Gás metano é encontrado em Complexo Estuarino de Paranaguá por pesquisadores da UFPR


Por Marinna Prota Publicado 25/08/2021 às 09h21 Atualizado 16/02/2024 às 11h08

As ondas de calor registradas nos últimos anos pelas instituições meteorológicas mostram que o clima da terra está mudando. No litoral, Antonina chegou a ter uma sensação térmica de 81 °C, em dezembro de 2018, de acordo com o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar). Um dos motivadores do aquecimento global é justamente o gás metano, que, conforme registros do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU), tem uma concentração maior na atmosfera em 2021 do que nos últimos 800 mil anos.

Na última semana, pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), por meio do Centro de Estudos do Mar (CEM), divulgou um estudo que comprova a presença de uma grande quantidade desse gás no Complexo Estuarino de Paranaguá. A pesquisa foi publicada na revista científica Geo-Marine Letters e integra o projeto “Panorama Histórico e Perspectivas Futuras Frente à Ocorrência de Estressores Químicos Presentes no Complexo Estuarino de Paranaguá (EQCEP)”.

Segundo um dos autores do artigo científico, João Fernando Pezza Andrade, grande quantidade de matéria orgânica é carregada pelos rios. “Uma vez depositada nos sedimentos, essa matéria orgânica sofre decomposição por microrganismos, gerando o gás metano”. Ele é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Costeiros e Oceânicos da UFPR e, junto com outros pesquisadores, identificou a presença do gás.

Como foi descoberto
Pesquisadores encontraram uma grande quantidade de gás metano nas águas do Estuário de Paranaguá. (Reprodução estudo UFPR)

A tecnologia utilizada no estudo aproveita ondas sonoras para identificar a presença do gás nos sedimentos, embaixo da água. Os pesquisadores utilizam equipamentos que emitem ondas sonoras e registram o tempo que leva entre a onda sair do equipamento, refletir em uma superfície (por exemplo, o fundo da baía) e voltar para o equipamento.

A técnica é similar à utilizada pela estatal Petrobrás, para descobrir depósitos de óleo no Pré-Sal. “A presença de gás nos sedimentos modifica a trajetória de deslocamento das ondas sonoras, deixando verdadeiras assinaturas sísmicas nos perfis que estudamos”, destaca João. Na literatura, tais assinaturas encontradas em regiões costeiras submersas são comumente associadas ao gás metano.

Paranaguá está contaminada?

Apesar de os resultados indicarem a presença de gás metano nos sedimentos, ainda não é possível afirmar que ele está escapando e chegando até a atmosfera. Além disso, também não se sabe a fonte de origem do gás, que pode ser tanto por questões naturais como por ação humana, como o depósito de dejetos nas águas.

Renata Hanae Nagai, coautora do trabalho, afirma: “Há outras questões que precisam ser exploradas, como o efeito das intervenções humanas, a realização de dragagens e outras obras de intervenção costeira, na emissão desse gás nas regiões estuarinas”.