o verão e a Ilha do Mel passava por uma escassez muito grande, apresentei na Cagepar. A empresa se interessou e me ajudou na conclusão do projeto. Começamos com um sistema piloto, por que na Ilha do Mel já existia esse sistema e o nosso aperfeiçoou e melhorou o sistema já existente. Implantamos em cinco pousadas como modelos, fizemos algumas adaptações, aí decidimos mandar o projeto para o Ministério do Turismo e fomos premiados.

 

JB – Você também desenvolveu um projeto de sistema de esgoto?

Francisco – Exatamente, fizemos paralelo a esse, em 2006, começamos desenvolver um sistema de esgoto, que foi mais demorado. Porque você trabalha com a fitorremediação, que é estudar as plantas que vão se adaptar a determinadas ares para fazer a recuperação dos solos ou de recurso hídricos. Na época pedi ajuda para a Fafipar, aos alunos do curso de Biologia e a professora Iara me abriu as portas. Pegamos oito alunos e começamos a estudar as plantas. Identificamos aqui no litoral, cinco espécies que podíamos utilizar para tratamento de esgoto. Entre montar o projeto e pesquisa, levamos cinco anos para chegar à espécie. Foi aí que chegamos à bananeira e montamos um projeto piloto também na Ilha do Mel. Usamos a bananeira, que é um fitorremediador, então toda contaminação do esgoto, a bananeira vai fazer a depuração e mineralizar a matéria orgânica.

 

JB – Como está o seu estudo dos alagamentos na cidade?

Francisco – Dentro do saneamento, onde estudamos a legislação em 2007, e agora o saneamento ambiental, você trabalha com cinco produtos, que é o tratamento de água, tratamento de esgoto, drenagem urbana, resíduos sólidos coleta e controle sobre vetores. E como a minha área é o saneamento, parti para o quinto item controle sobre vetores. Nós já temos controle de esgoto alternativo, estamos desenvolvendo sistema de tratamento de água, sistema de drenagem urbana, então partimos para a leptospirose e por quê?  Porque nestes sete anos de pesquisa, comecei perceber que Paranaguá passa por 43 alagamentos por ano. Mas você só observa da importância, quando não consegue circular. Quando você começa não poder andar pelas ruas, porque está tudo alagado. Aí nos perguntamos, quando a cidade alaga? Qual é o momento? Ora, quando você pisa no asfalto e já molha seu calçado, você já está expondo sua saúde ao risco. Como o nosso sistema de esgoto é misto, não é unitário, é claro que naquele momento, em função da chuva, o tratamento biológico ou convencional vai ficar comprometido. Como um dos eixos do saneamento é controle sobre vetores, vamos estudar quais são as doenças mais comuns na cidade, em função dos alagamentos. Tenho mapeado de 2005 até 2013, uma média 38 a 44 alagamentos por ano. Isso é constante.

 

JB – Qual o principal perigo que os alagamentos trazem a saúde?

Francisco – Certamente, a leptospirose. Identificamos que em janeiro, fevereiro e março são os casos mais expressivos de alagamento, onde a cidade alaga com maior intensidade. Aí começamos a identificar quantos casos de leptospirose existem por ano, para ver se Paranaguá está dentro da média nacional ou não. Felizmente está abaixo da média nacional. Assim começamos identificar aonde que ocorre com maior intensidade, fizemos um mapa da região que mais alaga, pegando do Aeroparque e fizemos um quadrante, pegamos as avenidas Roque Vernalha e a Avenida Ayrton Senna como divisor. Airton Senna subindo para o centro e a Roque Vernalha. Vimos que são 16 pontos que a cidade alaga constante. Hoje se ocorrer uma chuva de sete milímetro em 40 minutos, você não anda mais nas ruas. Quando comecei a pesquisar, em 2005 e até 2007, era necessário em torno de 28 milímetros e, hoje, é de sete. E o que fizemos? Como temos 16 pontos que alaga, onde circulam os trabalhadores, fomos estudar as doenças. Identificamos uma média de seis a oito casos de leptospirose por ano. E qual é o período? Dezembro, janeiro, fevereiro, março e abril, quando a cidade alaga. Estudamos durante três anos a leptospirose.

 

JB – Foi assim que nasceu o estudo do censo dos roedores?

Francisco – Exatamente. Fomos estudar o agente da leptospirose, que são as ratazanas. Fomos ver onde elas estão morando e começamos mapear onde está a maior concentração de ratos. Viemos contando do porto sentido Jardim Samambaia, fazendo uma varredura com GPS, tentando identificar, mapeamos alguns pontos que era interessante e chegamos a uma conclusão parcial, que será apresentado no 1º Congresso de Geografia da Saúde dos Países de Língua Portuguesa, promovido pela Universidade de Coimbra, em Portugal, do dia 21 a 24 deste mês. A população de ratos, roedores, eles se concentram nas vias de acesso, mas onde tem o maior número de roedores é nas margens de canais das marés, Rio do Chumbo e canais do Sabiá, Labra, Bertioga, Jardim Esperança e Vila Garcia. Nestes pontos se encontram a maior concentração de roedores, por encontrarem alimento em grande quantidade. Nas vias de acesso ao porto Dom Pedro II, Airton Senna, Bento Rocha e a ferrovia, hoje, você tem 354 gramas de cereais por metro quadrado jogado na rua. Essa quantidade de cereais, levando em conta que uma ratazana come 15 gramas, você tem, por metro quadrado, alimento disponível para 24 ratos. Os casos confirmados de leptospirose existente hoje estão dentro da média, mas tem um, porém, a doença ela é mal diagnosticada em função do seu quadro clínico. A leptospirose em si é o estado tardio da doença. Isso dificulta a área médica para fazer o diagnóstico, a leptospirose tem esse implicador. A doença está com controle, você tem entorno de sete ou oito por ano é normal numa cidade portuária. O que não é normal é o número de ratazanas que chegamos a contar, hoje, em Paranaguá, temos uma população de 1,4 milhão de ratos, ou seja, temos 14 ratos para cada habitante. Já identificamos 12,4 mil tocas visíveis na cidade.

 

JB – Você sempre se referiu no plural, afinal quem somos nós?

Francisco – Todo esse trabalho não é somente do professor Francisco, pois somos uma equipe de pesquisadores, todos oriundos da rede pública de ensino. Somos um grupo de professores pesquisadores que é Marcio, professor de geografia, outro Francisco, meu xará que também é professor de geografia e o Rafael que é biólogo. Esse trabalho dos roedores que iremos apresentar em Portugal foi feito de forma conjunta e unida. Dividimo-nos em grupos e começamos fazer a contagem. O Rafael estudou o comportamento dos ratos, o Márcio trabalha na parte de fazer os mapas, tanto das doenças e onde estão localizadas as tocas e Francisco, como ele já é formando em segurança do trabalho, estuda mais essa questão em relação, tanto na contagem dos ratos como na parte de ver onde está essa população. Tem ainda mais duas pessoas que são fundamentais para o nosso trabalho, que a Isabelle Antoniacomi do setor de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde, que nos apoia nas informações e Taiane Galvão, diretora de departamento de Saúde Ambiental da Vigilância Sanitária. As duas são fundamentais para o nosso grupo, as informações são elas que nos fornecem e, algumas sobre o comportamento de roedores e as doenças, tanto a Isabelli como a Taiane têm nos dado todo apoio. Sempre que precisamos delas, nos atendem de braços abertos.